terça-feira, 4 de julho de 2017
Raw (Grave)
"Raw" (2016) escrito e dirigido pela estreante Julia Ducournau é um filme francês que traz como tema o canibalismo, ele gerou várias polêmicas e ficou famoso por revirar estômagos em festivais mundo afora. É assim, toda vez que algum filme, principalmente de "terror" tem esse marketing a expectativa se torna alta e acaba estragando muito a experiência do espectador, vide "A Bruxa", de Robert Eggers e agora com o mais recente "O Cair da Noite", de Trey Edward Shults, então fica a dica para não se apegarem a isso porque sempre é exagerado e não expressa a verdadeira essência dos filmes, que certamente caminham não só na direção do gênero terror, mas do drama, mistério, suspense, thriller psicológico, etc. Claro, não duvido que aos mais sensíveis algumas cenas de "Raw" causem desconforto, mas não é tão repulsivo assim, o canibalismo é uma ótima e inteligente metáfora para as mudanças que vão ocorrendo na vida da protagonista.
Justine (Garance Marillier) é uma jovem introspectiva que acaba de ingressar para a universidade de medicina veterinária, área da qual sua família toda atua, inclusive lá estuda também sua irmã mais velha Alexia (Ella Rumpf), cuja não mantém mais o hábito de ser vegetariana, algo que também veio da família, Justine logo ao chegar participa de um trote, os veteranos além de banharem os calouros em sangue impõem que comam fígado de coelho, Justine não quer de forma alguma, mas sua irmã a obriga e a partir daí as consequências disso serão de fato animalescas. Ao experimentar o gosto da carne Justine começa a querer mais e então se transforma, aos poucos ela vai se libertando de sua inocência para a busca de prazeres. A faculdade é realmente um marco para muitos jovens, é o período em que uma baita transformação acontece, autoaceitação, responsabilidades, competição, amadurecimento e outras séries de questões difíceis, logo após que Justine ingere o fígado de coelho sente sua pele pinicar e ficar extremamente irritada, um anúncio de que ela não será mais a mesma.
Garance Marillier é perfeita ao passar de uma menina frágil para um animal insaciável, sua postura muda, evocando mesmo o lado selvagem, assim como o olhar felino e sorriso malicioso, e ela vai gostando dessa nova fase, se entrega.
O filme para explicitar toda a mudança se apoia no gore, há cenas sangrentas e outras muito angustiantes que focam detalhadamente em machucados, a cena dela vomitando cabelo ou a do dedo, por exemplo, incomodam bastante pelo visual. Mas, o filme não é apenas isso, nada é gratuito, o clima de tensão, o ritmo lento e o desencadeamento das situações juntamente com a trilha sonora são os maiores responsáveis por gerar desconforto.
"Raw" é um filme cru e visceral que inteligentemente une o canibalismo aos problemas vividos por qualquer adolescente, como bullying, sexualidade, identidade, relações familiares e a nada fácil transição para a vida adulta.
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