quinta-feira, 13 de outubro de 2016
Eu, Olga Hepnarová (Já, Olga Hepnarová)
"Eu, Olga Hepnarová" (2016) dirigido pela dupla Petr Kazda e Tomáš Weinreb conta a história verdadeira de uma assassina em massa, que nos anos 70 na Rep. Tcheca decidiu colocar toda a sua raiva e angústia para fora através de uma cruel ideia, matar o máximo de pessoas possível atropeladas por um caminhão.
Olga Hepnarová era uma jovem solitária, membro de uma família de coração frio, que não poderia fazer o papel que a sociedade designou à ela. Sua paranoica autoavaliação e a incapacidade de se conectar com outras pessoas levou-a ao limite da humanidade quando tinha apenas 22 anos de idade. O filme mostra o ser humano por trás da assassina em massa sem glorificar ou minimizar o crime que ela cometeu. Guiado por suas cartas, nos aprofundamos na psique de Olga e testemunhamos o agravamento da sua solidão e alienação enquanto reconstruímos os eventos que levaram às suas ações desastrosas.
Olga (Michalina Olszanska) é uma garota que não se encaixa na sociedade, seus pensamentos sempre a levam a questionar se deve se matar, ou matar os outros. Após uma tentativa de suicídio é levada a um hospital psiquiátrico, sua mãe é uma figura fria e ela diz em dado momento para Olga que para cometer suicídio é preciso grande força de vontade, coisa que ela não tem. É um grande estudo de personagem, tentar decifrar sua mente é um desafio, a negligência familiar, abusos e todos os traumas advindos do bullying agravou a sua loucura. No início, Olga parece ser apenas introspectiva, mas com o desenrolar percebemos que há algo mais grave em seu ser, ela é autocrítica, e consequentemente autodestrutiva, a composição da personagem de Michalina Olszanska merece intenso destaque, a postura, gestos, maneira de andar e até de fumar e olhares fazem com que entendamos um pouco de sua personalidade, ela aparentemente é uma menina franzina, frágil, só que em seus atos demonstra força.
Olga depois de sair da clínica resolve deixar sua família e segue para uma espécie de cabana, apesar de não parar em emprego nenhum por não conseguir seguir as regras determinadas, se sobressai como motorista e consegue uma vaga para dirigir um caminhão. Olga se envolve com várias mulheres, mas todos esses relacionamentos terminam não dando certo, suas infelicidades contribuem para sua obsessão de vingança, ela quer que as pessoas paguem por ela ser como é.
A sobriedade do filme impressiona e assusta, a atmosfera de solidão e angústia é ampliada pela fotografia em preto e branco, é uma obra que seduz e ao mesmo tempo desconcerta.
Olga certamente era diferente, uma jovem rebelde que ia contra as normas de uma sociedade comunista, os agravantes de abusos e falta de afeto conferiu a ela uma derrocada mental, onde termina cometendo um ato horroroso. Ela se sentia injustiçada e queria que a sociedade pagasse pelo seu sofrimento. Em nenhum momento Olga se arrepende, ela segue confiante perante o juiz e pede a própria pena de morte.
"Eu sou solitária. Um ser humano destruído. Um humano destruído por pessoas... Eu tenho uma escolha - me matar ou matar outras pessoas. Eu escolho me vingar com meu ódio. Seria muito fácil deixar este mundo com um suicídio desconhecido. A sociedade é tão indiferente, certo. Meu veredito é: Eu, Olga Hepnarová, vítima de sua bestialidade, condenada à pena de morte."
No fim, Olga é levada para a forca e quando encara a realidade que está por vir se desmonta e revela um desespero aterrador, ela esperneia e grita, mas não há mais o que fazer. Há vários pensamentos de Olga que valem bastante reflexão, por exemplo, seria mais preferível não tentar entender, mas apenas aceitar que não podemos compreender um outro ser humano, e em outro momento ela diz que todos tem o mal em si e que pensam em violência, mas só os que nem ela são capazes de agir.
Em abril de 1974, Olga foi enforcada na prisão Pankrác em Praga, tornando-se a última mulher executada na Tchecoslováquia. De acordo com o carrasco, como foi registrado pelo escritor Bohumil Hrabal, pouco antes da execução, Hepnarová desmaiou e teve que ser arrastada para a forca.
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