segunda-feira, 13 de outubro de 2014
A Árvore do Amor (Shan Zha Shu Zhi Lian)
"A Árvore do Amor" (2010) é um romance inspirado no livro homônimo de Mi Ai, que teve sua primeira publicação pela internet em 2007, e conta uma história de amor que acontece em plena revolução cultural chinesa.
Dirigido por Zhang Yimou, conhecido por seus épicos de grande beleza, como "Herói" - 2002, "O Clã das Adagas Voadoras" - 2004, "A Maldição da Flor Dourada" - 2006, "Uma Mulher, uma Arma e uma Loja de Macarrão" - 2009, "Flores do Oriente" - 2011, confirma ainda mais sua maestria em compor um filme que apesar de retratar um período crítico de seu país, mostra de maneira refinada o amor em seu estágio mais puro. Zhang Yimou tem em sua filmografia obras de artes fascinantes tanto no apuro estético quanto a seu conteúdo crítico em relação a política chinesa.
Em "A Árvore do Amor" o período é o da revolução cultural chinesa, na década de 60, implantada pelo ditador Mao Tsé Tung, a qual impunha a perseguição a ideias capitalistas e "burguesas", muitos professores e intelectuais foram assassinados, e o ensino superior foi praticamente desativado do país. Uma jovem estudante é enviada para o campo para reeducação. Chegando lá, ela conhece um rapaz que trabalha na área de geologia na região. Aos poucos, eles se apaixonam. Ela é de família pobre (o pai foi preso acusado de ser burguês), e ele de família proeminente (a mãe se suicidou, era a favor do capitalismo). Eles passam anos se vendo as escondidas, até que a mãe dela descobre, e diz que eles só podem se ver quando ela completar 25 anos, porém o destino traz surpresas para os dois.
A lenda do espinheiro dá o tom do filme, afirmava-se que as flores não eram brancas e sim vermelhas, devido aos heróis mortos que ali foram enterrados. Logo no início somos apresentados a esta história que contavam aos jovens que iam a zonas rurais com a finalidade de serem reeducados. Jing tem 14 anos, é muito humilde e se esforça o máximo para conseguir ser professora, na aldeia Xiping conhece Lao Sun, filho de um militar, os dois se apaixonam perdidamente e o espinheiro se torna uma espécie de símbolo para ambos. A diferença social é grande, por causa do passado de Jing exige-se muito cuidado, pois o partido pode tomar como traição qualquer deslize. Lao Sun é respeitoso e a ajuda em tudo. Interessante observar que o foco é o romance, por mais que fique claro a rigidez do regime, as regras impostas e o medo na face da menina diante a seu futuro, o lado político nunca se sobressai, é algo orgânico.
Jing e Sun sempre dão um jeito de se encontrar, a delicadeza permeia todo o filme, o constrangimento da menina em certas cenas, como a dificuldade do toque, Sun muito gentil encontra meios de livrá-la dessa vergonha, aliás a gentileza e a decência é tão genuína no personagem que de modo algum soa clichê, emociona porque é de verdade e espontâneo, ele não faz isso como meio de conseguir algo em troca de Jing, mas sim por amá-la e querer vê-la feliz. Em um dos diálogos mais belos ele diz: "Você pode nunca ter se apaixonado antes e não acreditar no amor eterno, mas quando você se apaixona sabe que tem sempre alguém que prefere morrer do que trair você."
Após serem descobertos pela mãe de Jing, ficam proibidos de se ver, Jing corre o risco de colocar tudo a perder, e só aos 25 anos é que poderão então consumar o amor. Mas, a vida revela surpresas, nem sempre tão agradáveis. Nesse ponto as lágrimas são inevitáveis, cenas de partir o coração. Sem dúvidas, um romance maravilhoso, indispensável para quem gosta do gênero.
É um retrato de amor puro, coisa que não vemos mais e nem acreditamos, a alguns pode soar melodramático, pois Sun faz de tudo por sua amada, lava seus pés machucados, se corta para obrigá-la a se cuidar, e seus presentes, como a caneta, a bota, o pano para a confecção de um casaco e outras miudezas bem significativas.
Por mais ingênuas que algumas situações possam parecer, todo o devotamento de Sun a Jing demonstra a dignidade que envolve a relação e o sentimento que existe. A poesia que emana de seus atos, o deslumbramento, a gentileza e seus valores dão o sentido da palavra amor e o sentido de viver.
Os atores esbanjam graciosidade e a história se desenrola de modo natural, emociona o espectador ao ver tantas sutilezas. É uma ótima amostra da imensa capacidade deste grande diretor chamado Zhang Yimou.
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