segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Sofrimento (Bereavement)

A insanidade impera neste filme e não economiza nos piores retratos de uma mente doentia. Tudo começa quando um garoto de seis anos é sequestrado em seu quintal e é forçado a presenciar crimes brutais de um psicopata. A loucura e o sofrimento é a base.
Chocante, não por causa de cenas sangrentas ou torturas, mas sim por seu apelo psicológico em mostrar uma condição humana bem perturbada.
Não é um filme com um final feliz e nem deveria ser, pois estragaria, ele é perfeito dentro do seu estilo.
Graham Sutter (Brett Rickaby) é um louco que mantém algumas mulheres em cativeiro e várias vezes faz o menino Martin (Spencer List) presenciar as mortes, Allison (Alexandra Dadario) é uma jovem que vai morar com o tio na mesma cidade, andando pelo lugar vê o garoto na janela da casa que parece estar abandonada, curiosa entra na casa e acaba sendo capturada. Allison é a heroína da história com toda sua doçura transformada em uma força tirada do âmago.
A mente corrompida do menino que perde a inocência do jeito mais perverso possível, começa a fazer coisas que talvez não faria, mas o que sairia daquela mente convivendo com um maluco? E o final dá a deixa de que um monstro foi criado.

"Bereavement" é a continuação de "Malevolence", e Steven Mena não poupou terror psicológico.
Graham em toda sua loucura cultua um Deus com cabeça de touro e em vários momentos conversa com ele, nos causando um grande desconforto. Um filme nada convencional.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

The Runaways - Garotas do Rock

O longa dirigido e roteirizado por Floria Sigismondi, retrata a formação do grupo de adolescentes que tinham o rock na veia, sensualidade e atitude. Biografia da primeira banda formada somente de meninas em um universo totalmente masculino.
Em Los Angeles, final do ano de 1975, Joan Jett (Kristen Stewart) tinha o sonho de montar uma banda formada apenas de mulheres, ela encontrou apoio no empresário Kim Fowley (Michael Shannon) e com a entrada de Cherie Currie (Dakota Fanning) o sucesso aconteceu. Com uma vida regada à drogas e totalmente desajustada, seguem com um estilo musical cru, e o jeito sensual inspirado em David Bowie, Cherie alavanca cada vez mais a banda.
Joan tinha o desejo de montar a banda, mas foi a ambição de Fowley que a fez progredir, moldou as garotas, criou características masculinas, personalidade e performances no palco. As letras das músicas tinham uma força e expressão que mudou o olhar das pessoas diante a banda.
Em quatro anos de existência The Runaways teve uma carreira intensa, a história é contada de uma maneira rápida, e toda a trajetória, desde ensaios de garagem até os shows. As protagonistas são Cherie e Joan, as outras integrantes fazem poucas participações, o que deixa a desejar. O foco nas duas personagens é porque o filme foi baseado no livro em que Cherie escreveu, então é compreensível.
Em pouco tempo, a banda alcançou a fama. Entre turnês, e lançamento de disco já foi o necessário para que entrassem em crise, devido ao uso de cocaína, as disputas de ego, e os conflitos envolvendo Fowley, um sanguessuga. Também por serem jovens demais, estarem longe de casa expostas a tanto sucesso, sucumbiram em 1979.
Claro que o destaque vai para Dakota Fanning interpretando Cherie, no começo uma menina ingênua, repleta de conflitos em casa, sem nem ao menos saber acender um cigarro. Logo, aprendendo a ser sensual e se viciando em drogas. Na música "Cherie Bomb"  se reverencia. Diante de todos os problemas da vida dela, continua sendo uma menina com uma infância roubada.
Kristen Stewart está irreconhecível como Joan Jett, seu jeito masculino e sua guitarra inseparável deu um ar de liderança, mas não deu profundidade a personagem, não mostrou a força e atitude da verdadeira Joan.

Não é um grande filme, mas vale ver o registro de uma banda explosiva, com sede de viver, sem pensar nos riscos, e principalmente por ter acesso fácil a isso. Nesse período o jovem se libertava em suas músicas, suas revoltas transpareciam em forma de letras de rock, solos de guitarra, e performances agressivas no palco. Isso é Rock'n roll. 
Se o roteiro não foi fiel a história da banda, pouco importa, pelo menos teve a decência de expor uma das bandas mais polêmicas, em razão de ser composta por mulheres e ainda menores de idade. 
Apesar dos clichês da famosa combinação: sexo, drogas e rock'n roll, e o modo simplista de contar a história de uma das bandas que mudou a cara do rock, vale a pena conferir.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret (Hugo)

