quinta-feira, 17 de maio de 2012

Casa Vazia (Bin-Jip)

 
Kim Ki-Duk é um diretor que se exprime através de imagens conforme o decorrer da narrativa, privilegiando a estética visual em detrimento dos diálogos, o espectador tira suas próprias conclusões em determinar o sentido metafórico que essas imagens representam.
Tae-suk é um jovem que vagueia na sua moto em busca de casas vazias onde possa ficar alguns dias até que os donos regressem. Nunca rouba ou estraga nada dentro da casa. Simplesmente, guarda-a durante alguns dias, arruma objetos estragados e até lava a roupa. Um dia, invadindo uma casa rica encontra o seu destino, uma mulher casada chamada Sun-hwa, que sofre tormentos nas mãos do seu marido. Enquanto Tae-suk se esgueira pela casa, Sun-hwa esconde-se no escuro e espreita-o silenciosamente. Nessa noite, Tae-suk acorda petrificado quando descobre Sun-hwa a olhar para ele. Vai embora. Mas mesmo depois de partir, Tae-suk não consegue deixar de pensar nos olhos tristes e suplicantes de Sun-hwa. Quanto mais tenta esquecê-la, mais vívida se torna a imagem daquela mulher.
É difícil classificar "Casa Vazia". Será um filme sobre amor? Tratando-se de uma abordagem espiritual entre dois seres? Todas essas questões surgem quando o assistimos. Mas a verdadeira beleza do longa está na contemplação do silêncio. Com poucos diálogos, os protagonistas tem a tarefa de elevar o filme às custas da expressividade facial. Tal como em "Primavera, Verão, Outono, Inverno e Primavera" - 2003, o realizador coreano apresenta um retrato de caracterização de personagens baseando-se em diversos aspectos metafóricos e simbólicos. Em "Primavera, Verão, Outono, Inverno e Primavera" a água simbolizava o elemento condutor da vida e as estações do ano simbolizavam as várias etapas da vida. Em "Casa Vazia" destaca-se o simbolismo de um taco de golfe, o Ferro 3, curiosamente este é o taco mais forte e pesado que existe. Com este objeto ele se vinga do marido de Sun-hwa por tê-la agredido, e é através deste objeto que o amor à primeira vista acontece, pois ela se sente protegida ao ver ele atacando o seu marido.
Este filme é para ser sentido e não entendido, o tanto de sentimentos envolvidos, frustrações, desespero nos protagonistas, sabe-se só de olhá-los, não requer explicações, está tudo lá na face dos personagens. 
A ideia de família desaparece e reina a inevitabilidade da solidão e do silêncio. O lar passa a ser fugidio, e de casa em casa busca-se um lar, busca-se uma vida qualquer. Mas mesmo assim nas circunstâncias mais adversas como na prisão, o personagem sente-se em casa, tendo um lar, porque a sociedade pode lhe tirar tudo, menos uma coisa: sua liberdade. Algumas vezes soa como um filme sobre um processo de resistência. Isso fica claro na cena da prisão em que, enquanto o guarda violenta o protagonista, ele encontra formas de resistir, de transcender à violência daquele mundo, até se tornar semi-invisível, imaterial, como a tradição das artes marciais japonesas.

No filme todo só existe uma música tocada, todas as vezes que eles chegam em alguma casa ligam o toca CD sempre de maneira ritualizada. A música é Gafsa (Nome de uma cidade da Tunísia), de uma cantora e compositora belga que canta em árabe, Natacha Atlas.
Tae-suk vai treinando para se tornar uma entidade capaz da invisibilidade e assumir e viver a vida dos outros. Lá pelo final Sun-hwa sabe que ele está ali na casa dela, mas não o vê e sabendo que está atrás, abre os braços e vai andando de costas até prendê-lo contra a parede. Quando o marido sai os dois se encontram, sobem numa balança que marca 0Kg, nesse momento eles estão livres de todo o peso, desmaterializados e ao mesmo tempo completos.

"Somos todos casas vazias à espera de alguém que nos abra a porta e nos liberte."

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