terça-feira, 6 de janeiro de 2015
Nada Pessoal (Nothing Personal)
"Nada Pessoal" (2009) dirigido por Urszula Antoniak é um filme minimalista, silencioso, e que desperta uma imensa vontade de se sentir só, de fugir para lugares inóspitos e ter a presença somente da natureza para ter noção do que realmente significa estar vivo.
Anne (Lotte Verbeek) é uma jovem mulher que, aparentemente devido ao fim de seu casamento, decide abandonar a Holanda, enveredando então numa viagem solitária pela Irlanda. É durante essa viagem que encontra uma casa, onde habita um homem chamado Martin (Stephen Rea), também ele bastante só. Anne acaba por trabalhar para Martin, a princípio a troco de comida, com a exigência de nunca trocar impressões pessoais de qualquer gênero. No decorrer desta aparente bizarra convivência, estas duas personagens solitárias vão-se lentamente aproximando, até que as suas almas se tocam e a solidão se torna conjunta. O filme é dividido em cinco partes, "Solidão", "O fim de uma relação", "Casamento", "Início de uma relação" e "Sozinha".
Anne devastada interiormente, cansada das relações pessoais decide se afastar de tudo, a vemos caminhando por lugares maravilhosos, dos quais intensificam o sentimento de estar só e refletir sobre o como vivemos nossa vida e o como acontecemos nela, Anne quando interrogada por alguém sempre dá respostas certeiras e duras, a cena logo no início em que procura alimento no lixo e uma família pergunta se precisa de ajuda, exemplifica. Seguindo o caminho, passa fome, frio, dorme em sua barraca improvisada e reflete. Um dia encontra uma casa, nela há um homem sozinho e triste, ela então começa a trabalhar em troca de comida e com o passar dos dias Martin lhe arruma mais tarefas e a relação vai se construindo, uma troca de solidões, nada revelam sobre si mesmos, Anne demonstra que qualquer pergunta de cunho pessoal irá embora, portanto Martin respeita. A mudança que acontece é vagarosa e não há nada mais bonito do que essas sutilezas retratadas, seja num breve sorriso ou numa troca de olhares. A naturalidade é a marca deste longa que prima por retratar um lado pouco explorado do ser humano, e dificilmente se encontrará um filme que explore tão bem a solidão.
A fotografia é convidativa e nos joga dentro desta relação que acontece tão lindamente sem rótulos e obrigações. Um filme que promove reflexões acerca de nós mesmos e o como lidamos com as relações que se formam durante a vida. Certa vez li que o melhor de uma relação é sentir-se confortável com o silêncio do outro, e para mim não há verdade maior. Muito se perde quando conhecemos demasiadamente uma pessoa, pois o que nos instiga é exatamente o mistério, por vezes as palavras apenas destroem a beleza do não saber. Anne não diz sobre si, mas Martin chega muito próximo dela, aos poucos, a descobrindo, e vice-versa.
"Nada Pessoal" é um filme que nos brinda com uma história reflexiva, ela nos puxa e vivemos juntos o isolamento dos personagens, e claro, a estonteante fotografia realça ainda mais o clima de imersão em si mesmo. É suave e profundo!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
SE FOR COMENTAR, LEIA ANTES!
NÃO ACEITO APENAS DIVULGAÇÃO.