terça-feira, 5 de novembro de 2019

Normandia Nua (Normandie Nue)

"Normandia Nua" (2018) dirigido por Philippe Le Guay (Pedalando com Molière - 2011, Floride - 2015) é um filme despretensioso que passa por diversas questões interessantes sem aprofundá-las, na verdade o que marca é seu imenso senso de comunidade para as tentativas de mudar muitas das coisas locais, a interação entre os habitantes da pequena vila pontuam a narrativa com graça e simplicidade.
Georges Balbuzard (François Cluzet) é o prefeito da pequena cidade de Mêle sur Sarthe, na Normandia, onde os agricultores vêm sofrendo cada vez mais por conta de uma crise econômica. Quando o fotógrafo Blake Newman (Toby Jones), conhecido por deixar multidões nuas em suas obras, está passando pela região, Balbuzard enxerga nisso uma oportunidade perfeita para salvar seu povo. Só falta convencer os cidadãos a tirarem a roupa.
Acompanhamos a crise econômica e a quase falência dos fazendeiros locais, não há mais saída para seus produtos e tudo indica que irá piorar, o prefeito Balbuzard junto de outros começam a mobilizar protestos e promover a paralisação da estrada, esse fechamento ocasiona um imprevisto para um famoso fotógrafo americano que buscava o cenário perfeito para uma foto, obrigado a voltar para trás se depara com um campo do qual o fascina e é aí que decide conceber seu trabalho que consiste em desnudar o máximo de pessoas e posicioná-las nesse grande campo, o prefeito encontra nessa ideia uma forma de chamar a atenção das autoridades e a possível salvação para a comunidade, mas não será fácil convencê-los a tirar a roupa. Alguns aceitam na hora e veem realmente como uma saída e outros acham uma calamidade. A história volta e meia centra-se em um ou outro personagem sem muito alarde, como a rixa de dois fazendeiros por causa de um terreno, especificamente o campo que o fotógrafo se encantou, Thierry (François-Xavier Demaison) que veio com a família de Paris para se livrar do caos da cidade e termina não se dando bem com a natureza, mas mesmo assim insiste e dá uma forçada nessa interação, o prefeito enlouquecido querendo cuidar de tudo, o casal que se forma do nada, a destemida Charlotte (Daphné Dumons) e o jovem Vincent (Arthur Dupont) e a adolescente Chloé (Pili Groyne), filha de Thierry, narradora da história e completamente avessa ao estilo campal e de toda a estrutura do agronegócio. Todos se entrelaçam com harmonia e fluidez trazendo com inteligência temas atuais e importantes, dispõe a visão característica do local e espontaneamente vão surgindo os assuntos, como crueldade animal, aquecimento global, o uso de pesticidas, entre outros. 

Cada personagem possui sua visão, mas claramente os parisienses e especialmente Chloé é a que mais abomina a vida rural, ela indica os males sobre o consumo de carne e os efeitos que o planeta sofre por conta das emissões de gases, o pai dela desistiu da vida na cidade pensando que seria mais feliz no meio do mato, mas no decorrer vemos que ele vai adoecendo e mentindo para si próprio ao dizer que prefere a vida ali, engraçado que realmente existe essa forçação de barra em muitas pessoas que dizem amar a natureza, mas que não aguentariam nem uma hora do sossego e das dificuldades. Dos personagens este é o mais engraçado por demorar a admitir que não vive sem o barulho e o cheiro da poluição da cidade.

Em meio a esses assuntos que permeiam a história o que na verdade tem ênfase é se a tal foto irá ser feita, pois o americano não consegue suportar algumas atitudes dos fazendeiros e quando o dia chega os maiores interessados acabam não indo e o prefeito se chateia e o fotógrafo esquisito vai embora. Daí novas opções surgem e a união ganha forma, mostra o poder da amizade, da coletividade e a energia depositada numa causa.
"Normandia Nua" é uma comédia que não ambiciona julgar, são diversas visões e entrelaça seus personagens com desembaraço, retrata a vida rural na região e as atitudes de cada um finalizando de modo bem alegre e empático.

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