sábado, 10 de dezembro de 2016
A Frente Fria Que a Chuva Traz
"Tem muita gente escrota nesse mundo..."
"A Frente Fria Que a Chuva Traz" (2015) dirigido por Neville de Almeida (Matou a Família e Foi ao Cinema - 1991) é um filme irônico e provocador, coloca em evidência o vazio de uma juventude de elite que busca meios para saciar a solidão e o tédio de suas vidas. Após quase duas décadas longe do cinema, Neville de Almeida, ícone do cinema marginal brasileiro, retorna com uma produção interessante e que aponta para a classe dominante que passa por cima de tudo para terem o que querem.
O filme é baseado no texto de Mário Bortolotto (originalmente uma peça teatral) e mostra o luxo e o lixo, o asfalto e o morro, a miséria e a fartura convivendo lado a lado. Especificamente, o Morro do Vidigal - que tem uma das vistas mais privilegiadas da cidade maravilhosa.
O filme é baseado no texto de Mário Bortolotto (originalmente uma peça teatral) e mostra o luxo e o lixo, o asfalto e o morro, a miséria e a fartura convivendo lado a lado. Especificamente, o Morro do Vidigal - que tem uma das vistas mais privilegiadas da cidade maravilhosa.
Os jovens retratados são ricos, mimados, insolentes e que pensam que podem se apropriar de tudo, não há limites. Eles alugam uma laje na favela com uma vista belíssima para o mar e lá dão festas infindáveis regadas a sexo e drogas, eles pagam o quanto for preciso e ainda levam um segurança junto para impedir que os pobres do morro apareçam. A fetichização da favela é exposta, eles querem o espaço, a droga, mas sem se misturarem.
Os personagens exibem facetas arrogantes, despojadas, ridicularizam o dono da laje, Gru (Flavio Bauraqui) que é chamado de inúmeros xingamentos preconceituosos, existe uma barreira imensa entre eles, apesar de estarem ali no mesmo ambiente fica claro a linha que os separa, por vezes Gru se irrita com a bagunça, mas por outras deseja fazer parte, e por fim explora-os o máximo que pode, afinal ele organiza tudo, desde bebidas à drogas. A interpretação estereotipada cai perfeitamente para o tom do filme, aliás o formato teatral pode irritar em alguns momentos, mas esse diferencial aproxima da realidade, a força está nos diálogos que em sua maioria causam desconforto e repulsa.
O grupo é formado por três garotas e dois garotos, destaque para Chay Suede como Espeto, numa vibe de pegador e, especialmente, Johnny Massaro como Alisson, este encarna o exato retrato do jovem que nunca ouviu um não e acredita que o dinheiro e seu sobrenome lhe garantirá a superioridade. As meninas interpretadas por Juliane Araújo, Nathalia Lima Verde e Juliana Lohmann dão valor para futilidades e só pensam em sexo e drogas. Mas quem rouba a cena é Bruna Linzmeyer e sua Amsterdã, uma viciada em heroína, moradora da favela que precisa se prostituir para conseguir manter seu vício, toda vez que há festas lá se mistura entre eles para poder beber e usar drogas de graça, mas nessa última festa uma série de situações se desenrolam a partir do momento que um cantor sertanejo universitário surge para animar a festa, Amsterdã o desdenha e começa a expor todo o seu nojo e ao mesmo tempo vontade de fazer parte daquele universo.
O grupo é formado por três garotas e dois garotos, destaque para Chay Suede como Espeto, numa vibe de pegador e, especialmente, Johnny Massaro como Alisson, este encarna o exato retrato do jovem que nunca ouviu um não e acredita que o dinheiro e seu sobrenome lhe garantirá a superioridade. As meninas interpretadas por Juliane Araújo, Nathalia Lima Verde e Juliana Lohmann dão valor para futilidades e só pensam em sexo e drogas. Mas quem rouba a cena é Bruna Linzmeyer e sua Amsterdã, uma viciada em heroína, moradora da favela que precisa se prostituir para conseguir manter seu vício, toda vez que há festas lá se mistura entre eles para poder beber e usar drogas de graça, mas nessa última festa uma série de situações se desenrolam a partir do momento que um cantor sertanejo universitário surge para animar a festa, Amsterdã o desdenha e começa a expor todo o seu nojo e ao mesmo tempo vontade de fazer parte daquele universo.
Amsterdã sem freios vai apontando a falsidade, a hipocrisia que os rodeia, em uma das cenas ela diz: "todos querem brincar de povão, mas não querem neguinho de verdade subindo na laje deles". O segurança, outro ser afogado no vazio revela mais tarde a sua angústia e em algumas frases também evidencia que não há nada relevante naqueles jovens, estão à deriva, esbanjando dinheiro, se colocando como donos do pedaço, cometendo preconceitos, tentando preencher a falta de perspectiva com sexo e drogas.
Outro personagem a se destacar é o cantor, interpretado magistralmente por Michel Melamed, que antes morava no Vidigal e que após o sucesso se vangloria como o supremo, a estrela pop, as meninas se insinuam, os meninos o adulam, a cena em que o segurança o ironiza é sublime, a realidade salta na nossa cara, impressionante. É caricato e isso não é um defeito, ao contrário, esse excesso retratado na figura desse cantor é como um espelho das inúmeras figuras "artísticas" que empesteiam a mídia.
Neville de Almeida continua certeiro e sagaz, retorna com um filme sarcástico e insuportável, sim, a crueza pode afastar e assustar. Esses personagens realmente dão enjoo, mas é o retrato atual de jovens que por fora reluzem e que por dentro se perdem na escuridão do vazio e da solidão, que se acham donos do mundo, que se apropriam, humilham e se preenchem com entretenimentos momentâneos e doses cavalares de artificialidades.
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Tema forte e extremamente atual.
ResponderExcluirÉ a primeira ver que leio sobre este filme e fiquei curioso para assistir.
Abraço