Baseado no livro de Brian Selznick, Hugo Cabret é uma homenagem criativa à sétima arte. Martin Scorsese só faz ressaltar o quão genial ele é.
Hugo (Asa Butterfield) perde seu pai e se vê completamente sozinho, vai morar com o tio bêbado na estação de trem, mas logo este desaparece e o menino fica incumbido de tomar conta dos relógios da estação. Ele junta peças para reconstruir um autômato, que seu pai trouxe do museu que trabalhava.
Passando dificuldades comete alguns furtos, e um dia é pego numa loja de brinquedos, é obrigado a trabalhar para o misterioso dono da loja, e sempre esgueirando-se para não ser encontrado pelo inspetor (Sacha Baron Cohen).
Lá ele encontra Isabelle (Chloe Moretz), filha adotiva do comerciante, o grande George Méliès (Ben Kingsley) pioneiro cineasta que passou por uma grande decepção e nem quer ouvir falar em cinema. As crianças curiosas passam a querer descobrir o que aconteceu com Méliès, assim começa uma aventura deliciosa sobre os primórdios da cinematografia.
O filme tem um tom pedagógico, mas é contado com muita sensibilidade, nos emocionando perante os acontecimentos da vida de Hugo, e pelo carinho que sentimos por aquele homem chamado Méliès.
Asa Butterfield (O Menino Do Pijama Listrado) com aqueles olhos tão expressivos consegue dar a pureza exata para o personagem que sofre, apesar de ser criança. Ele mantém a magia em seu coração e sonha.
Chloe Moretz (500 Dias Com Ela) faz uma singela homenagem à literatura entrando em várias ocasiões naquela biblioteca magnífica, e é através dela que Hugo encontra o seu propósito.
Sacha Baron Cohen (Borat) é um tipo de "vilão" que sofreu pela guerra, ao mesmo tempo engraçado, ele às vezes dá um tom de complexidade para seu personagem, como quando tenta conquistar a florista da estação e nem ao menos sabe qual é o seu melhor sorriso.
Ben Kingsley (Ghandi) é o personagem que nos permite viajar no tempo e rever toda a história do cinema, fazendo com que não esqueçamos do quanto foi importante o início de tudo, e principalmente que é através daqueles rolos de filme que nossa imaginação flutua e que sempre causará surpresas, alegrias, lágrimas e muitos sorrisos.
A fotografia do filme é algo deslumbrante, ambientada em Paris na década de 30, na estação de trem Paris Nord, o contraste das cores, a luminosidade da estação, colabora para que a magia se torne algo sublime. A trilha sonora é outro componente que nos toma por completo. Não é à toa que o filme teve onze indicações ao Oscar e levou cinco estatuetas.

Uma viagem ao fantástico e ao lúdico que mostra um lado mais emocional do diretor Martin Scorsese. Metáforas do tempo são colocadas no filme e uma nostalgia rodeia todo o enredo, como se o passado fosse mais interessante do que o presente.
Além dos filmes de Georges Méliés (1861-1938) como o tão famoso Viagem à Lua (1902), que nos mostra que o objetivo do cinema sempre foi transportar as pessoas para uma outra realidade, também são mostradas cenas de personagens, como Chaplin, Buster Keaton, Louise Brooks, Tom Mix e de filmes como, O Homem Mosca, O Grande Roubo do Trem, A General, entre outros.
Uma narrativa que seduz e fascina, realmente uma obra primorosa e única!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Anônimo (Anonymous)

A história é baseada na teoria Oxfordiana de que Edward De Vere é o verdadeiro autor das obras de Shakespeare. O diretor Roland Emmerich é conhecido pelos seus filmes catastróficos, entre eles, Independe Day, O Dia Depois De Amanhã, Godzilla, 2012. Nesse filme ele retrata Shakespeare como uma fraude, ele destrói a imagem de um ídolo através da ficção.
Em uma Londres do final do século 16, ambientado na época da sucessão da Rainha Elizabeth I, a história é repleta de conspirações, lutas pelo poder e muita cobiça. Tudo começa no presente, quando um ator entra no teatro, narra e elucida que a história a ser contada é sobre a tal teoria. Daí somos transportados para o período em questão, onde o teatro era considerado imoral. Edward De Vere (Rhys Ifans) o décimo-sétimo Conde de Oxford um homem culto e dado as palavras, acaba cometendo um erro do qual será fadado a casar-se com a filha de William Cecil (David Thewlis), o seu guardião legal e conselheiro da rainha. E ele também teve que desistir de escrever as suas peças de teatro, que eram vistas como uma desonra para sua família que queria fazer dele um político. Os motivos pelos quais foi obrigado a casar-se com Anne Cecil (Helen Baxendale) descobrimos mais tarde. Ao mesmo tempo mantinha um caso com a rainha Elisabeth I (Vanessa Redgrave). Anos mais tarde Edward assiste a uma peça de teatro do dramaturgo Ben Johnson (Sebastian Armesto), isso faz com que reacenda a vontade do Conde de escrever as peças, e contrata Ben para assinar em seu nome, mas ele não gosta muito da ideia, e um tal de William Shakespeare (Raffe Spall) assumi a autoria, um cara sem escrúpulos e analfabeto. Suas peças eram carregadas de simbolismos políticos a fim de aclarar a sociedade diante dos governantes. Sua primeira peça encenada foi Henry V.
A trama foca também sobre a sucessão do trono, Earl de Southampton, apoiado pelos Essex, e James I apoiado pelos Cecil. Robert Cecil tem influências na corte, por conta de seu pai William, este acabou falecendo, mas todos os segredos foram revelados a ele. Edward resolve escrever peças sobre, para elucidar o público e causar uma revolta. Por fim, surpreendentes revelações fazem com que a história tome um rumo totalmente inesperado, e segredos da rainha são revelados a Edward.

