terça-feira, 27 de outubro de 2015
Carteiros nas Montanhas (Nashan Naren Nagou)
"Carteiros nas Montanhas" (1999) dirigido pelo chinês Jianqi Huo é um lindo filme sobre a difícil relação entre pai e filho. Baseado no conto homônimo de Peng Jianming, a história retratada é sutil, simples e encantadora, uma obra de arte delicada e deveras preciosa.
Quando um velho carteiro (Ten Rujun), que passou anos entregando cartas nas comunidades rurais da montanha de Hunan, está para se aposentar, começa a treinar seu jovem filho (Ye Liu) para substitui-lo em sua função. O pai o acompanha então na primeira viagem de trabalho deste, que é também sua última. É a primeira vez que passam tanto tempo juntos, não separados pelas longas viagens do pai, e têm tempo de reforçar seus laços afetivos, pensar em suas relações familiares, e no passado.
O pai trabalhou a vida toda entregando cartas às pessoas, uma profissão exaustiva, mas que dava a ele uma imensa alegria, todos têm muito carinho e sempre o recebe como se fosse da família, porém nesses anos deixou de estar presente em sua própria família, não viu seu filho crescer e agora precisa passar todo seu conhecimento para alguém de confiança, está doente e não mais consegue trabalhar, o escolhido é o filho, este que ao decorrer vai se aproximando do pai e entendendo as circunstâncias da vida. O orgulho pelo pai e a admiração pelo filho vai crescendo e nós ao mesmo tempo que sorrimos derramamos também lágrimas.
São cenas dotadas de sensibilidade a fim de nos emocionar e capazes de fazer com que olhemos para dentro de nós e percebamos a nossa própria relação com nossos pais. O filho julgou muito o pai por sempre ter sido distante, mas durante a viagem que dura três dias passando pelos povoados compreende o quanto esse pai foi esforçado ao se sacrificar para dar uma vida digna para a família. Somos presenteados por vezes pelos pensamentos dos dois, o filho pensando sobre sua infância e o pai lembrando de como doía a saudade que sentia toda vez que partia.
O filme passa uma mensagem muito significativa, nos permite olhar por ângulos diferentes dessa relação, e o mais lindo é saber que ao final, a gratidão, um do mais nobres sentimentos vem à tona. Nesta viagem não só a relação se faz difícil, mas também o caminho, são obstáculos complicados e o jovem ainda não sabe lidar com a situação, ele não conhece e não se dá bem com a solidão, já o pai se sente confortável com sua solidão, sendo sua única companhia seu cachorro, um pastor inteligentíssimo que o ajuda muito.
A paisagem deste filme é algo divino, filmado no sudoeste e sul de Hunan, uma parte se passa numa aldeia do povo Dong, incluindo um festival à noite com uma dança lusheng. As belezas estão em todos detalhes, principalmente nos olhares e silêncios, não tem como não mencionar a cena no rio em que o filho carrega o pai nas costas e lembra que quando era criança pensava que ele era grande, mas que agora que cresceu e seu pai envelheceu percebe o quão pequeno é. E enquanto está sendo carregado relembra de quando ele carregava o filho.
São pequenas reflexões que portam uma força e tanto, repensamos na relação de pais e filhos e na distância que existe, sempre é bom lembrar que os filhos demoram olhar para os pais como seres humanos cheios de defeitos e qualidades, e que a vida os obrigou a fazer escolhas como qualquer outra pessoa. Quando o filho senta e conversa com seu pai, e este lhe confidencia momentos importantes de sua vida, ele acaba se tornando um alguém melhor, ele deixa de ser um menino para se tornar um homem.
Exercer a profissão de carteiro naquela região é muito mais do que somente entregar cartas, é criar relações próximas de afeto. A cena em que o pai o faz ler uma carta para uma senhora cega, compreende-se a importância de seu trabalho.
"Carteiros nas Montanhas" é primoroso, sua trilha sonora transcendental cria uma atmosfera de calmaria propícia à reflexão. Um filme encantador e enriquecedor, uma poesia audiovisual.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Mais uma ótima dica sobre um filme que eu não conhecia.
ResponderExcluirAté mais
Belo e delicado filme mostrando os costumes e tradições do interior da China contemporânea a partir do trabalho de um carteiro que , ao se aposentar, ensina ao seu filho o caminho nas montanhas e as histórias dos aldeões que dependem dele para se comunicarem com seus parentes distantes.
ResponderExcluirRealmente um filme delicado, sensível, que nos traz momentos emocionantes. Concordo com seu texto, que analisa perfeitamente o que se sente quando se assiste ao filme. \obrigado por elaborar esse pertinente comentário.
ResponderExcluirObrigada pela visita e comentário ❤️
Excluir