quinta-feira, 21 de novembro de 2019

The Nightingale

"The Nightingale" (2018) dirigido por Jennifer Kent (O Babadook - 2014) é um drama pesado, violento e muito emocional, carregado em cenas chocantes e transformadoras o terror real chega com brutalidade, mas também com sensibilidade e poesia, uma produção de ambientação sufocante acompanhada por uma narrativa silenciosa e repleta de sentimentos. 
Na Tasmânia de 1825, Clare (Aisling Franciosi) uma condenada irlandesa testemunha o assassinato brutal de seu marido e seu bebê por seu mestre soldado (Sam Claflin) e seus amigos. Incapaz de encontrar justiça, leva um rastreador aborígene com ela através do deserto infernal em busca de vingança.
Não é um filme convencional de vingança, existem questões profundas e dolorosas envoltas e que se mostram no decorrer da jornada entre uma mulher despedaçada e pelo seu guia aborígene também despedaçado. Claire cometeu um crime na Inglaterra e foi levada como prisoneira para a Tasmânia, ela está nas mãos de um tenente que pagou suas dívidas e por esse motivo está em dívida com ele, ela sonha poder se desprender desse carrasco e refazer sua vida ao lado do marido e seu bebê, mas depois de desentendimentos seu marido é morto juntamente com o seu filho numa cena perturbadora e imensamente cruel. Devastada, encolerizada e solitária decide pegar seu cavalo e ir atrás dos assassinos, mas o lugar inóspito e estranho só é amplamente conhecido pelos seus nativos que foram massacrados pelos ingleses e os que restaram tiveram que se tornar escravos e se adaptar aos costumes, e é com a ajuda de Billy (Baykali Ganambarr) que a contragosto inicialmente decide guiá-la, claro que ela não diz o verdadeiro propósito de sua busca e os dois partem em meio a natureza selvagem e encontram diversos obstáculos, especialmente na alimentação e nos preconceitos que um tem pelo outro.
A raiva de Claire é expelida por todos os seus poros, sua dor é tanta que não consegue pensar no que realmente acontecerá se encontrar os militares, Billy por sua vez se limita apenas a mostrar os atalhos, porém à medida que essa claustrofóbica viagem avança suas dores se unem e se transformam, ele a protege e cuida para que se alimente, começa a caçar e a roubar, conta sobre sua família e seu povo assassinado e tantos outros submetidos a maus-tratos, Billy percebe que Claire na verdade busca vingança e se interessa a conhecer seu passado cujos algozes são os mesmos que lhe tiraram tudo e a partir daí compreende seu objetivo. Diferentes entre si, porém semelhantes na dor da perda e é diante desse entendimento um do outro que nasce a cumplicidade, lealdade e respeito. 

O fundo histórico da trama destaca quando a Inglaterra no início do século XIX começou a explorar e colonizar a Tasmânia deportando uma imensa população carcerária de ingleses, galeses e irlandeses a fim de que após a sentença cumprida trabalhassem pesado e, obviamente, retratando todo o horror do genocídio cometido contra os aborígenes. Claire era uma prisioneira e foi "ajudada" por um militar, só que permaneceu como escrava trabalhando, cantando para os soldados no bar e constantemente sendo estuprada. O ponto histórico aterrador dá ao filme uma outra forma ao gênero vingança, ganha outros tons e camadas e ao final se transforma, Claire resiste o quanto pode e sua raiva é alimentada por um longo período da jornada, mas acontecem tantos infortúnios que a deixam à beira da loucura e minguam toda a sua força, e então Billy encontra em Claire uma forma de libertar também a sua necessidade de vingança. 

"The Nightingale" é um filme forte, sua abordagem é brutal, mas também possui seus momentos belos e poéticos, as interpretações crescentes e viscerais ajudam neste contexto junto de sua ambientação opressiva e violenta, além da paisagem selvagem que preenche a tela.

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