Uma trama cheia de intrigas e um clima de suspense contribui para o interesse do público, a identificação dos personagens demora um pouco, associar os nomes as pessoas requer um pouco de vontade, mas depois a história flui rapidamente. As atuações são ótimas, a fotografia é belíssima, e o cenário faz com que o filme se torne interessante e diferente. 
Naquele tempo expressar opiniões valia a cabeça literalmente, e o gosto pelas artes era considerado indigno, por isso o Conde Edward De Vere escondia sua paixão pela escrita, na verdade, um dom do qual era impossível controlar, aí surgiu a ideia de expor suas obras em público, mas com o nome de outro autor. Ficção com um fundo de verdade? Shakespeare realmente foi um farsante e aproveitador? É só uma teoria, mas é interessante ver o mito do teatro sendo exposto de uma maneira diferente do comum. 
Palavras têm o poder de mudanças, quando utilizadas de maneira correta, acabam influenciando gerações.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A Serious Man (Um Homem Sério)

Um homem chamado Level (Allen Lewis Rickman) chega em casa no meio de uma tempestade de neve e, mesmo tendo tido a carroça quebrada no caminho, se sente feliz. Ele conta para a esposa, Dora (Yelena Shmulenson) que um homem lhe ajudou e, vejam a coincidência, esse homem conhecia a Dora. Mas a mulher teme que o “bom homem” que ajudou o marido seja, na verdade, um espírito do mal. Depois deste conto introdutório, a câmera mergulha na realidade de Danny (Aaron Wolff) um jovem que prefere escutar música durante as aulas e fumar maconha. De repente a câmera se intromete na série de desastres que irão acertar o pai de Danny, o professor universitário Larry Gopnik (Michael Stuhlbarg). Pai de família judeu, tudo o que Larry tenta mesmo contra todos os acontecimentos é se manter um homem sério.
Esse filme pode ser visto de maneiras diferentes, uma comédia repleta de erros seguidos ou de forma inteligente e profunda. A vida castiga o protagonista como se ele fosse amaldiçoado por algum motivo, talvez por questionar demais e não aceitar os acontecimentos, ta aí o prólogo que nos explica: O homem que ajudou Level poderia ser um 'Dybbuk' um espírito mal, mas como eles não tinham certeza, ficaram com a dúvida para sempre, de certo modo amaldiçoados, e com Larry não é diferente, ele segue sua vida se perguntando o porque tudo acontece com ele, ao passo que ele deveria aceitar os mistérios da vida, pois nem tudo ou tudo não tem explicação, simplesmente acontece. Há uma reflexão surpreendente sobre a capacidade das religiões em dar conforto e apaziguar os ânimos. Também em dar "sentido na vida" de muita gente. É especialmente curiosa a forma com que os diferentes rabinos procuram consolar o inconsolável Larry. Tentando ser um bom cordeiro, ele se sente perdido quando tudo em que acreditava parece desmoronar, fica sempre na espera de algo bom acontecer para mudar sua vida, mas... Para começar, seu casamento acaba da noite para o dia. Depois, ele tem a própria honestidade colocada em cheque em um intricado plano de suborno de um aluno imigrante, que não sabe se expressar bem em inglês; o universitário Clive Park (David Kang). E para completar o quadro, ele questiona se deve ceder as tentações para ajudar o complicado Arthur (Richard Kind), cujo tem uma inteligência acima do normal que chega a ser retardado.
Todos os gestos de bondade de Larry, em resumo, parecem fadados a ser contestados e corrompidos. No final das contas, ele é um sério candidato a ser o vilão do casamento que deu errado, na universidade, sua tão desejada promoção periga não sair do papel. Enfim, Larry pode estar enfrentando um inferno astral. O que um homem sério faz nestas situações? Busca respostas em sua fé. Mas, como lá pelas tantas o rabino Nachtner (George Wyner) parece deixar claro, no fundo não existem respostas, apenas perguntas. Ou, se existem respostas, elas são irrelevantes. Porque, como Nachtner bem sentencia, "Não podemos saber tudo". Mas temos essa ideia de tentar achar lógica por todos os lados, nas coisas mais curiosas. E tão genial quanto a afirmação do rabino é a resposta de Larry: "Parece que você não sabe de nada!" E quem disse que os líderes, sejam eles religiosos, políticos ou do grupo que for, realmente sabem de algo? Nós acreditamos, no fundo, naquilo que realmente queremos. Para o bem, ou para o mal.
Os diálogos deste filme é um dos mais inteligentes que já vi, os irmãos Coen tem um humor tipico que só eles conseguem fazer. Além de questionar o sentido da vida, a preocupação constante em acharmos respostas para tudo, e a importância da família e da religião, "A Serious Man" debate a própria leitura da sociedade do "homem sério", daquele indivíduo que é respeitado e deve ter seus passos seguidos. Pura filosofia. Michael Stuhlbarg realmente dá um show no papel de Larry Gopnik. Suas reações contidas ou desesperadas são perfeitas no contexto de seu personagem. Um trabalho complexo e muito acertado. A trilha sonora é maravilhosa, basicamente por música instrumental, canções que evocam a cultura judaica e Jefferson Airplane, uma banda psicodélica de 1965. É a banda cujas músicas o garoto ouve ininterruptamente em seu rádio. No filme estão seus principais sucessos como Somebody To Love e White Rabbit. É a sonoridade desse grupo que dita o ritmo do filme em várias de suas melhores sequências.

