sábado, 21 de janeiro de 2017

A Vida em um Aquário (Vonarstræti)

"A Vida em um Aquário" (2014) dirigido pelo islandês Baldvin Zophoníasson (Órói - 2010) é um bom drama que carrega várias histórias entrelaçadas, a trama é muito bem construída, porém não há nada que surpreenda, é simples e despretensiosa.
Inspirado em fatos reais na Islândia, descreve três mundos diferentes que colidem violentamente. Mori (Thorstein Bachmann), escritor com problemas com a bebida, Eik (Hera Hilmarsdóttir), uma jovem mãe solteira que trabalha em uma creche e Sölvi (Thorvald David), um ex-jogador de futebol que vê sua vida familiar desmoronar debaixo dele.
Os três protagonistas são interessantes e agregam para a história, Eik trabalha em uma creche, tem uma filha, mas também trabalha como prostituta de luxo para conseguir pagar dívidas, a vemos sempre com um semblante triste e preocupado, Mori é um escritor talentoso com um passado trágico que o atormenta, ele isolou-se e diariamente embebeda-se. Sölvi, depois de largar a profissão de jogador de futebol, se envereda no ramo de investimento bancário, ele é casado e tem uma filha. Ao longo vamos conhecendo-os melhor e em algum momento eles vão se cruzar, trazendo um ar de esperança à trama, especialmente, a relação de amizade que se inicia entre Mori e Eik, um poeta bêbado com uma jovem prostituta, existe uma carência paternal nela e nele um desejo de ser pai, pois Mori perdeu a filha de uma forma trágica, já a relação de Eik com a família é tensa e distante, tudo se explica ao final. Sölvi tem tudo para ser feliz, uma linda mulher, uma filhinha, bens materiais, fama e agora um emprego no banco, mas após saber que precisará viajar para Flórida, uma viagem de luxo num iate cheio de prostitutas e drogas, a relação com a família perde a força e Sölvi começa a repensar sua vida, ele é um ser humano honesto, mas que agora habita em um território permeado de fraudes. Neste meio tempo encontra com Eik que está trabalhando neste iate, entre eles dois a relação não é apenas sexo, há uma troca de afinidades instantânea e que balança a estabilidade de Sölvi. 
O filme causa empatia e percebemos o quanto o acaso pode transformar nossas vidas, o encontro entre pessoas e o compartilhamento de sofrimentos que se transformam em instantes únicos e duradouros. Com ótimas interpretações, cenas belíssimas e diálogos marcantes, principalmente entre Mori e Eik, e mais ainda quando recita as suas poesias cheias de encanto, amargura e solidão.

"Estou dilacerado, caído no lado sombrio, na metade do caminho e a alma mergulhada no moleiro. As árvores vertem lágrimas, as pedras sangram, o frio morde as feridas. Mas o vento silva. Talvez o bloco de gelo seja reflexo do meu eu suspenso. Minhas mãos nunca tão vazias, minha língua nunca tão silenciosa. Eu fito ainda através do gelo e o verde está na raiz. E eu olho pra você, esperando o gelo partir."

"A Vida em um Aquário" é fascinante por colocar três personagens com problemas díspares que se colidem e que de alguma forma transformam seus destinos. Retrata a crise econômica, a ganância dos grandes, relações familiares conturbadas, segredos, hipocrisias e dolorosas feridas que precisam ser cicatrizadas para seguir adiante. 

3 comentários:

  1. Legal, mais um filme que eu não conhecia.

    A questão do personagem que provavelmente afunda por causa de um investimento bancário está ligado a crise financeira que a Islândia enfrentou anos atrás quando quase foi a falência por causa de um esquema de investimento fraudulento que lesou milhares de pessoas.

    Abraço e um ótimo domingo.

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  2. Filme emocionante e lindíssimo mas que de forma alguma merece os títulos que recebeu no Brasil e nos EUA: "A vida em um aquário" ("Life in a fishbowl"). "Vonarstraeti" em português é "rua da esperança". Que esperança tem um peixinho num aquário? No entanto esperança é o sentimento do filme. Aceito 90% dos dados que meu catálogo de filmes, EMDB, traz do IMDb, mas esse tive que mudar.

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  3. Quando a história dos personagens de Eik e Mori surgiram, fiquei impressionado, deixemos os julgamentos para depois, a vida não é fácil, principalmente quando há cicatrizes abertas. Eik de certa forma tentou preencher o lado amoroso, sem sucesso.
    De certa forma, o filme terminou com um pouco de esperança.

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