terça-feira, 31 de maio de 2016
O Tesouro (Comoara)
"O Tesouro" (2015) dirigido por Corneliu Porumboiu (A Leste de Bucareste - 2006) tem todo o aspecto de conto de fadas, e não é à toa ser Robin Hood a história que o pai conta sempre ao seu filho. A simplicidade dos personagens, a vida comum e tão ordinária, esse é o grande atrativo do filme, não pensamos que nada extraordinário possa acontecer.
Costi (Toma Cuzin) leva uma vida pacífica. À noite, gosta de ler histórias para seu filho de 6 anos, para ajudá-lo a dormir. A favorita deles é "Robin Hood". Costi se vê como o herói - justiceiro e defensor dos oprimidos. Uma noite, seu vizinho (Adrian Purcarescu) lhe faz uma visita inesperada e compartilha um segredo: há um tesouro enterrado no jardim de seus avós, ele tem certeza disso. Se Costi pagar por um detector de metais para ajudar a localizá-lo, ele vai dar-lhe metade de tudo o que acharem. Cético no início, Costi acaba não conseguindo resistir. Ele está a bordo. Os dois cúmplices têm um fim de semana para localizar o tesouro. Apesar de todos os obstáculos em seu caminho, Costi recusa-se a se desencorajar. Para sua esposa e filho, ele é um verdadeiro herói - nada e ninguém vai pará-lo.
Costi acredita no que o vizinho diz e resolve entrar nessa jornada, sua situação financeira também é complicada e o tesouro seria um alívio, além de mostrar ao seu filho que ele realmente é um herói. Os dois seguem ao interior da Romênia, mas há um problema, se eles encontrarem alguma coisa a polícia deverá ser informada e o poder público decidirá se é patrimônio nacional ou não. O humor é sutil, seco e a trama objetiva e simples. A história do tesouro é incerta, teria realmente uma fortuna enterrada no quintal da casa da família do vizinho de Costi? Segundo o que ele soube seria possível, já que foi enterrado por causa do confisco do regime comunista.
Os personagens são pessoas normais que lidam com problemas reais, igual a qualquer um de nós, por isso é tão difícil acreditar que algo surpreendente possa acontecer, mas o filme fica entre a realidade e a fantasia. Todo o esforço da procura pelo tesouro acompanhamos hipnotizados, são situações tragicômicas, inacreditáveis, o terreno é grande e o cara do detector de metais tem dificuldades, quando encontram o local chega o momento de cavar e cavar muito. Os dois nunca tiveram nenhum luxo e nem sabem o que fazer caso achem dinheiro, então sem nada a perder cavam na esperança de encontrar alguma coisa, mas o olhar não é de ganância ou ambição, especialmente de Costi. A cena final é lindíssima e retrata, na verdade, o que o tesouro representa para ele, fazendo referência a história de Robin Hood.
"O Tesouro" é um filme interessante que coloca em pauta questões político-sociais com um quê de fantasia, mas sem fugir da realidade. O ritmo é lento, o humor frio e surpreende, pois não se espera nada, e de repente...
A música dos créditos finais também diz muito, "Life is Life" da banda Laibach, que une política e polêmica, eles são conhecidos por suas versões, como o cover do álbum "Let it Be" dos Beatles.
Costi (Toma Cuzin) leva uma vida pacífica. À noite, gosta de ler histórias para seu filho de 6 anos, para ajudá-lo a dormir. A favorita deles é "Robin Hood". Costi se vê como o herói - justiceiro e defensor dos oprimidos. Uma noite, seu vizinho (Adrian Purcarescu) lhe faz uma visita inesperada e compartilha um segredo: há um tesouro enterrado no jardim de seus avós, ele tem certeza disso. Se Costi pagar por um detector de metais para ajudar a localizá-lo, ele vai dar-lhe metade de tudo o que acharem. Cético no início, Costi acaba não conseguindo resistir. Ele está a bordo. Os dois cúmplices têm um fim de semana para localizar o tesouro. Apesar de todos os obstáculos em seu caminho, Costi recusa-se a se desencorajar. Para sua esposa e filho, ele é um verdadeiro herói - nada e ninguém vai pará-lo.
Costi acredita no que o vizinho diz e resolve entrar nessa jornada, sua situação financeira também é complicada e o tesouro seria um alívio, além de mostrar ao seu filho que ele realmente é um herói. Os dois seguem ao interior da Romênia, mas há um problema, se eles encontrarem alguma coisa a polícia deverá ser informada e o poder público decidirá se é patrimônio nacional ou não. O humor é sutil, seco e a trama objetiva e simples. A história do tesouro é incerta, teria realmente uma fortuna enterrada no quintal da casa da família do vizinho de Costi? Segundo o que ele soube seria possível, já que foi enterrado por causa do confisco do regime comunista.