Engraçado como certos diretores são estereotipados, os irmãos Coen tem um estilo próprio que alguns amam, outros odeiam, mas não podemos esquecer que eles tem uma certa genialidade sempre impondo uma espécie de humor aonde não se encaixaria. Suas histórias aparentemente simples, na verdade são reflexivas, onde podemos tirar nossas próprias conclusões, como nesse filme onde não se tem um fim, pois os acontecimentos da vida não cessam, continuam sem parar, e o que permanece são somente as perguntas, nada mais.
A frase que antecipa o filme é a moral da história: "É preciso aceitar tudo o que acontece a você com simplicidade" (Rashi). Essa é uma história comum contada de uma maneira diferente e perspicaz.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Elas (Elles)

"Elas" (2011) é um filme sutil que retrata a prostituição de estudantes universitárias em Paris. Anne (Juliette Binoche), jornalista de uma revista famosa, mulher de meia-idade, casada, com dois filhos, dispõe-se a entrevistar duas garotas de programa, na verdade, meninas normais que usam desse meio para viver enquanto fazem faculdade.
Dirigido pela polonesa Malgorzata Szumowska, o longa poderia ter sido muito mais envolvente e o assunto bem mais aproveitado, ele segue de maneira monótona, alternando as histórias das garotas, e como os relatos influenciam na vida da jornalista. O desfecho se desfaz no habitual clichê de tudo está onde deveria estar. Algumas coisas são deixadas no ar, o que leva o espectador a questionar o que se sucedeu com tais personagens. Se Juliette Binoche não estivesse nesse filme, seria um verdadeiro fiasco, mas sua presença se faz forte e delineia sutilmente a personagem. Casada com um homem que vive para o trabalho e a rotina de ter que controlar os filhos, faz com que se percam um do outro, mas em nenhum momento é exposto melodramas em relação a isso. É um ambiente frio. 
O artigo sobre prostituição a faz perceber certas coisas de sua vida, mas só a faz refletir mesmo, na ação tudo continua igual. Entre os relatos das garotas, ela se vê perdida diante a fantasias. E num emaranhado de imagens de cenas de sexo, ela percebe o tédio que é a sua vida. A cena do jantar em que se encontra o marido dela e o chefe dele é uma boa amostra. Mas fica por aí, o enredo se torna superficial diante um assunto tão polêmico. É limitado e não consegue passar qualquer mensagem. As garotas simplesmente escolhem a prostituição, ninguém as obriga, é um meio rápido de se conseguir dinheiro, em um dos casos, a garota recém-chegada a Paris se vê numa situação difícil, sem saber para onde ir, acaba vendo na prostituição uma saída. A outra, que mais parece uma bonequinha, tem família, namorado, mas ainda assim se submete a sair com homens mais velhos e casados. Perguntado qual a pior coisa desta profissão, uma delas diz que é mentir, ter que mentir o tempo todo. E ao final de tudo colocam-as não na posição de vítimas, mas de que estão lá somente porque querem, e elas são felizes assim, até mais do que Anne que sustenta uma falsa felicidade.

Juliette Binoche se despe de toda a sua vaidade e aparece de rosto limpo e descabelada, uma atriz da qual não tem medo de se aventurar em personagens diversos. Ela continua brilhante e uma atriz belíssima. Ponto para a trilha sonora, a música clássica permeia o filme quando Anne está em sua casa, cozinhando, arrumando a bagunça, escrevendo, etc.
Ainda que seja um filme apático ao mostrar apenas recortes sobre a vida dessas garotas que mantém vidas duplas, algo mais comum do que se imagina, também evidencia a vida de uma família de classe média alta, com toda sua ostentação a aparência, e que supõe ser superior aos outros.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Mel / Um Doce Olhar (Bal)

