segunda-feira, 9 de setembro de 2013

E Agora, Aonde Vamos? (Et Maintenant On Va Où?)

Numa vila do Líbano isolada por minas terrestres, mulheres muçulmanas e cristãs se unem para proteger suas famílias da violência e do sofrimento. Elas inventam todo tipo de estratégia para impedir que seus maridos se enfrentem e gerem ainda mais mortos num lugar marcado pela guerra. Para distrair os homens, elas vão desafiar tabus, chamando um grupo de dançarinas ucranianas para visitar o lugar e servindo biscoitos com maconha numa festa. Mas quando uma morte trágica acontece, elas serão obrigadas a adotar uma tática bem mais radical.
Dirigido e protagonizado pela linda Nadine Labaki (Caramelo - 2007), o filme mostra como seria mais fácil se as mulheres ficassem a frente de tudo. Com muita sensibilidade essas mulheres que já perderam demais numa guerra totalmente movida por egos, convivem em paz com cristãos e muçulmanos, enquanto o resto do país guerreia em prol sabe-se lá do quê, pois como percebemos no desenrolar, lá na própria aldeia muçulmanos e cristãos desencadeiam as brigas por motivos banais, que na última instância agride a religião do outro.
A cena de abertura é maravilhosa, uma procissão de mulheres todas vestidas de preto indo ao cemitério visitar seus entes queridos que morreram na guerra, elas estão cansadas de sofrer, então decidem evitar a qualquer custo todo tipo de informações que vêm de fora, quando todos se juntam para assistir televisão o canal de notícias é evitado, isso funciona também com os jornais que chegam, o intuito é viverem em paz. Mas infelizmente, não é tão simples, os homens movidos pela ânsia de estar sempre certos pelo aspecto religioso acabam arrumando atritos. Um dia, a mesquita é invadida pelos animais de criação, enfurecendo os muçulmanos que culpam os cristãos pela heresia. Em represália, os muçulmanos quebram a imagem de uma santa. Falta pouco para que cada lado pegue em armas e inicie a matança, mas é aí que as mulheres da aldeia articulam um plano para distraí-los, elas trazem algumas dançarinas ucranianas, apelam para bolinhos de haxixe e até forjam um milagre. É incrível a maneira leve que o filme aborda os conflitos religiosos. As músicas inseridas e o humor dão um tom completamente doce. Aquelas mães, esposas e filhas querem apenas mostrar aos seus que não faz sentido matar seu semelhante pela religião que escolheu.

A diversidade religiosa no Líbano é grande, as divergências de pensamentos em relação a sua identidade faz dele um país difícil de decifrar. Nadine Labaki traz uma história séria com uma linda mensagem e surpreende com a ousadia com que é tratada, um filme sob a ótica das mulheres e como seria mais ameno viver sob o comando delas. Há várias cenas dramáticas, uma das mais lindas é quando uma mãe perde o filho e o esconde no poço para que os homens da aldeia não recorram à vingança e destruam a paz existente, essa cena mostra a força de uma mãe para um bem maior, é dilacerante e extremamente belo.
Nadine Labaki tem a sua própria maneira de fazer cinema, as mulheres são o foco em seus filmes e isso só tende a acrescentar, pois num país tão machista esse olhar feminino gera delicadeza e doçura.
Entre tantos filmes que abordam o tema sobre conflitos religiosos esse é diferente, contém todo o drama e o peso que as mulheres carregam por conta de uma guerra irracional e suas perdas irreparáveis, mas ao final deixa claro que não importa a religião, somos todos humanos e nada melhor do que viver em paz com os nossos vizinhos.

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