sexta-feira, 4 de abril de 2014

Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive)

"Only Lovers Left Alive" de Jim Jarmusch retrata a história de um casal de vampiros cansados da sociedade onde vivem. Indo contra a maré que exalta a imortalidade, Jarmusch prefere mostrar a melancolia e o tédio que permeia o dia a dia deles. A imortalidade não é tão sedutora se tudo de importante já foi visto e vivido.
Adam (Tom Hiddleston) é muito quieto e pensa demais nas mudanças que ocorreram durante os séculos, em todos os seus diálogos existe uma crítica para o modo que os humanos, denominados como "zumbis" por ele, vivem. Eve faz um contraponto a figura de seu amado, enquanto ele veste preto e vive amargurado por sua condição, Eve (Tilda Swinton) é uma figura clara que esbanja desejos e vontades. Ambos são muito intelectualizados. No início estão afastados, morando em locais diferentes do mundo, mas os opostos quanto mais longe, mais fracos se tornam, portanto não demora para que Eve vá ao encontro de Adam.
Conseguir se alimentar se tornou algo perigoso, já não se pode sair atacando as pessoas no meio da rua como no século XV, é preciso ficar escondido. Além de que eles são suscetíveis às impurezas do sangue, como doenças e drogas. Em certo momento surge a irmã de Eve, interpretada por Mia Wasikowska, que parece ter instintos mais primitivos e intenções duvidosas. Mas o casal é muito forte, os dois juntos construíram algo incapaz de se quebrar. De fato, é muito poético, o sentimento é a mesma de ler aqueles romances carregados de melancolia, a sensação é de saudosismo por uma época em que tudo parecia mais profundo.
O filme faz muitas referências culturais, desde Schubert a Lord Byron, além dos nomes dos personagens remeter aos primeiros moradores da Terra. O melhor amigo de Eve, interpretado por John Hurt, é o vampiro Marlowe. Christopher Marlowe foi um poeta e dramaturgo que morreu em circunstâncias misteriosas no século XVII. Também há referências atuais e do cenário underground, como Jack White. Todas essas referências fazem com que o filme se torne delicioso para o espectador. E por falar em delicioso, as cenas em que eles ingerem o sangue é as das mais bonitas, é servido em belas taças ou até mesmo em forma de sorvete.

O clima é dark, o ritmo lento, assim como deve ser a vida de um vampiro. A crise existencial de Adam é a mesma de várias pessoas que se sentem à margem da sociedade atual, que cada vez mais está carente de cultura e afogada por um meio vazio e sem sentido, tentar buscar respostas para tantas coisas que acontecem no mundo hoje em dia é impossível.
O não encaixe de Adam, o faz vangloriar mortos. Em vários momentos ele reclama com o que os "zumbis" são capazes de fazer, a contaminação da água por exemplo é citada, e o como ninguém está nem aí pra isso. Adam tem o espirito de poeta na mais plena depressão. Eve tem um otimismo sutil que fascina e gera momentos interessantes e engraçados ao filme.
É uma obra sofisticada e muito atraente, a trilha sonora ajuda bastante na composição dos personagens, e chega a nos embriagar. 

Há quem diga que os filmes de Jim Jarmusch sejam tediosos e cults demais, não há reviravoltas em suas histórias e o silêncio é bem trabalhado. A decadência é algo que atrai o diretor.
"Only Lovers Left Alive" retrata o tédio vivido pelo casal e a absorção que fazem com a arte ao passar dos séculos, também recordam episódios caóticos da humanidade, como a peste negra.
É um filme de vampiros que diz muito sobre nós humanos, do quanto estamos caminhando para um vazio infindável, uma vida automática, carente de cultura e desprovida de sensações.

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