Os personagens são pessoas normais que lidam com problemas reais, igual a qualquer um de nós, por isso é tão difícil acreditar que algo surpreendente possa acontecer, mas o filme fica entre a realidade e a fantasia. Todo o esforço da procura pelo tesouro acompanhamos hipnotizados, são situações tragicômicas, inacreditáveis, o terreno é grande e o cara do detector de metais tem dificuldades, quando encontram o local chega o momento de cavar e cavar muito. Os dois nunca tiveram nenhum luxo e nem sabem o que fazer caso achem dinheiro, então sem nada a perder cavam na esperança de encontrar alguma coisa, mas o olhar não é de ganância ou ambição, especialmente de Costi. A cena final é lindíssima e retrata, na verdade, o que o tesouro representa para ele, fazendo referência a história de Robin Hood.
"O Tesouro" é um filme interessante que coloca em pauta questões político-sociais com um quê de fantasia, mas sem fugir da realidade. O ritmo é lento, o humor frio e surpreende, pois não se espera nada, e de repente...
A música dos créditos finais também diz muito, "Life is Life" da banda Laibach, que une política e polêmica, eles são conhecidos por suas versões, como o cover do álbum "Let it Be" dos Beatles.
segunda-feira, 30 de maio de 2016
Learning to Drive
"Learning to Drive" (2014) de Isabel Coixet (Minha Vida Sem Mim - 2003, Ninguém Quer a Noite - 2015) é um filme com um roteiro e atuações deliciosas, retrata que independente da fase em que estamos nunca é tarde para recomeçar.
Inspirado num artigo publicado no The New York Times, no filme seguiremos a história de Darwan (Ben Kingsley), um refugiado politico sikh que ganha a vida como taxista e instrutor de condução, e de Wendy (Patricia Clarkson), uma critica literária que é abandonada pelo marido e decide aprender a dirigir.
Wendy é uma mulher elegante e bem-sucedida que de repente se vê abandonada pelo marido, ele resolve deixá-la por uma garota, no dia do ocorrido ela acaba esquecendo algo no táxi de Darwan e este muito solícito vai devolver, ela percebe que o homem dá aulas de direção e para esquecer o sofrimento começa a se dedicar a uma tarefa da qual nunca havia pensado. Darwan é um imigrante indiano que vive com o sobrinho e outros imigrantes em uma pequena casa, muito trabalhador e amável agora tem a missão de ensinar Wendy a dirigir, com extrema paciência a ajuda, suas palavras a acalmam e aos poucos uma linda amizade colorida surge entre eles.
Os assuntos abordados são explorados com inteligência e charme, a imigração, por exemplo, assunto sempre atual surge de maneira realista, Darwan é sikh, religião que prima por uma vida honesta, trabalho duro e compartilhar, então ele se mostra sempre sereno e sábio, disposto a ouvir e a ajudar. Ben Kingsley e Patricia Clarkson estão perfeitos, entram numa sintonia adorável e a convivência deles só intensifica essa beleza que é conhecer e aceitar o outro pelo que se é. Darwan admira Wendy e Wendy defende Darwan toda vez que é alvo de preconceito.
Darwan acaba se casando, a noiva que lhe foi arranjada chega da Índia sem saber nada e sua dura adaptação o deixa irritado, ele tenta fazer com que ela saia e conheça o local e aprenda a língua. Toda a situação é frágil, ele está casado, tem princípios, mas é óbvio que está apaixonado por Wendy, essa mulher distraída e ao mesmo tempo frenética. Quando percebe que não irá mais vê-la, pois as aulas terminaram, se sente mal e tenta dar um outro rumo a essa amizade, Wendy pensa, e como já sofreu por uma traição não deseja isso para a mulher dele que acabara de chegar. É um belo gesto de honestidade.
O filme tem um ar refrescante, mescla drama com um discreto humor, é recheado de diálogos envolventes e coroado por sublimes interpretações.
"Learning to Drive" é inspirador ao retratar que nunca é tarde para recomeçar, é um tanto clichê, mas é verdade, sempre haverá algo a mais para descobrirmos, para aprender e a gostar. É uma mensagem que nunca se esgotará.
