terça-feira, 23 de agosto de 2016

Modris

"Modris" (2014) dirigido pelo estreante Juris Kursietis é um filme da Letônia que retrata um adolescente apático, viciado em jogos de azar e que tem uma relação turbulenta com a mãe, seu único anseio é descobrir quem é seu pai, mas sua mãe diz que está preso e por alguma razão esconde seu verdadeiro paradeiro, o que o deixa revoltado. Modris não é melhor ou pior do que seus colegas. Ele vai à escola, tem uma namorada, alguns bons amigos. Seu vício em jogos de azar faz o seu relacionamento com a mãe ser difícil. Eles vivem sozinhos, e ela não perde a chance de lembrar-lhe que seu pai está na prisão e que possui um gene ruim. O relacionamento dos dois chega ao limite, quando Modris vende o aquecedor elétrico de sua mãe, ao tentar obter uma vitória em uma máquina de caça-níquel. Ela com raiva vai à polícia e Modris é condenado a dois anos de liberdade condicional. Isto é, quando as suas aventuras com o sistema de justiça começam, juntamente com a mudança de sua relação com o mundo exterior e sua nova meta: encontrar o pai que ele nunca conheceu.
Modris é um personagem interessante, ele não é mau, apenas distante, não tem ambições e tudo se resume a tentar se satisfazer jogando num bar perto de onde mora. Como não tem dinheiro, rouba de sua mãe e vende objetos de sua casa, cansada do comportamento do filho, ela resolve chamar a polícia e denunciá-lo. A situação então se complica, o garoto está sob fiscalização e qualquer deslize o fará ir para a cadeia.
O diretor faz questão que adentremos na história junto de seu protagonista, o estilo de filmagem é natural e quase documental, vamos acompanhando as atitudes e as consequências dos atos de Modris, não tem como ter raiva, ele está perdido, não sabe muito bem o que quer da vida, existe uma carência afetiva enorme, percebe-se isso por seus olhares, quase sempre à procura de alguma coisa. É um grande esforço do ator Kristers Piksa, que apesar de sua apatia exibe uma carga emocional em suas expressões faciais e linguagem corporal.
A mãe (Rezija Kalnina) não o ajuda, certo que está cansada, seu psicológico também precisa ser avaliado, sua atual atitude deve ser reflexo de várias decepções, e coloca toda a sua amargura de ter que se virar sozinha em cima do filho, que necessita de uma atenção mais carinhosa. Então vira um círculo vicioso, um atacando o outro, se aproximam de vez em quando numa tentativa de apaziguamento, mas logo surgem questões espinhosas, como o paradeiro do pai de Modris. Dói ver as ameaças da mãe dizendo que ele será como o pai, um bandido, é muito baixo da parte dela utilizar este artificio e depois reclamar das atitudes do filho.

"Modris" é um filme sólido, documenta perfeitamente a realidade social de jovens problemáticos, com consistência revela sobre relações familiares, numa tentativa de querer que o filho aprenda uma lição a duras penas o afasta mais ainda e o coloca numa posição frágil, a falta de percepção é enorme e os diálogos são inexistentes. 
Algumas particularidades do sistema de justiça do país são abarcadas pela história, burocracias e punições que abrem vários questionamentos, Modris ao ser denunciado pela mãe tem a liberdade condicional, onde é fiscalizado e qualquer deslize, como beber cerveja em público e a perda de documentos são motivos para ser trancafiado na cadeia. Em muitos momentos percebemos que o garoto possui um coração bom e gentil, é realmente uma má sorte que o acompanha. As relações familiares em qualquer parte do mundo tem similaridades, "Modris" exemplifica isso e lembra que muitas mães e pais esquecem-se de cuidar e amar os filhos, preferindo deixar tudo nas mãos do Estado.

A fotografia do filme faz questão de exaltar o clima e o caminho melancólico e solitário do garoto, a cidade coberta de neve, com prédios em estilo bloco, a luz esquálida.
"Modris" é inspirado em uma história verídica, é um drama contemporâneo que traça o perfil de um jovem à deriva, relações familiares quebradas e que se vê cercado por um sistema que mais atrapalha do que ajuda. A interpretação é maravilhosa, sempre passivo e desconectado, o vemos sorrir apenas uma vez, mas habilmente consegue passar empatia, o estreante Kristers Piksa com seu semblante austero soube conduzir o personagem com maestria. 

Um comentário:

  1. É uma tema extremamente atual. O mundo jamais teve uma geração tão perdida e complicada como os jovens dos dias de hoje.

    Abraço

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