quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
Coro (Chorus)
"Coro" (2015) dirigido por François Delisle (Le Météore - 2013) é um filme pesado, difícil de assistir, retrata uma dor profunda, o luto pela perda de um filho, o tempo que não sana as feridas, os sentimentos confusos, culpa e saudade que se misturam, o trauma e as lembranças que inevitavelmente surgem e o quão penoso é seguir adiante. Aborda de maneira intimista, simples e direta o sofrimento e o quanto solitário é passar por ele.
Um casal separado reúne-se novamente depois de 10 anos quando encontram o corpo do filho desaparecido. Ambos lidam com a morte do filho a sua própria maneira. Em meio a culpa de perder um ente querido, eles tentam aceitar a morte e até mesmo a possibilidade de reconciliação.
A angústia transpassa a tela, a fotografia em preto e branco já anuncia o peso, a história abre com um homem fazendo uma confissão, o como conheceu um garoto de 8 anos num parque, é claro desde o início, não há espaço para nenhum suspense, de cara sabemos o que aconteceu, o menino despareceu há 10 anos, os pais se separaram tamanha a dor de conviverem juntos, Christophe (Sébastien Ricard) encontrou refúgio no México, o mar e o sol acalmando o redemoinho em seu coração, Irene (Fanny Mallette) canta em um coral, mas isso não a alivia, entra em pânico toda vez que encontra crianças ou pessoas conhecidas, a reação delas varia entre tentar consolar, o que é impossível, pois a dor é um sentimento solitário, ou ignorar o acontecido e conversar sobre outras coisas, isso acaba a destruindo ainda mais, são tantos pensamentos que lhe atormentam, "se eu fosse buscá-lo aquele dia na escola", esse "se" a consome, mas tudo vem à tona de fato quando o corpo é encontrado depois de 10 anos, o casal se reencontra e precisa lidar com o funeral, a confissão do assassino, uma das cenas mais cortantes, e novamente com o adeus ao filho. A convivência entre eles é estranha, pouco dialogam, mas respeitam a dor que cada um sente, não há como reverter e nem seguirem juntos, eles trocam olhares e se abraçam e até revivem o amor, mas não há um caminho juntos, o sofrimento é maior, a culpa é bem evidente nos dois, a sensação de não ter sido bons pais e também é intenso quando pensam o que poderiam ter vivido com o filho, ele teria 18 anos e uma das cenas mais representativas é quando surge um amigo da infância dele e os pais esboçam pela primeira vez um reconforto e uma tranquilidade, principalmente ao lerem uma carta que o filho deles destinou ao amigo.
A história não exibe adornos e a direção mantém uma certa distância, o que possibilita observar os pontos de vista de cada personagem e não o tornar melodramático apesar de toda a dramaticidade, explora brilhantemente as nuances do emocional, os conflitos internos, as necessidades e carências quando se está em luto e revela a realidade, o embaçamento do cotidiano, a inércia causada pela perda. A mãe de Irene tenta ajudar quando ela tem seus rompantes, o pai de Irene se suicidou não fazia muito tempo e esse luto ainda estava presente, Irene até questiona o porquê da mãe não chorar e ela responde que era para protegê-la, nesta parte expõe a revolta, a raiva da perda, um certo egoísmo também, a negação em ser ajudada pela mãe, que diz estar fazendo o melhor. Do outro lado Christophe volta a rever o pai depois de 10 anos, um reencontro silencioso e cuidadoso, ambos perguntam se têm raiva um do outro, o silêncio é a melhor opção, pois palavras e ações nada valem quando se está dilacerado.
"Coro" traz uma história cruel com muita sensibilidade e introspecção, este tema costuma ser rejeitado pelo público, é complicado refletir sobre a perda, luto, a dor incomensurável, mas depois do término somos surpreendidos por uma obra com argumento preciso, real e imensamente poderoso. A trilha também é impecável, tanto com as músicas cantadas pelo coro, quanto as que tocam em seu final, a banda canadense Suuns foi uma descoberta maravilhosa.
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