segunda-feira, 13 de junho de 2022
Minha Vida Perfeita (Moje Wspaniale Zycie)
"Minha Vida Perfeita" (2021) dirigido por Lukasz Grzegorzek (A Filha de um Treinador - 2018) é um filme polonês que retrata as facetas de uma mulher que possui muitas responsabilidades e que diante da falta de afeto da família cria uma vida paralela da qual mais a frente acarretará uma série de paranoias e um amontoado de desentendimentos.
Joanna (Agata Buzek), de meia-idade, tenta incansavelmente conciliar ser mãe, filha, avó, esposa, amante, dona de casa e professora do ensino médio. Mas ela parece estar perdendo a paciência. Joanna é uma mulher que detém grandes responsabilidades, principalmente com a mãe que está perdendo a memória devido ao Alzheimer, além disso precisa lidar com a presença do filho mais velho que mora na casa com sua esposa e o bebê, não existe um tempo para si dentro dessa configuração que ainda inclui seu marido, o diretor da escola que leciona e o filho adolescente que parece não suportar o ambiente e se fecha em seu mundo. Ela só respira quando depois de suas aulas particulares na antiga casa de sua mãe coloca uma música alta e fuma um baseado, lá ela encontra sua feminilidade novamente e se encontra com um professor excêntrico, são momentos únicos e que servem para entendermos seu cansaço em relação a tudo.
A história não está interessada no que é certo ou errado, simplesmente desenvolve a narrativa de maneira intimista e cadenciada a fim de expor a vida como ela é realmente, sem grandes acontecimentos, mas revela o quanto vale um diálogo na tomada de decisões importantes, porém nem sempre a vontade de conversar existe, o que torna algo que poderia ser resolvido facilmente em algo desconfortável. É interessante observar o cotidiano dessa família, não há floreios e nem força a barra criando situações para entreter o espectador, mas por muitas vezes a tensão cumpre seu papel nos dando a oportunidade de tentar deduzir quem estará por trás dos bilhetes deixados para Joanna em razão de sua infidelidade, a paranoia agrava quando acha que é algum de seus alunos e o segredo fica cada vez mais difícil de ser mantido. As maneiras que encontra para desvendar quem está por trás das mensagens são tão estranhas que por fim torna todos dessa trama em seres completamente egoístas e sem nenhum elo de afeto, todos ali estão convivendo sob o mesmo teto sem necessariamente se importar, o fato de Joanna não ceder a casa da mãe para o filho mais velho morar - sendo que isso tiraria um baita peso de suas costas - é que ela não quer ser invadida em mais outro espaço, necessita desse momento em que se torna ela mesma sem se importar com sua imagem de mulher perfeita.
É um filme para se assistir sem grandes expectativas, simplesmente é o retrato da vida de uma família que possui defeitos um tanto desagradáveis, e também veja sem julgamentos até porque nunca é por uma única razão que tais coisas acontecem, como a traição por exemplo, e o fato de suas tomadas de decisões ou a falta delas incomodam, mas claramente porque estamos de fora analisando, a complexidade norteia essas questões e o desfecho revela ainda mais essas camadas, como a que envolve o filho adolescente e suas motivações e o grand finale dela chorando com a mãe, os filhos e nora a abraçando, inclusive com o marido presente e logo após o amante chegando visualizando a cena.
"Minha Vida Perfeita" pode não agradar por não estar nos moldes convencionais de narrativa e pode parecer um tanto lento e sem foco, mas os personagens e suas ações desconfortáveis nos dizem muito sobre relações e sobre como a maioria lida com a imagem da família perfeita, e essencialmente do como a sociedade enxerga a mulher que é responsável por um conjunto de obrigações que acabam a anulando. Ainda que trate dessas complexidades do ser humano é um filme leve e até descontraído. É sempre vantajoso exercitar o diálogo, mas nem sempre é fácil e nem sempre se quer ter conversas, pois é muito mais fácil seguir com os segredos.
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