quarta-feira, 16 de agosto de 2017
Nu (Naked)
"Nu" (1993) dirigido por Mike Leigh (Sr. Turner - 2014) é uma obra-prima sombria, niilista, sarcástica, um mergulho profundo nas angústias humanas. Causa mal-estar, mas é exatamente esta sensação que faz com que sintamos a vida, é necessário saborear o amargor do cotidiano. O título já diz: Nu, a natureza humana cru e destrinchada.
O filme é uma obra em movimento. David Thewlis interpreta um homem sem lar e sem perspectivas que estupra uma mulher e foge, invadindo e mudando os rumos das vidas de várias pessoas que encontra. Thewlis vira carrasco, bálsamo, incitador, vítima, dependendo de quem cruza seu caminho. Parece um anjo/demônio boêmio que vem para provocar reações. Sua rudeza com uma mulher de meia-idade que se exibe na janela contrasta com seus conselhos metafísicos para o vigilante que a olha. Nu despe o espectador de qualquer procura por coerência narrativa. O que importa aqui é investigar almas.
O filme inicia com Johny estuprando uma mulher em um beco, logo ele rouba um carro e foge para Manchester, lá vai para casa de Louise, sua ex-namorada (Lesley Sharp), quem o recebe é Sophie (Katrin Cartlidge), a amiga que divide o apartamento, uma moça tão vazia quanto ele, os dois discutem sobre algumas coisas e Johny a encanta com seu charme, já sua ex precisa enfrentar seus sentimentos por ele, pois Johny é um ser humano extremamente ambíguo. A relação entre os três se torna um caos total e Johny sai pela cidade, uma Londres sombria e decadente, encontrando figuras peculiares. Ele perambula entre ruelas e becos e nessa sua caminhada soturna se depara com pessoas tão perdidas quanto si, discute e desafia a todos, em especial quando encontra o vigia de um prédio que vendo-o no frio o convida para entrar e vagueiam pelos corredores enquanto o homem diz sobre seu tedioso trabalho, nesta parte o contexto crítico da sociedade inglesa é desnudada e os conflitos da existência são expostos com tanta crueza que dificilmente não nos identificamos, a falta de oportunidade, a solidão, o desespero, todos sintomas instáveis e cruéis.
Johny na maior parte do tempo exibe uma faceta cínica, irritante e medonha, mas em determinadas partes podemos enxergar sua delicadeza, na verdade, vulnerabilidade, já que é completamente só, pois toda relação que tenta construir sofre pelo choque de ideias, ele é um poeta marginal, ou apenas um falador que dribla e pisa em cima da falsa felicidade cotidiana, e por conta disso é afogado pela angústia.
Johny na maior parte do tempo exibe uma faceta cínica, irritante e medonha, mas em determinadas partes podemos enxergar sua delicadeza, na verdade, vulnerabilidade, já que é completamente só, pois toda relação que tenta construir sofre pelo choque de ideias, ele é um poeta marginal, ou apenas um falador que dribla e pisa em cima da falsa felicidade cotidiana, e por conta disso é afogado pela angústia.
Johny incomoda porque ele provoca reações nas pessoas, elas são obrigadas a pensar em suas próprias vidas, de olhar para o próprio vazio e encarar a desesperança, há um misto de admiração e desprezo por ele, um ser verborrágico que ao mesmo tempo instiga e causa repulsa. O filme prima por diálogos impactantes e é indigesto por evidenciar sentimentos dolorosos. Para refletir sobre a existência realmente é necessário que se esteja nu.
"Veja, Brian, é que Deus é um Deus de ódio. Tem que ser... porque se Deus fosse bom, por que há o mal no mundo? Por que há dor, ódio, ganância e guerra? Não faz sentido. Mas se Deus for um sacana cruel, então pode dizer, 'Por que há o bem no mundo? Por que há amor, esperança e alegria?'. Vamos falar sério. O bem existe para ser esculhambado pelo mal. A existência do bem permite o mal crescer. É isso, Deus é mal."
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É um filme de Mike Leigh que ainda não assisti.
ResponderExcluirAbraço