segunda-feira, 1 de junho de 2015

Stella

"Stella" (2008) de Sylvie Verheyde (Confissões de um Jovem Apaixonado - 2011) traz uma história dolorosa, mas esperançosa sobre a pré-adolescência.
Stella é uma garota argentina de 11 anos de idade que acaba de iniciar um novo curso numa escola de Paris. Mas sua vida, mesmo, transcorre dentro de um bar cujos pais exilados são donos. Um refúgio para a classe trabalhadora, que cai na bebida, faz apostas, fala de futebol e outras amenidades até o dia amanhecer. Para Stella, a escola é complicada. Mais do que os estudos, o que ela não suporta são as humilhações dos professores e amigos por causa de sua origem. É assim que começam a despertar na garota instintos mais violentos. Mas graças a sua única amiga, também filha de intelectuais argentinos exilados, Stella vai vislumbrar um mundo que não conhece: desde o primeiro amor até os perigos que cercam uma menina prestes a se tornar mulher.
Stella (Léora Barbara) nada mais é que o alter ego da diretora Sylvie Verheyde, a história se passa no final dos anos 70 e mais do que um filme sobre ritos de passagem é uma obra de personalidade e completamente passional. Stella é transferida para um novo colégio, onde irá cursar o 5º ano, a adaptação não é fácil, pois todos ao olhar da menina são esnobes e vazios, a escola e as matérias não fazem sentido pra ela que carrega em si uma bagagem de vida apesar de sua pouca idade. Seus pais são donos de um bar, cujos frequentadores são em sua maioria decadentes, bêbados e desempregados, este é o local em que ela fica interagindo e observando tudo o que acontece, desde as atitudes de seus pais irresponsáveis, até a convivência com pessoas das mais variadas, incluindo Alain (Guillaume Depardieu), por quem a garota cai de amores. Visto assim parece que seu futuro já está traçado, talvez, o mesmo de sua mãe. Porém, existem diversas possibilidades na vida e a de Stella é a sua amiga Gladys (Mélissa Rodriguès), uma menina rica que apresenta o universo da leitura, e do qual Stella se encanta. A cena em que Stella mente conhecer Cocteau para não se sentir envergonhada é o momento em que ela desperta, o que a leva a correr para um sebo e começar a se enveredar pelas maravilhas que um livro pode trazer.
A atuação de Léora é impressionante, diferente dos demais se entedia diante do universo escolar e se exclui, mas não deixa de estar aberta para novas descobertas. O modo com que Stella e Gladys vão se tornando amigas, e o fato de Gladys não se importar com a gritante diferença entre elas faz tudo se tornar mais simples e apaixonante.
A importância do incentivo sincero e a educação é o único meio de nos tornarmos pessoas melhores. 

O filme conta com uma narração em off da protagonista, suas observações acerca do mundo e dela mesma são interessantes e irônicas, mas não deixam de ser puras. Em dado momento ela diz: "Sei tudo sobre futebol: quais os melhores times e jogadores; sei fazer coquetéis e jogar fliperama; sei as regras do bilhar e sei jogar cartas; sei várias letras de música de cor; sei quem é sincero e quem mente; sei como se faz bebês e como se transa; só que no resto, sou péssima".
É agradável acompanhar o amadurecimento de Stella, o reconhecimento das oportunidades que estão à sua disposição, a sua lucidez perante a vida, e claro, a valorização de sua amizade com Gladys. A forma como lida com os adultos, principalmente com o comportamento dos pais, por exemplo, com a traição da mãe no próprio estabelecimento e o como deseja cuidar de seu pai depois disso. Realmente ela está ultrapassando um momento de extrema fragilidade e Gladys sem dúvidas foi um presente para sua vida.

Stella enxergou suas oportunidades e como todo ser humano com consciência teve gratidão. Seu agradecimento a Gladys no final é emocionante. Sentimos orgulho dela.
"Stella" disserta sobre a transição de criança à adolescência de modo natural, sem julgamentos e esteriótipos. É sincero e otimista na medida certa!

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