segunda-feira, 6 de abril de 2020

Retrato de uma Jovem em Chamas (Portrait de la Jeune Fille en Feu)

"Retrato de uma Jovem em Chamas" (2019) dirigido por Céline Sciamma (Tomboy - 2011) é um filme extremamente belo e sedutor visualmente e narrativamente arrebatador. Uma obra-prima delicada repleta de sutilezas.
Na França do século XVIII, Marianne (Noémie Merlant) é uma jovem pintora que recebe a tarefa de pintar um retrato de Héloïse (Adèle Haenel) para seu casamento sem que ela saiba. Passando seus dias observando Héloïse e as noites pintando, Marianne se vê cada vez mais próxima de sua modelo conforme os últimos dias de liberdade dela antes do iminente casamento se veem prestes a acabar.
Ambientado na França do século XVIII acompanhamos a história da pintora Marienne que é contratada para realizar o retrato da jovem Héloïse, prometida em casamento a um italiano, contrariada se recusa a posar a qualquer pintor que se aproxime, o fato é que a obrigação do casamento a perturba demasiadamente, pois a noiva seria sua irmã, mas devido um "acidente" ela precisou ocupar este lugar. A condessa, mãe de Héloïse diz a Marianne para se aproximar de forma cautelosa e a princípio como uma dama de companhia para assim conseguir captar os traços e conseguir pintá-la. É montado um improvisado estúdio num salão que disfarçou como um quarto e entre os lençóis pendurados coloca seus materiais. Nesses passeios a observação e os olhares ganham uma força primorosa, o filme nos arrebata pelas sensações dos pequenos gestos, pelos detalhes de cada cena, tudo quer dizer algo e faz diferença para o desenrolar. Marianne se esforça para capturar e imaginá-la posando em sua frente, mas após o quadro finalizado ela decide dizer o real motivo de sua estadia ali, a condessa concorda e Héloïse ao ver seu retrato não gosta por não ter verdade. Decidida a posar para Marianne, a relação vai ganhando camadas e mais íntimas se tornam quando se veem sozinhas nesse local tão remoto, também nesse tempo estreitam o laço com a empregada Sophie (Luàna Bajrami), que se vê precisando de ajuda num determinado ponto.
Um filme marcante, silencioso e muito imersivo, seja pelos olhares sutis, o desejo aflorando, as pinceladas e a arte nascendo, assim como a  intensidade da intimidade, as conversas que iluminam, a cumplicidade entre elas, sequências que enchem os olhos tamanha a beleza, como os poderosos cenários naturais destacando a melancolia. O romance foge completamente das fórmulas e entrega com verdade a situação, pois o amor entre duas mulheres nesta época é algo que jamais seria aceito. 

Apesar de ser um filme quieto, seus símbolos no decorrer acendem nossa atenção e nos faz entrar na história, as camadas de sentimentos, o desenvolvimento e o seu poético fim tão cheio de significados e intensamente apaixonado. As protagonistas são mulheres corajosas e resistentes mesmo tendo a consciência de seus destinos, não só Marianne e Héloïse, mas Sophie também, há importantes momentos em que a irmandade entre elas são evidenciadas e mostram o quão fortes são.

"Retrato de uma Jovem em Chamas" se inspirou no mito de Orfeu, possui a aura dos clássicos da literatura e a trama é pontuada por um concerto de Vivaldi, "Verão" de "As Quatro Estações", fascinante como deu completude à essa obra tão intensa e apaixonada.

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