"Mel" ou "Um Doce Olhar" é um filme turco que requer paciência, pois é totalmente contemplativo. É para se ver naqueles dias em que se acorda inspirado e não tem nada na mente incomodando, você apenas se acomoda e tem uma sensação diferente ao assisti-lo.
Um estilo de vida que não estamos acostumados a ver, um menino com dificuldades de aprendizado, as alternativas econômicas daquela região, o islamismo que é a religião daquele povo, torna o filme muito reflexivo e muito bonito, e raro com certeza.
Yusuf (Bora Altas) o personagem central, tem uma personalidade interessante, percebe as mudanças rápido, porém em sua simplicidade não consegue se expressar, a precariedade da educação escolar que recebe e a sua dificuldade em ler faz dele um menino retraído, o único conhecimento que tem é a vida a sua volta e os acontecimentos que o rodeiam.
A fotografia do filme é impressionante, de muita sensibilidade e técnica. A natureza exuberante com árvores que rasgam o céu, tudo é muito lindo, mas o silêncio nos inquieta e nos oferece períodos de reflexões, chegando a ser poético.
Tem que ter uma capacidade extra para poder compreender a dimensão da história que é simples, mas incômoda.
 Seu pai Yakup, um apicultor que cada vez vai mais longe para conseguir o mel, que é o sustento da família, acaba desaparecendo. Seu relacionamento com Yusuf é bem interessante, como na cena em que ele quer contar o sonho que teve, e seu pai o repreende dizendo que os nossos sonhos não podem ser revelados em voz alta, e pede que ele conte sussurrando em seu ouvido. É uma das cenas inesquecíveis.
Semih Kaplanoglu ganhou o Urso de Ouro em Berlim 2010, e disse que esse é um filme de linguagem espiritual, e acho que não caberia palavra melhor para qualificá-lo. Bal (Mel) é o último de uma trilogia autobiográfica, o primeiro Yumurta (Ovo) e o segundo Süt (Leite).

Para pessoas não habituadas ao ritmo lento de filmes assim, não é recomendado, pois ele vai dar apenas sono e maus comentários, ele é para pessoas capazes de ver através do tempo que ele nos toma, para se deliciar nas cenas em que Yusuf nos mostra com seus próprios olhos a vida nada fácil que leva.
Para finalizar lembro a cena em que Yusuf se abriga junto a um tronco de uma imensa árvore, é uma cena poderosa, que faz com que esse filme não seja esquecido.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Estômago

Um filme nacional que levou quatro troféus no festival do Rio de 2007 e em festivais internacionais como o de Punta del Este e Rotterdam, esse é o cinema nacional de bom gosto.
Raimundo Nonato (João Miguel) é um nordestino que chega a São Paulo praticamente só com a roupa do corpo, começa a trabalhar em um boteco em troca de um quartinho sujo nos fundos, explorado pelo chefe ele faz de tudo, desde faxina até fritar as coxinhas, é aí que seu talento para culinária vem à tona, percebendo que a coxinha vendida no boteco é de péssima qualidade, ele mesmo começa a prepará-la, a clientela começa a aumentar, e logo é proposto um novo trabalho para Raimundo, onde poderá exercer seu dom cozinhando pratos mais elaborados em um restaurante. Ele também mantém uma relação com uma prostituta (Fabíula Nascimento), se envolvendo numa paixão obsessiva. Paralelamente observamos Raimundo preso, fazendo de tudo para conseguir sobreviver de modo mais confortável dentro da cela, e é com as suas façanhas gastronômicas, transformando ingredientes simples em deliciosos pratos, que ele consegue se tornar respeitado lá dentro, mas o porquê dele estar lá, só é revelado no final, e que final surpreendente!
O roteiro é incrível, nos envolve na história do personagem em toda sua trajetória e em todas as suas mudanças, os diálogos são inteligentes e responde todas as nossas perguntas com muita clareza.

Esse é o tipo de filme raro que envolve vários elementos e dá muito certo. E não é à toa que João Miguel é considerado um dos melhores atores do cinema nacional, sua interpretação é perfeita.
Primeiro longa do curitibano Marcos Jorge que escreveu em parceria com Fabrizio Donvito, o que faz ser uma coprodução ítalo/brasileira.
Não explicitamente o filme traz questões discutíveis, como a exploração, o preconceito, prostituição, vida carcerária, enfim, tudo isso num drama com uma dose de comédia e uma pitada de mistério.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A Última Estação (The Last Station)

