segunda-feira, 13 de julho de 2015

A Ilha dos Milharais - Corn Island - Simindis Kundzuli

"A Ilha dos Milharais" (2014) dirigido por George Ovashvili (A Outra Margem - 2009) é um filme simples, sensível, triste e poético. É daquelas lindas e raras obras que com pouquíssimos diálogos conseguem transmitir muito. A força da imagem é exuberante e é minucioso ao retratar ciclos.
O Rio Enguri forma a fronteira entre a Geórgia e a República separatista da Abecásia. A tensão entre as duas nações se mantém desde a guerra de 1992 e 1993. Toda primavera, o rio leva o solo fértil do Cáucaso até as planícies da Abecásia e do noroeste da Geórgia, criando pequenas ilhas, pequenas terras de ninguém. Um velho agricultor constrói uma cabana para ele e sua neta adolescente numa dessas ilhas. Ele ara a terra e juntos semeiam o milho. Assim como sua neta adolescente se transforma em uma mulher e assim como o milho amadurece, o velho agricultor se depara com o inescapável ciclo da vida.
O longa se passa todo nessa ilha que se forma no meio do rio e cuja terra é fértil, o homem (Ilyas Salman) começa a construir uma casinha de madeira e a preparar a terra para plantar milho com a ajuda de sua neta (Mariam Buturishvili), acompanhamos um árduo trabalho, eles pelo que parece não tem uma proximidade, deduz-se isso pelos olhares da menina, é certo que ela deva ter perdido os pais pra guerra. Estando numa fase de transição de menina para mulher toda vez que os soldados passam por lá fazem gracinha, desconfortável e vulnerável em diversas ocasiões ela se esconde para poder se limpar, o seu desabrochar anda junto com o ciclo da natureza, aliás maravilhosamente bem retratado, a plantação aos poucos crescendo, as tempestades que os ameaçam, e todas as mudanças que se dá nesse lugar com o tempo. As imagens vão nos contando a história, o homem que cada vez mais parece cansado, suas mãos calejadas, seu rosto marcado, em contrapartida com a neta, que tem muito ainda por descobrir e aprender.
O filme é uma experimentação maravilhosa, um exercício de contemplação, as belezas naturais, o processo da natureza, o trabalho pesado, a espera, o espaço, as angústias. Lembrando bastante "Tangerines", uma obra tão linda quanto, reflete sobre a estupidez da guerra e as suas consequências. Eles estão em uma terra de ninguém, mas as ameaças chegam pela ronda constante dos soldados, principalmente quando encontram um homem ferido no milharal, a vulnerabilidade dos personagens se tornam mais latentes, assim como a tensão.
É um belo trabalho cheio de poesia capaz de nos emocionar, toda a sequência final por exemplo é de cortar o coração, mas era esperado, pois do mesmo modo que a natureza a permite cultivar, também pode ser agressiva e destruidora. Os ciclos são retratados de forma minimalista e nos encanta a cada cena. É bonito, apesar de dificultoso ver todo o trabalho, a construção da casinha, a plantação crescendo, assim como os simbolismos expostos envolvendo a transição da menina. Esse tipo de obra imersiva não tem como não acrescentar em nossa vida, é de uma beleza imensurável, os poucos diálogos bastam e os detalhes e gestos fazem toda a diferença.

Sob um ritmo lento e delicado acompanhamos as mudanças, seja da pequena ilha e a plantação, do avô e da neta, além dos conflitos que acontecem ao redor.
"A Ilha dos Milharais" une assuntos como política e natureza e ainda nos faz pensar sobre a inevitável passagem do tempo e seus ciclos.

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