sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
Se os Gatos Desaparecessem do Mundo (Sekai Kara Neko ga Kietanara)
"Minha vida até agora... vindo do passado até hoje, e caminhando para o futuro infinito... Não, eu nunca tinha pensado coisas como “futuro”. Pensei que era apenas natural que eu tivesse de enfrentar o amanhã. Beber café, cuidar do meu gato, tomar o café da manhã e ir trabalhar. Eu só continuava assim, com nada de especial em mente."
"Se os Gatos Desaparecessem do Mundo" (2016) dirigido por Akira Nagai, baseado no romance homônimo do produtor Genki Kawamura, conta a história de um carteiro que descobre não ter muito tempo de vida, devido a uma doença terminal. O outro eu dele aparece na sua frente e oferece prolongar sua vida em troca de alguma coisa que possa desaparecer do mundo. Ele pensa sobre seu relacionamento com ex-amigos, ex-amantes, parentes e colegas que ficariam tristes quando ele morrer.
Com sutileza e simplicidade reflete-se o quanto as nossas vivências e nossas memórias não podem ser substituídas, o que passamos, seja situações boas ou ruins, os elos que formamos devido afinidades, o convívio difícil com nossos pais, não adianta querer apagar, pois é isso que nos transforma, a vida é repleta de melancólicos instantes prazerosos, e o estilo do filme tem essa aura de tristeza boa, aquela sensação de sabermos que a vida vai acabar, mas que alguma coisa de nós sempre fica.
O carteiro (Takeru Sato) vive apenas com seu gato Kyabetsu (repolho), um dia sente uma forte dor de cabeça e cai de sua bicicleta, no hospital o médico diz que já não há o que fazer, seus dias estão contados, de volta pra casa encontra uma espécie de diabo que tem a sua aparência, após o susto ouve a proposta sugerida, se ele escolher alguma coisa do mundo para ser apagada ganhará mais um dia de vida, mas todas as lembranças relacionadas a esse objeto sumirão. Depois que aceita percebe que as coisas escolhidas pelo "diabo" sempre têm muito valor emocional, como o celular, que através de uma ligação por engano conheceu a ex-namorada, o relógio, um objeto totalmente ligado ao pai, um homem calado que dedicou a vida ao ofício de relojoeiro e que ele o interpretou a vida toda de um jeito do qual na verdade não era, depois os filmes que o leva ao amigo que o incentivou a nutrir amor pelas histórias e que a cada dia lhe sugeria um título, quando chega a vez dos gatos, o jovem se dá conta que nada é maior do que as lembranças que a vida vai costurando, ele relembra os momentos com a mãe e a importância da relação entre eles juntamente com a presença de um gatinho, tudo teria sido bem diferente se não existisse o gato, ele simboliza o amor, a proteção, a força que ela teve que ter perante uma doença, por exemplo, são momentos que jamais poderiam ser apagados por um desejo egoísta.
Por mais óbvia que possa ser a mensagem não deixa de ser importante, pois é passada de um jeito bonito e é uma maneira de nos lembrar para não ter medo e aceitar o fim, a vida não é feita apenas de alegrias, nela construímos relações, trocamos e dividimos conhecimentos, temos momentos ruins e outros inesquecíveis, um quebra-cabeças de emoções que traduz quem somos, não adianta querer apagar algo, porque tudo está relacionado, se deletar um momento não muito agradável certamente várias lembranças boas se vão junto, como quando chega no instante de apagar os gatos ele pensa em tudo que passou com a mãe, situações tensas e difíceis, mas também recheadas de afeto, o gato é um símbolo que o une com a mãe e isso jamais poderia ser destruído, assim como com todas as outras coisas que foram excluídas.
"Se eu morresse, teria alguém que choraria por mim? E claro, você poderia enfrentar a manhã seguinte como se nada mudasse nesse mundo?"
É um filme sensível e que inevitavelmente faz com que olhemos para dentro de nós, toca em assuntos delicados, como a morte, porém retrata bastante os laços familiares e o como o amor pode ter várias maneiras de ser demonstrado ou até não ser, como o pai com ações que deixava implícito o sentimento, também o como supomos que nossos pais nos enxergam e o como verdadeiramente eles nos veem, a carta que a mãe deixa ao filho revela o quanto nos equivocamos durante a vida. "Portanto, a partir de agora, tente acreditar nisso e mostre o seu lado bom. A boa parte de você. Você sempre ficou do meu lado. Quando alguém está feliz ou triste você fica perto deles gentilmente... Seu adorado rosto adormecido e seu cabelo encaracolado... Seu hábito de tocar o nariz inconscientemente... O seu comportamento quando se preocupa com as pessoas ao seu redor mais do que o necessário... Quando você nasceu, não sabe como o meu mundo se tornou bonito e brilhante."
"Se os Gatos Desaparecessem do Mundo" até engana sendo um drama fofo japonês, mas é um drama profundo com reflexões agudas sobre o valor das relações, dos momentos vividos e de que nada disso pode ser substituído. Poesia pura!
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Gostei da resenha, vou conferir obrigada
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