sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O Jardim (Zahrada)

"Zahrada" (1995) produção eslovaca de Martin Sulík (Panorama - Krajinka - 2000) é um filme que passeia pela surrealidade e o transcendentalismo. Tudo começa quando Jakub (Roman Luknár) é expulso de casa pelo seu pai depois que ele é pego fazendo amor com uma mulher casada. Ele resolve sair da cidade e dar um tempo no campo. Na antiga casa de seu avô - mais exatamente no jardim. Lá, Jakub lentamente deixa a realidade para trás. Pessoas fora do comum o visitam e coisas estranhas começam a acontecer, algumas delas parecem milagres. Entretanto, Jakub descobre o verdadeiro amor com Helena (Zuzana Sulajová), que o ensina a apreciar os delicados mistérios da vida.
Muitos simbolismos são apresentados nesta obra naturalista que expõe as relações pessoais, os desejos, as escolhas, dentre tantas outras questões que afligem os seres humanos. Da forma mais leve possível acompanhamos o personagem Jakub em suas descobertas. A linguagem do filme é poética, se distancia das narrativas convencionais e é fácil ficar confuso, por vezes as situações são aleatórias, mas aos poucos entramos na aura do filme e percebemos que a delicada abordagem é para nos proporcionar sentimentos dos quais estão se extinguindo com o atual modo de vida.
Jakub é professor, mas há algum tempo deixou de lecionar, morando com o pai alfaiate se relaciona com uma mulher casada, após serem pegos resolve ir morar na antiga casa de seu avô, do qual possui um jardim com macieiras e ameixeiras, a casa está velha, mas é um lugar aconchegante que vai propiciando a Jakub experiências novas, lá ele conhece uma moça de atitudes estranhas, mas muito apaixonante por ser tão espontânea.

Está cada vez mais difícil viver em sociedade, há sempre muitos obstáculos, modos de se portar, regras a seguir, meios de se comunicar que a naturalidade de simplesmente ser o que se é fica impossível, além de que há muita competição e comparação, viver de acordo com o que brota dentro de seu ser é inviável, é preciso estar sempre a frente, saber e ter muito. Diante disso resta espaço para viver, essencialmente? Descobrir simplicidades, pequenas poesias, ouvir, aprender e ser gentil? Uma das coisas mais bonitas em Jakub é o seu olhar perante os outros, várias personagens aparecem em seu jardim em diversas situações e ele sempre escuta, pega para si e de certo modo vai se transformando. E assim, o amor por Helena vai crescendo e sua relação com o pai vai ganhando contornos interessantes, diferentes do início do filme.

"Zahrada" é filme para rever, é sensível e subjetivo. Filmes assim deviam ser mais conhecidos, mas infelizmente o que predomina é o mais do mesmo fazendo com que a grande maioria adquira um gosto padrão, e aí fica complicado aceitar algo com uma linguagem mais poética. Compartilho com carinho este filme e espero que muitas pessoas o consigam assistir para se inebriarem com tamanha beleza. O imenso jardim coberto de maçãs dificilmente será esquecido.

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