Léon Tolstói (Guerra e Paz, Anna Karênina) foi um dos melhores escritores e pacifistas do século XIX, esse filme não é uma cinebiografia, mas conta os últimos anos da vida de Tolstói.
Diretor e roteirista Michael Hoffman revela a relação amorosa devastadora de Léon e sua mulher Sofya (Helen Mirren) casados há 48 anos. Em seus últimos anos de vida, Tolstói (Christopher Plummer) entrou em conflito com a mulher, pois ela queria fazer fortuna com os livros publicados, a fim de deixar uma boa herança para seus treze filhos, mas Tolstói queria fazer de suas obras um domínio público, ele acreditava que escrevia para o povo, e não poderia ganhar dinheiro com aquilo. Com a ajuda de seu amigo Chertkov (Paul Giamatti), planejava escrever um testamento, deixando tudo o que tinha para o povo, e Sofya brigava loucamente para que isso não acontecesse.
Um jovem seguidor de suas doutrinas Tolstoianas, Valentim Bulgakov (James McAvoy) se aproxima da família no período mais turbulento, e se dispõe a ajudar no que for, ficando a par de opiniões, acaba sendo um personagem sem graça, mas essencial no desenvolvimento do filme. Ele entendia que cada qual tinha seus motivos, e não interferia em nenhuma questão.
Uma história de amor muito comovente, porém retratada de maneira fria, os cenários não representam o império russo, e sim a Inglaterra daquela época com todas as regras e formalidades, não vi nada que me lembrasse a Rússia. Por trás da história de Tolstói há toda uma cultura e tradição, não enxerguei isso no filme, o que me deixou bastante descontente.
As atuações foram belíssimas, Helen Mirren e Christopher Plummer fizeram com muito zelo, mas os outros personagens me pareceram muito distantes da história, e não fizeram com que me emocionasse, nem mesmo quando a morte de Tolstói acontece.

Assisti simplesmente porque sou uma leitora de Tolstói, não exatamente como gostaria, mas por amar a literatura e me sentir curiosa pela vida desse escritor com grandes ideias sobre o amor. 
O escritor retratado no filme não ganhou profundidade, e principalmente inteligência, deixando que suas ideologias ficassem em torno da ingenuidade, sem percepção do mundo exterior mais pareceu um alienado, e se o verdadeiro Tolstói fosse assim, jamais escreveria Guerra e Paz. Mas a mensagem deixada é aquela velha frase do escritor: "Tudo o que sei, só sei porque amo". É um filme bem humano, onde todos estão sujeitos ao equívoco e a ignorância. A dificuldade de conviver com amor, e a impossibilidade de viver sem ele, esse é o principio da história.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Taxidermia (Taxidermie)

É a história de três gerações de uma família que cultua o corpo de uma forma distorcida. Na primeira parte conta-se a história de um soldado que mora no meio do nada na Hungria, este usa sua imaginação para se satisfazer sexualmente, como quando se relaciona com uma leitoa abatida. Ele acaba sendo morto pelo comandante, e seu filho nasce com um rabo de porco. Na segunda parte já sem o rabo, ele se torna um obeso mórbido após participar de concursos em que o campeão tinha que comer tudo o que pudesse, se apaixona por uma mulher também gorda e competidora e se casam, dando vida ao terceiro da geração, o taxidermista que ao contrário dos pais é muito magro, depois de empalhar seu próprio pai, ele acaba se empalhando também, deixando assim seu corpo para sempre ser visto.
Um ponto marcante é a câmera, ela penetra fundo e faz um giro em torno da banheira, mostrando toda a história e a intenção do filme. Original, grotesca, sórdida, as cenas são difíceis de ser engolidas e digeridas, é isso que o diretor György Pálfi quis fazer, com um olhar completamente diferente dos convencionais de enxergar o mundo. Quem tem estômago fraco não deve assistir, mas quem tem um olhar diversificado para com o cinema é uma opção de se aventurar no estranho.

Os personagens criam um aspecto humano com suas emoções, sensações e loucuras, e faz com que esse filme não se torne vazio, e apesar de conter cenas sexuais, não é erótico, o sexo vem acompanhado pelo grotesco, destacando a natureza selvagem do homem. Visceral, intelectual, ele passa do humano ao animal, mostrando as necessidades de seus personagens através de símbolos como a comida, sexo, amor e imortalidade. Não é apenas um filme nojento, é uma poesia grotesca, contada de uma forma sórdida sem camuflagens. Escatologicamente bom!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Contos Proibidos do Marquês de Sade (Quills)

"Para se conhecer a virtude, é necessário conhecer o vício."

Baseado nos últimos anos da vida do escritor Marquês de Sade (Geoffrey Rush), encarcerado em um sanatório francês, ele preenche páginas e mais páginas com suas histórias eróticas, que graças a ajuda da camareira Madeleine (Kate Winslet) seus escritos chegam as mãos de um editor. Publicado, o livro revolta a igreja, e Napoleão Bonaparte acaba enviando um médico especializado em torturas para impedir que ele espalhe a sua pornografia. O Marquês trocava confidências com o padre Abbe Coulmier (Joaquin Phoenix) sobre sua afeição por Madeleine, e este o ajudava a tratar de sua suposta loucura, até que não pôde fazer mais nada, pois às ordens determinadas eram que Marquês de Sade não poderia escrever mais. Só que sua obsessão não deixava que ele parasse de escrever, mesmo sem a pena, a tinta e o papel, quanto mais tiravam dele, mais ele fazia, mesmo que para isso usasse seu próprio sangue e suas fezes.
O nome original "Quills" é referente a "pena" em português, como aquelas que eram usadas antigamente para escrever, o filme retrata a história de Sade, o homem que deu origem a palavra sadismo, que define a perversão sexual de ter prazer na dor física e moral dos outros, mas conta a história do amor à arte, obsessões e liberdades reprimidas.
Sade usava seus textos para mostrar a sociedade hipócrita em que vivia, para cutucá-los e dizer: "Eu sei o que vocês são, e o que vocês sentem por trás dessa máscara", ele não usava filtro para poupar as pessoas que se sentiam indignadas com suas histórias.
A liberdade pode estar contida nos nossos desejos mais profundos, temos que escavar para tê-la, superar tradições e ideologias, Sade trancafiado fazia de sua escrita a sua liberdade, a sua única maneira de dizer que estava ali vendo os podres da sociedade.
Retratar um homem tão polêmico, que abalou as estruturas da moralidade ao expressar sua criatividade através da pornografia, não é tarefa fácil, em seus escritos há estupros, torturas, necrofagia, pedofilia, assassinatos, enfim, tudo está em suas obras, e Geoffrey Rush fez com muita sutileza e com muita simpatia o personagem, fez com que nos emocionássemos. As cenas explícitas foram poupadas, e o roteiro forte, mas elegante que exclui diversos palavrões faz do filme algo sublime e envolvente.

