quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O Mundo (Shijie)

 
"O Mundo" (2004) de Jia Zhang-Ke (Mountains May Depart - 2015) retrata a China moderna e o quanto ela ainda é fechada, apesar de sua ocidentalização.
O parque Mundo fica na região central de Pequim e é o lugar onde os visitantes podem ver monumentos internacionais sem sair da cidade, ele exibe várias réplicas em menor proporção da Torre Eiffel, do Arco do Triunfo, do Big Ben, da Torre de Pisa, das Torres Gêmeas, do Taj Mahal, das Pirâmides do Egito, etc. Nesse falso universo acompanhamos a vida de alguns jovens, todos solitários, desamparados e sem perspectivas. Essa falsificação do mundo reflete muito bem o como os chineses se sentem em relação a suas vidas, em muitos diálogos dizem que não precisam sair de lá para ver o mundo e assim continuam a exercer atividades falsas em um lugar falso.
Alguns personagens se sobressaem, Tao vive suas fantasias no parque, a jovem dançarina e seu namorado fazem performances em frente à réplica do Taj Mahal, da Torre Eiffel e do Big Ben. Mas a relação dos dois está num impasse, pois Tainsheg sente-se atraído pela bela designer Qun que ele encontrou numa viagem. Enquanto isso, a jovem Xiaowei questiona seu futuro, já que o namorado Niu é um irresponsável. Todos eles formam o retrato de uma nova geração sem horizontes de futuro.
O filme é monótono, assim como a vida dos jovens representados, a sensação de vazio é enorme, Tao se apega a seu namorado e sente medo que ele a traia, inclusive diz que é capaz de matá-lo, Tainsheg se encanta por uma mulher mais velha que copia as roupas que fazem sucesso no ocidente. A história caminha sem grandes eventos, mostra-se o cotidiano no parque, as apresentações, o trabalho de segurança de Tainsheg e os relacionamentos confusos entre eles. Outro personagem que se destaca mesmo aparecendo pouco é irmãzinha, apelido de um amigo de infância de Tainsheng, que sai do interior para tentar trabalhar em obras, infelizmente seu desfecho não é satisfatório e vemos o como as pessoas se portam diante o fato, inclusive os familiares.
O diretor prima em retratar a realidade atual da China e o quanto seu desenvolvimento é rápido e abrupto. "O Mundo" disserta sobre a incomunicabilidade, a solidão, os avanços tecnológicos e o capitalismo. Jia Zhang-Ke é brilhante ao expor as relações humanas, o vazio e a sensação de deslocamento dos jovens chineses.

"O Mundo" tem um tom documental e uma fotografia exuberante em cores vibrantes, os personagens são distantes uns dos outros mesmo se relacionando, são sentimentos distorcidos por uma realidade que aprisiona e que sequer exibe uma luz que indique um caminho melhor. O parque é uma ilusão, os visitantes se exibem diante das réplicas, fotografam e dão a volta pelos cinco continentes em um dia, esquecem-se de seus problemas e se deslumbram com sonhos, assim como a própria propaganda prega. É um filme interessante e que propõe refletir sobre a rapidez agressiva com que a China cresce e o como isso reflete na população. 

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