Inspirado num artigo publicado no The New York Times, no filme seguiremos a história de Darwan (Ben Kingsley), um refugiado politico sikh que ganha a vida como taxista e instrutor de condução, e de Wendy (Patricia Clarkson), uma critica literária que é abandonada pelo marido e decide aprender a dirigir.
Wendy é uma mulher elegante e bem-sucedida que de repente se vê abandonada pelo marido, ele resolve deixá-la por uma garota, no dia do ocorrido ela acaba esquecendo algo no táxi de Darwan e este muito solícito vai devolver, ela percebe que o homem dá aulas de direção e para esquecer o sofrimento começa a se dedicar a uma tarefa da qual nunca havia pensado. Darwan é um imigrante indiano que vive com o sobrinho e outros imigrantes em uma pequena casa, muito trabalhador e amável agora tem a missão de ensinar Wendy a dirigir, com extrema paciência a ajuda, suas palavras a acalmam e aos poucos uma linda amizade colorida surge entre eles.
Os assuntos abordados são explorados com inteligência e charme, a imigração, por exemplo, assunto sempre atual surge de maneira realista, Darwan é sikh, religião que prima por uma vida honesta, trabalho duro e compartilhar, então ele se mostra sempre sereno e sábio, disposto a ouvir e a ajudar. Ben Kingsley e Patricia Clarkson estão perfeitos, entram numa sintonia adorável e a convivência deles só intensifica essa beleza que é conhecer e aceitar o outro pelo que se é. Darwan admira Wendy e Wendy defende Darwan toda vez que é alvo de preconceito.
Darwan acaba se casando, a noiva que lhe foi arranjada chega da Índia sem saber nada e sua dura adaptação o deixa irritado, ele tenta fazer com que ela saia e conheça o local e aprenda a língua. Toda a situação é frágil, ele está casado, tem princípios, mas é óbvio que está apaixonado por Wendy, essa mulher distraída e ao mesmo tempo frenética. Quando percebe que não irá mais vê-la, pois as aulas terminaram, se sente mal e tenta dar um outro rumo a essa amizade, Wendy pensa, e como já sofreu por uma traição não deseja isso para a mulher dele que acabara de chegar. É um belo gesto de honestidade.
O filme tem um ar refrescante, mescla drama com um discreto humor, é recheado de diálogos envolventes e coroado por sublimes interpretações.
"Learning to Drive" é inspirador ao retratar que nunca é tarde para recomeçar, é um tanto clichê, mas é verdade, sempre haverá algo a mais para descobrirmos, para aprender e a gostar. É uma mensagem que nunca se esgotará.
Muito válido o que Darwan diz durante a aprendizagem de Wendy, ele determina que quando se assume o volante tudo dentro de sua mente deve se voltar para aquele momento, é uma grande responsabilidade para com a sua vida e a dos outros. Outra mensagem óbvia, mas que parece que ninguém se lembra, dado o que acontece todos os dias no trânsito e estradas.
"Learning to Drive" merece ser descoberto, pois acabou passando batido dentro da filmografia de Isabel Coixet, que é uma diretora de sensibilidade notável.
terça-feira, 24 de maio de 2016
Anomalisa
"Anomalisa" (2015) dirigido por Charlie Kaufman e Duke Johnson é uma animação densa e realista sobre a existência humana, os conflitos internos, as dores e a desesperança. Michael Stone (David Thewis) é um palestrante motivacional que acaba de chegar à cidade de Cincinnati. Ele segue do aeroporto direto para o hotel, onde entra em contato com um antigo caso para que possam se reencontrar. A iniciativa não dá certo, mas Michael logo se insinua para duas jovens que foram ao local justamente para ver a palestra que ele dará no dia seguinte. É quando ele conhece Lisa (Jennifer Jason Leigh), por quem se apaixona.
Michael vive numa rotina social completamente claustrofóbica, ele não enxerga as pessoas, pois todas são idênticas, não possuem nada de especial, o mesmo acontece para as vozes, independente de ser mulher, criança, homem, é sempre a mesma voz que ele ouve. Bem-sucedido autor de livros motivacionais, ele ensina seu método infalível para oferecer um serviço de atendimento ao cliente perfeito, garantindo o aumento da produtividade de uma empresa em até 90%. Michael viaja ensinando suas técnicas, mas com isso veio a tristeza em ter que lidar com pessoas sem personalidade e atrativos, a convivência humana é insuportável para ele. Tudo é banal e nada o satisfaz porque não há espontaneidade e originalidade em absolutamente ninguém que encontra.