Sade mostrava a sociedade tal como ela era, suja, sexos furtivos, desejos não revelados, traições, quebrando tabus em meio a revolução francesa, seus contos faziam sucesso com o povo, porque seus personagens eram reais e sinceros, com seus absurdos e desejos secretos.
Um filme que desnuda o ser humano em seus desejos mais íntimos, e sem nenhuma censura protagoniza o amor à arte, e o que era pra ser repugnante se torna uma figura carismática.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Inquietos (Restless)

Enoch Brae (Henry Hopper) é um jovem com um hábito estranho, ele frequenta velórios de desconhecidos por conta de um trauma causado no passado, seus pais morreram em um acidente de carro, e ele ficou em coma por algum tempo. Esse trauma demora para ser revelado no filme, o que nos faz perguntar o porque ele se comporta daquela maneira. Um dia em um velório ele encontra Annabel (Mia Wasikowska) e se apaixona por ela, com câncer terminal ela deseja viver seus últimos dias da melhor forma possível. Algumas características dos personagens são interessantes, como por exemplo: Enoch vê Hiroshi, um japonês que foi um piloto kamikaze, Annabel fã de Darwin estuda os insetos e os pássaros, e inclusive ela sempre cita o pássaro que ao pôr do sol pensa estar morrendo. Isso tudo faz com que os personagens pareçam estranhos e interessantes aos nossos olhos. Esse não é um filme muito narrativo, se trata mais de olhares e gestos, com uma fotografia bonita e melancólica dá um tom de tristeza, mas a vontade de Annabel em viver seus últimos dias ao lado de Enoch nos faz questionar os verdadeiros valores da vida, o tema  filosófico do pós morte surge muitas vezes, mas não faz ficar cansativo.
Perder alguém que amamos não é fácil, há estágios de dor, raiva, desespero, tristeza, enfim, assistimos a esse filme com um nó na garganta, nos aperta e também nos chacoalha, porque a única certeza que temos é a morte e não sabemos lidar com isso, Annabel de uma maneira suave e em tom de brincadeira, de certa maneira ajuda Enoch a entender. E o final do filme é lindo, Enoch pede para discursar, mas ao chegar na frente do microfone, ele apenas lembra dos momentos que passou ao lado de Annabel e sorri, é digno de chorar. É impossível ser mais sensível e emocionante, os atores conseguem dar leveza ao tema.

O diretor Gus Van Sant consegue fazer de um tema já utilizado em diversos filmes ser completamente diferente, ele passeia entre filmes comerciais e alternativos sem mudar ou estragar suas obras.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A Separação (Jodaeiye Nader Az Simin)

