terça-feira, 12 de setembro de 2017

Perdidos em Paris (Paris Pieds Nus)

"Perdidos em Paris" (2016) dirigido pelo casal Dominique Abel e Fiona Gordon (La Fée - 2011) é um filme que se inspira nos filmes mudos para compor um humor puro e suave que nos deixa embriagados de felicidade, impossível não se encantar com a delicadeza das cenas, personagens e situações surreais, acredito que este tipo de cinema seja essencial para que possamos dar asas à nossa imaginação que com o dia a dia acaba sendo eliminada. 
Fiona (Fiona Gordon) é uma bibliotecária de uma pequena cidade canadense estranhamente sedutora, e Dom (Dominique Abel) um vagabundo estranhamente egoísta. Quaando a vida certinha da bibliotecária é interrompida por uma carta de socorro, vinda de Paris de sua tia de 93 anos (Emmanuelle Riva) - ela pega o primeiro avião para Paris e descobre que a tia desapareceu. Ela encontra um vagabundo afável, mas chato, que não vai mais deixá-la sozinha.
O filme é dirigido, roteirizado e protagonizado pelo talentoso casal de clowns Fiona e Dominique, que tem como característica resgatar um tipo de humor que já não é mais usado, que é basicamente físico e evoca os mestres Jacques Tati, Buster Keaton, Harold Lloyd e Charles Chaplin, são cenas hilárias em que expressões exageradas substituem diálogos promovendo assim momentos sinceros de muito humor, de uma aparente bobagem surge uma cena memorável. "Perdidos em Paris" marca também por ter a última aparição de Emmanuelle Rivas, que imprimiu sua personalidade à personagem, sem dúvidas, uma despedida mágica.
As cores são extremamente vivas e vibrantes, caminhamos pelos famosos pontos de Paris, mas esses lugares são mostrados sob peculiares perspectivas, por exemplo, focando na Estátua da Liberdade que fica numa ilhota no Sena. Enquanto Fiona tenta encontrar sua querida tia Martha, Dom, o mendigo, a segue e a guia pelas ruas, inclusive, o encontro deles é incrível, Fiona acaba perdendo sua mala ao cair no Rio Senna tentando tirar uma foto, Dom a encontra, pega as suas roupas, as veste e resolve gastar o dinheiro com um bom jantar, lá a convida para dançar e pronto, se apaixona, e então decide devolver as coisas para ela, o mais engraçado são os espaços entre esses acontecimentos, o desenvolvimento dos personagens com suas singularidades e situações surreais que os rodeiam. A cena de Dom tentando comer numa mesinha no canto do restaurante, ele convidando as mulheres do local para dançar, e tudo isso vai se entrelaçando com a fuga da tia Martha. 

Fiona acostumada a sua pacata e gelada cidade do Canadá chega na cidade luz cheia de expectativas, mas logo se vê nos mais diversos e bizarros obstáculos, o primeiro é que não sabe falar muito bem francês e estando perdida sem absolutamente nada e não sabendo aonde sua tia foi parar, vai vagando pela cidade junto ao mendigo Dom se metendo nas mais descabidas peripécias, enquanto isso tia Martha também anda pela cidade, pois não admite ir para uma casa de repouso, não aceita que sua vida seja descartada assim.
A narrativa mostra Fiona, Dom, Martha e depois une-os, tudo ritmicamente perfeito, e por vezes dando ar de improviso, o que faz a diferença e não faz dos clichês tão clichês. Difícil escolher uma cena especial, são muitas que de maneira simples encantam, elas vêm sem esperarmos com elementos sutis e nos arrancam sorrisos, como é o caso da dancinha com os pés de Martha e Norman (Pierre Richard), um antigo amigo dela. Esbanja delicadeza!

Emmanuelle Rivas se despede desse mundo com magia e nos deixa como lembrança uma última e vigorosa atuação, que é ela mesma, e esse elo entre si mesma e a personagem é algo poético, transcendental.
Resgatando o humor gestual, essa comédia francesa merece todos os elogios, os parceiros Fiona e Dominique tanto na vida profissional como na amorosa nos presenteia com gags divertidíssimas, Dominique Abel consegue nos fazer rir só de olhar para ele, seus olhos, forma de se mexer, e apesar de ser exagerado não soa forçado, é um humor sincero feito com carinho. 

"Perdidos em Paris" nos captura pela beleza do simples, da ingenuidade e proporciona emoções deliciosas, lembramos do como é bom rir de algo espontâneo e toda a sensibilidade exposta faz com que nossa imaginação seja liberta. É daqueles filmes que aquecem nosso coração, que nos preenchem no final da sessão, assisti-lo é um chamego que fazemos a nós mesmos. 

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