quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Camille Claudel 1915
"A vocação artística é muito perigosa. Poucas pessoas tem força para resistir. A arte toca certas faculdades particularmente perigosas da mente. A imaginação e a sensibilidade podem facilmente gerar desiquilíbrios."
"Camille Claudel 1915" (2013) do diretor Bruno Dumont (O Pecado de Hadewijch - 2009) é baseado na história verídica da escultora Camille Claudel, que foi levada a um hospício através do seu irmão, passando seus últimos trinta anos sem nunca mais poder seguir a sua arte novamente.
Inverno, 1915. Contra a sua vontade, a escultora Camille Claudel (Juliette Binoche) é internada pelos familiares em um asilo psiquiátrico mantido por religiosas, e permanece durante anos na instituição, sem poder sair. Ela afirma várias vezes que está perfeitamente sã, mas desenvolve uma mania de perseguição, acreditando que seu ex-amante Auguste Rodin conspira contra ela, e que todos no asilo tentam envenená-la. Camille passa os dias cercada por internos com deficiências mentais e surtos psicóticos graves, não tendo ninguém com que conversar. Sua única esperança é a carta enviada clandestinamente ao irmão Paul (Jean-Luc Vincent), implorando por sua liberação. Quando Paul confirma que vai visitá-la, Camille aguarda com impaciência a oportunidade de mostrar ao irmão que pode viver em sociedade.
A história desta icônica mulher já foi apresentada em 1998 sob a direção de Bruno Nuytten e protagonizada por Isabelle Adjani, nesta produção é possível conhecer os pormenores de sua vida, sua genialidade como artista e o relacionamento com Rodin, principal motivo que a levou à loucura. Camille Claudel de Bruno Dumont já se concentra nos anos em que ela foi posta pelo irmão em uma espécie de casa de repouso para loucos.
Juliette Binoche dá vida a Camille e expõe toda a sua angústia por não saber o porquê de estar trancada, e apesar do lugar ser belo, a sufoca e enclausura a suas ideias. Ao longo do filme observamos o sofrimento de Camille por estar ao lado daquelas pessoas completamente insanas que urram o tempo todo como que pedindo algo. Ela procura a arte nas pequenas coisas para tentar sobreviver, mas toda vez que se depara com a arte se desespera. Em uma conversa com o médico Camille muito angustiada lhe diz que seu desejo era morar em uma casinha e poder dar vida a suas ideias, porém sua paranoia vai se mostrando quando menciona Rodin. Camille foi aluna, aprendiz e amante do escultor, mas em certo momento vendo que Rodin jamais deixaria a esposa para ficar com ela, decide ir embora e tentar fazer seu próprio nome, já que suas esculturas eram muito semelhantes a de seu mestre, o que gerava grandes burburinhos.
Nesta fase Camille se enclausura em seu próprio ateliê e a paranoia começa a ficar muito latente. Ela acredita que Rodin quer roubar suas esculturas e expô-las como sendo suas, ela crê na sua imaginação e perde-se totalmente da realidade. Depois de muito tempo encerrada em seu ateliê, seu irmão mais novo Paul, decide interná-la num sanatório, mas com a explosão da primeira guerra mundial acabou sendo transferida para uma casa de repouso em Villeneuve-lès-Avignon onde morre, após trinta anos de internação e desespero. Tudo é expressado pelos olhos da belíssima atriz Juliette Binoche, da qual faz um trabalho maravilhoso. Camille Claudel foi uma grande artista e sua personalidade orgulhosa e esnobe só a fez sofrer ainda mais.
É um filme contemplativo, com diálogos que geram reflexões acerca da loucura e do como é terrível não estar no controle de sua mente, a sensação é de puro sufocamento.
O irmão de Camille é extremamente religioso e de certa forma acredita que a irmã está pagando por pecados que cometeu, como se relacionar com um homem casado, levar uma vida livre esculpindo homens nus, entre outras coisas. Ele crê que a arte tirou o equilíbrio emocional de Camille, justamente por trabalhar muito a imaginação. O diálogo que tem com um padre é o ponto alto do filme, esmiúça-se o fanatismo religioso e o moralismo.
O lugar em que Camille Claudel se encontra é lindo e bucólico, de uma natureza exuberante que deveria fornecer calmaria, mas o que se vê é o oposto. A ausência de trilha sonora ressalta o inferno que é estar perdida dentro de si mesma. O sentimento de angústia dá o tom à história, a liberdade que lhe foi tirada causou a incapacidade de criar.
"Camille Claudel 1915" tem planos bem trabalhados e precisos que focam nas expressões que perpassam o rosto de Binoche. Uma obra imensamente artística.
"Camille Claudel 1915" tem planos bem trabalhados e precisos que focam nas expressões que perpassam o rosto de Binoche. Uma obra imensamente artística.
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