segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Movimento Browniano (Brownian Movement)
"Movimento Browniano" (2010) dirigido pela holandesa Nanouk Leopold retrata a médica Charlotte, que tem encontros amorosos com alguns de seus pacientes, quando seu marido descobre a obriga a fazer terapia. Logo após, o casal muda-se para a Índia e tudo parece ter voltado ao normal, mas as coisas nem sempre são o que parecem. O filme é dividido em três partes, o início se concentra em mostrar o vício em sexo de Charlotte, ela escolhe aleatoriamente os homens que deseja ter relação, mas não há nenhuma satisfação nisso. Os homens são dos mais variados: peludos, velhos, gordos, magros, feios. Ela cria um mundo a parte do seu e chega até alugar um apartamento para esses estranhos encontros. Não dá para saber o porquê Charlotte faz isso, pois aparentemente tem uma vida maravilhosa, emprego estável, marido bonito e compreensivo, filho educado e inteligente, a mente humana é uma incógnita.
A ideia é extremamente interessante, o título dá a dica, mas não revela. Como no movimento browniano, Charlotte é movida ou puxada pela aleatoriedade. A segunda parte nos mostra o quanto Charlotte não sabe a motivação de seus atos, depois de ser abordada por um homem que fez sexo com ela, se choca e o agride, para ela aquele mundo paralelo jamais se encontraria com o real. Desse modo seu marido descobre suas puladas de cerca, inclusive sobre o apartamento alugado, e muito compreensivo por saber ser uma doença a acompanha na terapia. As revelações desta mulher são ousadas e não dá para saber o porquê do marido se submeter a tanto, seria por amor, baixa auto-estima, ou apego à família?
Não há explicações para o que Charlotte faz, a terapeuta faz perguntas e ela simplesmente fala sobre os fatos, não o que a impulsiona e o que a faz escolher aqueles homens. Diante a tantas perguntas sem respostas é afastada do seu cargo de médica por apresentar perigo aos pacientes. Aí surge a terceira parte, uma espécie de consequências de seus atos. Ela, o marido e o filho se mudam para a Índia, nesta fase Charlotte tem mais dois filhos, talvez com o intuito de recomeço familiar, mas a confiança já não é a mesma, nada que aconteça faz com que o ocorrido se perca no tempo. O casamento vai se deteriorando, Charlotte se reserva cada vez mais e com isso vem mais desconfiança. Ambos precisam encontrar uma maneira para continuar vivendo, mas será que existe um caminho?
Toda essa história é muito interessante, mas apenas no conceito, na ideia; o filme peca demais em seu desenrolar, são planos estáticos demasiadamente longos, como que para refletir acerca desta personagem tão complexa. Os dramas do casal nunca são discutidos de forma convencional, aos gritos ou em discussões infindáveis, eles são expostos no silêncio, mas isso não significa que não tenha sentido. Charlotte é uma pessoa ausente da vida, fria nas suas emoções, ela está em conflito com sua natureza. O filme não nos dá respostas, apenas dúvidas em cima de dúvidas.
A segunda parte é mais interessante e prende a atenção, justamente por causa do confronto com a obscuridade de sua mente, é incompreensível até para ela, pois é um movimento de que ela precisa, apesar de não satisfazer.
É um tipo de cinema para trabalhar a nossa observação, um dos motivos de se tornar enfadonho. A grande propulsão do ser humano é a dúvida, sem ela as possibilidades não existiriam. E assim se dá o final, repleto de dúvidas, das quais muitas delas permanecerão sem respostas.
"Movimento Browniano" retrata a condição de se entregar a algo aleatoriamente sem necessariamente ter alguma relação, mas, que por fim, pode gerar reações caóticas.
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