segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Lobo (Volchok)

Realizado pelo russo Vasili Sigarev (Zhit - 2012), "Lobo" (2009), conta a história de uma mãe e da sua filha, que não têm nomes e estão numa incessante corrida. A mãe tenta fugir da filha na tentativa de começar uma nova vida e a filha corre atrás da mãe por não saber viver sem ela.
A personagem de Yana Troyanova é uma jovem mãe irresponsável, egoísta e selvagem, não existe espaço para a filha (Polina Pluchek), ela deseja apenas satisfazer suas necessidades. Vemos tudo através dos olhos da menina que busca atenção de sua desleixada mãe, que é tratada como um trapo por aqueles com quem se envolve, e de um jeito ou de outro desconta na garotinha. Sem dúvidas, essa inconstância é uma experiência dolorosa para uma criança que necessita de proteção e cuidados.
As cenas impactam, o desprezo choca, como pode uma mãe abandonar um filho, deixá-lo a mercê do nada, do destino? É da natureza humana, porque um animal não faz uma coisa dessas, eles protegem e alimentam seus filhotes até que estejam prontos e não sejam mais indefesos, já o ser humano nutre sentimentos que destroem tanto a si próprio, como aqueles que o amam. A mãe do filme não esbanja qualquer afeto pela menina, ela foge, não a quer por perto, e essa criança toda vez que a vê busca atenção.
Em dado momento a garotinha começa a frequentar o cemitério e faz amizade com um menino que acabara de ser enterrado, ela lhe conta histórias, mente sobre sua vida, leva doces, enfim... Sua avó morre e a mãe acaba culpando-a porque ela estava conversando com os mortos, depois desse episódio a coitadinha fica completamente perdida, a mãe bebe, se droga e vai internada, a situação fica tensa, pois quem ampara a menina é uma tia distante. O tempo passa e a mãe retorna como se não tivesse acontecido nada, ainda humilha a garota que agora já tem 14 anos. É o mesmo de sempre. Ela está desiludida sobre sua mãe, mas ainda corre atrás como se houvesse alguma esperança. A cena final é triste e amarga, o drama apela para o nosso psicológico.
Interessante é que a menina não é uma criança chorosa ou doce, ela é agressiva com os amantes da mãe, é sombria e carrega um semblante sério, um olhar ameaçador. É como se ela exigisse esse amor do qual não recebe. Em vários momentos inocentemente e confusa tenta acariciar a mãe, assim como os amantes, mas sempre é jogada de lado. Já grande a garota se torna retraída e quase sem voz, impossível manter um diálogo com aquela mãe que está a sua frente, não há o que dizer. É uma mulher vazia que jamais saberá o significado e a essência da palavra amor.

É deprimente, pesado, mas retrata uma história que acontece muito, a relação de mãe e filha, a rejeição de uma e o amor de outra. Se a mãe desaparecesse, talvez a dor dessa criança fosse menor, ela seguiria sua vida com uma certeza, agora nessa situação que vive, em que ora a mãe está por perto, ora está longe, cria um sofrimento imensurável e constante. É uma ferida que nunca se fecha.
"Lobo" é um filme duro, seco, e cujo final assusta. É triste saber que não há consciência em se colocar um filho no mundo e ainda mais fazê-lo sofrer depois. 

"Acordei com a certeza de que tudo tinha acontecido daquela forma. Então, fui ao cemitério. Eu queria encontrar algo. Não sabia o quê... Talvez, a mim mesma."

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