quinta-feira, 6 de abril de 2017

Moonlight

"Moonlight" (2016) dirigido por Barry Jenkins (Medicine for Melancholy - 2008) é um filme delicado, sensível e exuberante. Um maravilhoso trabalho de transferência de uma fase para outra dos atores Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes, nota-se o olhar de tristeza e solidão, eles se entregam e conseguem passar toda a dor, a ausência e a inadaptação.
Acompanhamos uma interessante história de busca de identidade, é um assunto sério, pois se trata da realidade. A jornada de Chiron não é fácil, ele precisa lidar com inúmeros obstáculos, em sua infância chamado de "Little" sofre bullying e vive num ambiente caótico com sua mãe drogada, em uma de suas fugas numa boca de fumo conhece Juan (Mahershala Ali), o traficante do bairro. Junto com sua esposa Teresa (Janelle Monáe), Juan tenta tirar algumas palavras do menino, logo descobre que a mãe compra drogas dos funcionários dele e que Chiron sofre com perseguições dos meninos na escola porque é considerado sensível. É com muita paciência e carinho que se forma uma relação entre os três, é somente na casa de Juan que ele se sente um pouco protegido, é lá que sempre se refugia. Há alguns diálogos nesta parte bastante marcantes e cortantes, por exemplo, quando "Little" pergunta o que é ser "bicha" e também quando pergunta se sua mãe compra drogas dele. 
Na segunda fase temos um jovem Chiron cismado, ainda mais calado e que tem apenas Kevin (Jharrel Jerome) como amigo, os problemas com a mãe continuam e passa a maior parte do tempo na casa de Teresa, descobrimos que Juan morreu há alguns anos. Kevin e Chiron cada vez mais próximos conversam e numa noite de luar na praia descobrem e despertam juntos para a sexualidade, uma bela cena que evidencia toda a dificuldade de ser quem se é. Na escola continua sofrendo bullying e sofrendo violência física, porém desta vez ele revida, se vinga quebrando uma cadeira nas costas do valentão, uma cena que gera uma sensação de alívio para o espectador, toda a raiva expelida, todo aquele silêncio dele jogado pra fora, mas, infelizmente, acabou se afundando ainda mais naquele mundo sem perspectivas, é expulso da escola e mandado para um reformatório.

Na terceira fase vemos Chiron adulto, conhecido como Black, fisicamente está diferente, malhado, cheio de correntes, dentes de ouro, carrega o estereótipo perfeito de traficante bem-sucedido, mas por trás dessa casca ainda há o sensível e silencioso Chiron, ele reencontra Kevin, vivido nesta fase por André Holland, que também esteve preso, mas agora está empenhado em fazer dar certo seu pequeno restaurante, então convida Chiron para conhecer o local, é uma noite cheia de lembranças e que permite reavivar sentimentos, uma oportunidade de vivenciar o afeto que um nutre pelo outro.
"Moonlight" é uma obra poética e melancólica ao retratar a descoberta de identidade do protagonista, causa empatia e sentimos toda a sua carência, a sua dor, nas três fases a aura silenciosa e angustiante predomina, tudo é natural e realista.

Passeia por alguns temas sociais bastante pertinentes, um garoto negro crescendo em uma comunidade pobre e que se descobre gay, passa por muitas dificuldades, como abandono, o vício em drogas da mãe, o bullying, o tráfico dominante, a violência, a falta de perspectiva, o desejo reprimido. É um retrato bem íntimo e sutil que prima por silêncios, as cores em tons de azul e preto destacam ainda mais a intensidade da história, com certeza um filme triste, mas imensamente bonito e merecedor de todos os prêmios.

"Sob a luz do luar, garotos negros ficam azuis."

Um comentário:

  1. As duas primeiras fases são sensíveis e dolorosas, as melhores do filme, mas a parte final não me convenceu.

    A transformação física do personagem é exagerada nesta fase.

    É um bom filme, mas no geral é superestimado, na minha opinião.

    Abraço

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