segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Em Nome de... (W Imie...)

"Em Nome de..." (2013) da diretora polonesa Malgorzata Szumowska (Elas - 2011) é um filme lindíssimo que retrata o tabu religião versus homossexualidade.
O padre Adam assume uma pequena paróquia no meio do nada. Ele organiza um centro comunitário para meninos com histórico familiar conturbado. Sua energia e disposição são apreciadas pelos moradores, que o aceitam como um dos seus. Mas ninguém sabe que ele esconde seu próprio segredo. Depois de conhecer um jovem introvertido e incomum, que não se relaciona com a comunidade, o padre Adam é obrigado a enfrentar uma questão pessoal há muito tempo esquecida. Como as piores suspeitas dos moradores se confirmam, Adam passa a ser visto pelos outros como um inimigo.
O assunto abordado é tratado com muita sensibilidade, não há artifícios baratos ou didatismos, é tudo muito natural e tocante, além dos belos planos, cenas cheias de significados e sentimentos. O padre Adam (Andrzej Chyra), adquire rapidamente o respeito da comunidade, ele ajuda jovens que não se integram à sociedade, meninos perdidos e violentos que usam dos mais fracos para benefício próprio. O vemos constantemente pregando o evangelho e se socializando com os moradores. Só que um dia o padre se depara e se encanta por Lukasz (Mateusz Kosciukiewicz), um rapaz destemido, quieto e que não se importa ao revelar que sente afeição por ele. Adam é um homem maduro que esconde seus verdadeiros desejos em prol de sua missão religiosa, é desesperador vê-lo chorar pelos prazeres que não pode satisfazer.
O interessante é a descaracterização que acontece com a figura religiosa, afinal Adam é um ser humano, homem, e sente pulsão sexual, o vemos se masturbar por diversas vezes. O entrelaçamento dos personagens é sutil e é retratado de maneira até banal, em situações cotidianas. Adam se vê testado quase o tempo todo. Quando a população começa a desconfiar e é denunciado, ele termina sendo transferido novamente, Lukasz se desespera ao perdê-lo, mas ao saber de seu paradeiro corre atrás e numa bela cena consumam o amor, porém as coisas não são tão simples, a moralidade impera e nesse ambiente a única maneira de sobreviver é fazer parte dele. A cena final é triste e esmagadora, ta aí o porquê do título "Em Nome de..."

É uma obra bonita, contestadora e definitivamente vale a pena para poder abrir o olhar perante um tema que continua sendo polêmico. O longa também denuncia a hipocrisia que habita os antros religiosos, que ao invés de libertar e pregar o amor acaba aprisionando e oprimindo. Jovens que por se sentirem mal com seus desejos veem na igreja uma suposta salvação, uma fuga de si mesmo, mas é óbvio que num momento ou outro eles vêm à tona. Há muita culpa, solidão, sofrimento, e então percebemos o quanto a religião faz mal e castra o que de mais bonito o ser humano pode sentir, o amor. De ritmo lento e priorizando os detalhes, os sentimentos e as agonias, "Em Nome de..." é um filme crítico, sensível e imensamente bem construído.

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