Filme iraniano ganhador do Globo de Ouro, e do Urso de Ouro, dirigido por Asghar Farhadi (Procurando Elly), aborda conflitos humanos em uma sociedade onde a religião, tradição e as leis são rigorosas.
Simin (Leila Hatami) quer a separação para poder sair de seu país, e encontrar um jeito mais ameno de viver. Nader (Peyman Moadi) não pode ir, ele tem seu pai com Alzheimer e de forma alguma pode deixá-lo sozinho. Simin deseja deixar seu país, mas não consegue ficar longe de sua filha Termeh (Sarina Farhadi) que decide ficar na casa de seu pai.
Sozinho, Nader precisa de alguém que ajude a cuidar de seu pai, contrata a religiosa Razieh (Sareh Bayat), ela se depara com tarefas que vão contra suas crenças, como limpar o idoso, trocar a roupa, enfim, para ela isso parece ser um pecado. Razieh acaba indicando seu marido ao serviço, mas este com problemas não consegue cumprir as tarefas, e escondida do marido Razieh se resigna a cuidar do pai de Nader.
Certo dia, o idoso escapa da vista da mulher e sai para rua, daí em diante os conflitos aumentam, pois Razieh estava grávida e acabou perdendo o bebê após ter brigado com Nader, que ao chegar em casa encontrou seu pai amarrado e caído desfalecido ao pé da cama. O que se segue é um processo judicial repleto de mentiras, onde o final a verdade aparece de forma brusca. 
Para entender este filme é necessário se desprender dos valores ocidentais e entrar no universo da mulher que luta contra suas crenças, e da justiça lenta que pune severamente. Um retrato atual da sociedade iraniana, sobre religião, preconceitos, separação de classes e cultura.
O filme não traz respostas e sim questões a serem abordadas e analisadas, onde não há julgamentos, e nós que assistimos tomamos parte dos personagens, vendo que cada um sofre por motivos particulares.
Com um forte enredo que capta um drama universal, independente de cultura e crença, não é apenas um propulsor de uma sociedade reprimida, mas mostra como todo ser humano, em qualquer lugar do mundo também sofre por conflitos familiares, e até mais, pois as leis iranianas são mais pesadas, e não admitem muitas coisas que para nós parecem ser simples de se resolver.
É incrível como simpatizamos com os personagens, e isso tudo é por conta do enredo, que capta bem o drama familiar que estas pessoas vivem, não há vilões e mocinhos, é uma trama bem honesta e simples.

Um filme forte e bem realista. É impossível não se envolver com a história e pensar nas ideologias e nos conflitos humanos que Farhadi traz com toda sua excelência.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Guzaarish (O Pedido)

Apesar das críticas sobre o filme ser uma versão de "Mar Adentro" e sobre o cinema indiano não ter criatividade, eu gostei bastante desse drama protagonizado por belíssimos atores, digo tanto na beleza exterior quanto na de atuar.
Ethan mascarenhas é um mágico famoso da Índia que após sofrer um acidente em um dos seus truques, ele fica tetraplégico e por quatorze anos acamado sob os cuidados de Sophie (Aishwarya Rai Krishnaraj) uma enfermeira que abandona sua vida em dedicação ao mágico.
Vou mencionar uma característica do cinema de Bollywood que me agrada, a trilha sonora é impecável, lindas musicas, pelo menos aos meus ouvidos, muitas pessoas não gostam dos súbitos ataques de musicais e danças nos meios dos filmes, mas acaba dando certo, pois dá ritmo a história que sempre é muita lenta.
Outro ponto positivo são os atores que fazem dos gestos e olhares mais emocionantes do que um diálogo, é uma invasão de sentimentos. Ethan (Hrithik Roshan) nos leva da alegria para a tristeza em segundos, nos faz crer de verdade em tudo aquilo que vemos. A eutanásia é um assunto difícil de se abordar, ainda mais num país como a Índia e também acaba tornando os personagens arrogantes e egoístas.
Ethan nos faz refletir por diversas vezes que após quebrar as regras a vida se torna curta, e como demoramos para sentir as coisas e as pessoas com intensidade.

Mesmo sendo dito que é uma cópia de "Mar Adentro", o filme criou sua própria identidade, as vezes é bom sair do óbvio e dar chance a filmes de outros países.
A história me impressionou muito, é envolvente, sensível e em algumas partes com toques de humor, e claro a fotografia é lindíssima!

Merece nosso respeito e reconhecimento. Um belo filme!

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Operário (The Machinist)

Christian Bale como Trevor Reznik está irreconhecível, ele emagreceu aproximadamente 30 kg e surpreendeu na atuação, seu personagem há mais de um ano não dorme, não se alimenta direito, e sente no corpo e na mente o resultado de sua insônia, fazendo com que ele nem saiba mais o que é real ou alucinação.
Trevor trabalha em uma indústria e tem uma vida aparentemente normal, se não fosse o fato de não dormir há um ano. Envergonhado por causa de seu problema, se isola e torna-se cada vez mais paranoico, depois de se envolver em um acidente do qual o colega perde um braço, ele acaba achando que todos estão conspirando para demiti-lo. Todos o culpam pelo ocorrido, mas ele nem sabe quem é Ivan (o cara que perdeu o braço), e passa a procurá-lo, nessa busca ele conhece a prostituta que sonha se casar com ele, a mulher da cafeteria aonde vai todos os dias e fora isso ele mantém um joguinho de forca na porta da geladeira, que durante o filme são preenchidas e onde tudo se encaixa.
Impressionante o clima sombrio que o filme tem, fazendo com que os sentimentos do personagem realcem ainda mais aos nossos olhos curiosos, e nos perguntemos durante todo o filme: o que será que vai acontecer e que rumo essa história vai tomar? É daquelas histórias para se juntar todas as peças e ir descobrindo aos poucos. O personagem demora para perceber que está surtando, já nós sabemos desde o início que está tudo errado na cabeça dele.

Esse filme é um suspense e um Thriller psicológico muito bem produzido. Com influências de Crime e Castigo e O Idiota de Dostoiévski, é uma trama pra lá de envolvente, repleta de mistérios e coroada pela maravilhosa atuação de Christian Bale.