quinta-feira, 24 de maio de 2012

Um Novo Despertar (The Beaver)

"Um Novo Despertar" (2011) dirigido por Jodie Foster, que também protagoniza o filme, reflete sobre algumas questões bem interessantes. O título original "The Beaver" garante mais seriedade e não dá o teor de autoajuda que o traduzido carrega, é um filme reflexivo e com uma forte carga dramática, apesar dos alívios cômicos.
O filme começa quando Walter Black (Mel Gibson), embriagado e nada resoluto de suas atitudes, tenta inutilmente o suicídio repentino. Ele faz de tudo, ameaça se jogar pela janela, tenta se enforcar no banheiro com o pescoço envolvido pela gravata. Nada dá certo, o que funciona é o inesperado. Num tropeço, a televisão cai sobre sua cabeça, o que faz com que ele perca a consciência e desmaie. No mesmo instante do acidente, Walter estava com um fantoche de um castor no braço esquerdo. Ao acordar, o castor, através de seu corpo assume voz e personalidade própria. Ele fala através dos lábios de Walter, mas com outra voz e com outra personalidade. Segundo o castor, ele será o guia de Walter, promete tirá-lo da depressão e recolocá-lo no caminho da felicidade. E as coisas começam a dar certo mesmo, pois ele se reaproxima dos filhos, da mulher e retoma suas atividades na empresa que herdou do pai, elevando seu valor de mercado com ideias e implantando uma nova maneira de gerência. Ele não se afasta nem por um segundo do castor, nem no banho, nem no trabalho, nem no sexo. Mas é óbvio que as coisas acabam fugindo do controle.
Após certo tempo, em meio a alguns dias de glória, Walter não sabe mais lidar com a situação, foi tomado pela persona autoritária do fantoche. Como consequência, acaba disputando o mesmo corpo com ele que, na verdade, é ele mesmo. E se todo o embate teve início em um acidente involuntário, o fim dele se dará de maneira forçada, num lampejo de consciência. Apesar desse registro passar antes por um processo de análise psicológica, esses dois animais esquadrinhando um mesmo braço não respondem pela mesma voz, não compartilham de semelhantes vontades. Mas Walter deveria saber disso quando resolveu retirar o castor do lixo. Walter pegou o que não prestava mais para tentar mudar a sua vida, e conseguiu.
Há pitadas de humor, mas o foco está no drama, no homem burguês e solitário que ao atingir o limite de seu poder, se olha no espelho e, incrédulo, não se vê, não vê nada lém de um rosto cansado. 
A narração usa um tom divertido para fugir um pouco do drama, mas o longa se desenvolve de maneira séria. Apresenta a surpreendente atuação de Mel Gibson, o qual interpreta perfeitamente Walter Black e o seu fantoche, preso numa loucura quase inocente.

A sensível direção de Jodie Foster demonstra como a relação familiar influencia no modo de viver, no convívio com outras pessoas e na forma de ver o mundo. Walter parece ter outro problema além da depressão, chega um ponto em que o castor parece assumir sua personalidade e ele passa a lutar para tomar o controle da situação, literalmente. A cena evidencia uma mórbida dupla personalidade.
O fantoche encontrado no lixo por Walter se torna seu amigo e conselheiro, e mais do que isso, a projeção ideal de si mesmo.

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