segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Pós Morte (Post Mortem)

"Pós Morte" (2010) dirigido por Pablo Larraín é o segundo filme de uma trilogia sobre a ditadura chilena. O primeiro "Tony Manero" - 2008, retrata Raúl Peralta (Alfredo Castro), que está obcecado com a ideia de se tornar Tony Manero, o famoso personagem interpretado por John Travolta no clássico filme da era disco "Os Embalos de Sábado à Noite". A fantasia de encarnar seu grande ídolo e assim ser reconhecido como uma estrela no mundo do entretenimento chega a tal nível que acaba levando Raúl a se transformar num assassino em série, o pano de fundo desta história se passa no ano de 1978 com o complicado contexto social da ditadura militar de Augusto Pinochet.
O terceiro fechando a trilogia é "No" - 2012, do qual conta a história do plebiscito que, em 1998, pôs fim a uma ditadura de 15 anos imposta por Augusto Pinochet. Saavedra (Gael Garcia Bernal), é um exilado que volta ao Chile e vai trabalhar como publicitário a serviço da campanha "Não", que tem como objetivo influenciar o eleitorado a votar contra a permanência de Pinochet no poder durante um referendo, feito sob pressão internacional, pelo próprio ditador. Com poucos recursos e sob constante vigilância por homens de Pinochet, ele concebeu um ousado plano para ganhar o referendo.
"Pós Morte" (2010) regressa ao ano de 1973 durante os últimos dias da presidência de Salvador Allende. Um funcionário do necrotério se apaixona por uma dançarina burlesca, que desaparece misteriosamente. Loucamente apaixonado e perturbado pela perda de sua potencial amante, Mario (Alfredo Castro) começa a sua busca frenética por Nancy (Antonia Zegers). Mario é um cara esquisito que pouco sabe do período em que vive, trabalha escrevendo os relatórios das autópsias efetuadas pelos legistas, solitário tenta se aproximar de sua vizinha Nancy, uma mulher complexada.
Obcecado, segue a vida de Nancy, observando todos os seus passos. Até que, uma manhã, ele encontra a casa dela destruída. É então que, em desespero, passa a procurar o seu rosto em cada cadáver que chega à morgue. Até, finalmente, a encontrar...
Tudo se dá de forma não convencional e bizarra, enquanto isso nas ruas de Santiago várias manifestações são registradas, mas Mario pouco se importa. Só mais adiante o incomoda por atrapalhar o seu "romance" com Nancy. O personagem aparentemente é sem graça, mas sua figura silenciosamente excêntrica prende nossa atenção, justamente por querer saber qual será a sua reação diante aos fatos.

Com ritmo lento o aspecto político é tratado com sensibilidade única, os corpos que se amontoam, as autópsias que se seguem, e então a cena ápice do filme, o corpo de Allende com a cabeça desfigurada por um tiro de revólver na grande mesa fria, todos esperam a resposta do legista, mas Mario acaba se atrapalhando com a máquina de escrever elétrica, um soldado ocupa o seu lugar e a autópsia segue. Um momento que explica muito sobre o filme, o quanto este homem é inerte diante a vida, totalmente inexpressivo e alheio do que acontece em seu país. A trama é sobre uma história de amor, sobre duas pessoas apáticas e indiferentes a tudo, o contexto político é um pano de fundo para essa estranha e fantasiosa história de amor.
Interessante pelo lado político abordado elucidando sobre este período caracterizado por uma grande ebulição e também pelo personagem de Alfredo Castro. É um filme diferente e inteligente que compõe a trilogia de Pablo Larraín sobre a ditadura chilena.

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