quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Luz Depois das Trevas (Post Tenebras Lux)
"Luz Depois das Trevas" (2012) do mexicano Carlos Reygadas (Japón - 2002) é um filme curioso composto por fragmentos, memórias, sonhos e ilusões, ele passeia ao mesmo tempo pelo obscuro e a luminosidade, assim como o título propõe. Não é cinema feito para agradar, sua narrativa não segue nada em absoluto, mas evoca sensações únicas e isso poucos diretores conseguem. Carlos Reygadas conhecido por filmes não convencionais já disse várias vezes que não pretende a aceitação dos críticos ou da maioria dos espectadores, mas apenas tocar algumas pessoas. A sua maneira de fazer cinema é completamente livre, e, portanto, completa.
Uma família de classe média alta se muda da cidade do México para viver no interior do país, Juan e sua família devem se adaptar a um local onde a vida é compreendida de uma maneira diferente da conhecida por eles. Entre o sofrimento e o prazer, estes dois mundos distintos coexistem. Resta saber se se complementam ou lutam inconscientemente pela eliminação um do outro. Carlos Reygadas partiu de suas memórias, medos, sonhos e esperanças para contar uma nova história, mesclando fatos reais e ficcionais.
O filme ressalta a natureza de modo transcendental, além de mostrar uma figura estranha: a silhueta vermelha do diabo entrando na casa da família. É realmente estranho e um tanto chato assisti-lo, mas é daqueles filmes que não nos arrependemos, pois só tende a acrescentar ao final. Explicar é impossível, mas pegando algumas partes observamos, por exemplo, a decadência da aparente família feliz, Natália e Juan tem dois filhos, Rut e Eleazar (filhos do diretor), e conforme o desenrolar percebemos que Juan é um ser humano imprevisível e irritado, a cena do cachorro sendo espancado retrata a sua personalidade perturbada. Em certo momento ele diz: Porque destruo tudo que amo? É o bem e o mal constantemente imerso nesse contexto familiar, a natureza e os filhos simbolizam o bem, os laços e a esperança, mas o mal é introduzido drasticamente e logo toda essa beleza é quebrada.
A cena inicial é dotada de inocência e deslumbramento, a menininha se inebria com a natureza e os animais, mas tudo se desfaz com uma tempestade que se aproxima nos dizendo que nada se salva deste mundo.
Tudo são apenas sonhos, a filmagem que em quase todo o filme é desfocada nos cantos dá essa sensação. Estamos vivendo num sonho e quando partimos entraremos em outro e assim por diante. Há uma mistura incansável de fatos reais e fantasia, a cena da sauna free sex com salas com nomes de filósofos é uma das mais intrigantes, são fragmentos de memórias ou fantasias não realizadas.
Há diversas metáforas que talvez somente o diretor entenda, já que é uma espécie de autobiografia, por isso várias críticas atribuíram ao filme o adjetivo de esnobe. Não dá para dizer que é um filme gostoso de assistir e com certeza a experiência é única a cada pessoa. É cinema experimental e para quem deseja se aventurar aconselho a se desprender das convencionalidades e das narrativas lineares. Não há como criar vínculo emocional com nada.
Decerto que várias coisas passam despercebidas, mas alguns diálogos são maravilhosos, como quando citam um trecho de "Guerra e Paz", de Tolstói, sobre o desejo de ter poder e o de perdê-lo. Eis que essa frase cai bem: "Para conquistar o poder é preciso amá-lo. Ora, a ambição nunca está de acordo com a bondade, mas apenas com a duplicidade e a violência. Logo, não são os melhores, são os piores que se apoderam do poder."
Um outro momento válido para se entender algo é quando Juan está acamado por ter levado um tiro de seu empregado e Natália ao piano canta "It's a Dream, de Neil Young. Somos feitos de memórias, sonhos, fantasias, e o bem e o mal sempre está circulando em nossa mente. "Luz Depois das Trevas" é um filme obscuro que aguça nossa curiosidade, feito para sentir e não entendê-lo. Você vê e sente, descrevê-lo é pura ousadia.
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