terça-feira, 11 de setembro de 2012

3 Macacos (Üç Maymun)

Dirigido por Nuri Bilge Ceylan, "3 Macacos" (2008) nos introduz na história de uma família aparentemente comum em Istambul. Eyup (Yavuz Bingol) é motorista do político Servet (Ercan Kesal) que em uma madrugada acaba atropelando um homem após dormir ao volante, desesperado telefona para Eyup a fim deste confessar o crime em seu lugar, pois ele não poderia se envolver em confusões naquele momento em que estava concorrendo as eleições; em troca Servet lhe propõe uma grana preta ao sair da cadeia, que no máximo durará um ano. Eyup aceita e vai no lugar de seu patrão. Sua mulher Hacer (Hatice Aslan) é cozinheira e seu filho Ismail (Ahmet Rifat), um jovem sem rumo vão levando a vida, até que Hacer decide pedir um empréstimo a Servet para comprar um carro para Ismail, que sugere que quando o pai sair da cadeia desconte da bolada que irá ganhar, mesmo que isso pareça errado, é a única coisa que atrai seu filho e ela resolve encontrar Servet e pedir o empréstimo.
A partir daí Hacer começa a ser seduzida pelo patrão de seu marido, ela é uma mulher linda e sentindo-se desejada se deixa levar pela ardente aventura. Ismail desconfia do envolvimento de sua mãe com Servet e ao constatar age de forma violenta, mas esconde o fato de seu pai quando o visita na prisão. O tempo passa e Eyup sai da cadeia e ao chegar em casa percebe a indiferença de sua mulher, vê que algo está errado ali. Aos poucos vai descobrindo o envolvimento e a paixão que sua mulher nutre pelo seu chefe. O desfecho do filme é surpreendente. Ismail acaba por matar Servet, Eyup abalado pensa em sua família e decide encobrir os fatos da mesma forma que seu patrão no início fez, foi até um rapaz que não tinha nada a perder e lhe disse que ao final receberia uma bolada se fosse preso no lugar de seu filho.
"3 Macacos" parte daquela fábula japonesa: Mizaru, o que cobre os olhos, Kikazaru, o que tapa os ouvidos, e Iwazaru, o que tapa a boca. Seus nomes seriam traduzidos por "não veja o mal, não ouça o mal e não fale o mal". Segundo o provérbio, a expressão "Mizaru Kikazaru Iwazaru" é uma forma de lembrar que se os homens não olhassem, não ouvissem e não falassem o mal alheio, viveríamos em paz e em harmonia. É assim que essa família reage, após cometerem atos ditos imorais resolvem esconder seus erros, fingir que nada aconteceu para evitar a verdade e torturarem-se na esperança que tudo desapareça e volte ao normal.

Eyup é um homem que tem olhos cansados, ele aceita ir à prisão porque pensa que fará bem a sua família, pois sabe da necessidade do dinheiro. Hacer descobre que ainda pode ser mulher, de certa forma a prisão de seu marido a liberta, ela passa a enxergar algo que não tinha com Eyup. Ismail sente-se culpado (não há detalhes) pela morte de seu irmão mais jovem, a imagem do garoto aparece várias vezes em seus sonhos, ou nos quadros, talvez um período em que essa família tinha diálogos e era feliz.
Exige-se do espectador entender os fatos e o porquê dos atos de cada um, são longos silêncios, pausas reflexivas que nos fazem perceber o que a falta de comunicação pode acarretar. A fotografia é exuberante, são verdadeiros quadros, o céu sempre carregado, criando um clima de angústia e tristeza, no terraço do apartamento se vislumbra o mar, e ao lado uma linha de trem, uma certa liberdade que não é enxergada pela família.
Muitas pessoas decidem viver fingindo, escondendo o mal que há dentro de sua casa pensando que viverá em paz, mas sabe-se que isso é um erro, viver em uma mentira não é felicidade, isso sim é estar numa prisão. Nos rostos de Eyup, Hacer e Ismail sempre haverá sinais de mágoas e angústias.

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