Michael vive numa rotina social completamente claustrofóbica, ele não enxerga as pessoas, pois todas são idênticas, não possuem nada de especial, o mesmo acontece para as vozes, independente de ser mulher, criança, homem, é sempre a mesma voz que ele ouve. Bem-sucedido autor de livros motivacionais, ele ensina seu método infalível para oferecer um serviço de atendimento ao cliente perfeito, garantindo o aumento da produtividade de uma empresa em até 90%. Michael viaja ensinando suas técnicas, mas com isso veio a tristeza em ter que lidar com pessoas sem personalidade e atrativos, a convivência humana é insuportável para ele. Tudo é banal e nada o satisfaz porque não há espontaneidade e originalidade em absolutamente ninguém que encontra.
No início o achamos um sujeito arrogante, mas conforme o desenrolar nos conectamos com seu drama e percebemos muito de nós mesmos nele. Michael Stone em meio a monotonia ouve uma voz diferente que o alegra, algo que o desperta, é Lisa, uma atendente de telemarketing que mistura ingenuidade, baixa auto-estima e bom humor, ela não é bonita ou realmente interessante, mas é diferente e isso basta. Apaixonado até pelos detalhes, a cicatriz perto do olho, a forma que ela se move e, principalmente, por sua voz, ele quer ouvi-la, inclusive a cena em que ela canta "Girls Just Want To Have Fun", de Cyndi Lauper é de uma sensibilidade única, os momentos iniciais da paixão são encantadores e até a cena de sexo emociona. Porém, passado esse encantamento Michael começa a perceber coisas em Lisa que o incomoda, e aos poucos a voz dela vai se perdendo e ganhando o tom que ele criou para todas as outras pessoas. Michael é um ser cansado que não faz questão de convívio, coloca todos no mesmo grupo de imbecis e dane-se, vive solitário, é áspero e não se sensibiliza com a emoção alheia. Por ser um filme em Stop Motion merece ser ressaltado quão real e denso ele é, retrata duramente questões existenciais, é lindo e triste ao mesmo tempo.
As ideias expostas ficam martelando em nossa mente, a complexidade dos relacionamentos, a forma superficial com que nos conectamos, o egoísmo em lidar com o outro, por muitas vezes fazemos igual ao Michael e colocamos todos num mesmo saco, a solidão acaba nos acompanhando, e por conseguinte, a insatisfação. No filme há uma referência a Síndrome de Fregoli, um transtorno psicológico em que o indivíduo acredita que as pessoas a sua volta são capazes de se disfarçar para se fazerem passar por outras.
"Anomalisa" nos faz pensar no que de fato nos torna especiais e diferentes dos demais, será que a personalidade e afinidades são capazes de manter o interesse de alguém, ou temos a necessidade de sempre buscar algo que nos surpreenda?
Na cultura do imediatismo sofremos cada vez mais com ansiedade, impaciência, frustrações e solidão, a felicidade costuma durar alguns segundos e logo espera-se por algo que substitua o que julgamos não servir mais. Por conta disso deixamos de enxergar as pessoas e também a nós mesmos, perdemos a consciência do que realmente vale a pena, somos levados por sentimentos mesquinhos e decadentes, não compartilhamos vida, sentimentos, somos parte de uma rotina mecânica que nos adoece. Todos que assistirem "Anomalisa" se identificará em algum momento com Michael Stone, e daí vem a reflexão do nosso comportamento perante a vida e aos outros.
Melancólico, delicado e realista, essa obra de Charlie Kaufman e Duke Johnson é uma joia rara da animação e merece todos os elogios. Uma baita produção!
"Anomalisa" nos faz pensar no que de fato nos torna especiais e diferentes dos demais, será que a personalidade e afinidades são capazes de manter o interesse de alguém, ou temos a necessidade de sempre buscar algo que nos surpreenda?
Na cultura do imediatismo sofremos cada vez mais com ansiedade, impaciência, frustrações e solidão, a felicidade costuma durar alguns segundos e logo espera-se por algo que substitua o que julgamos não servir mais. Por conta disso deixamos de enxergar as pessoas e também a nós mesmos, perdemos a consciência do que realmente vale a pena, somos levados por sentimentos mesquinhos e decadentes, não compartilhamos vida, sentimentos, somos parte de uma rotina mecânica que nos adoece. Todos que assistirem "Anomalisa" se identificará em algum momento com Michael Stone, e daí vem a reflexão do nosso comportamento perante a vida e aos outros.
Melancólico, delicado e realista, essa obra de Charlie Kaufman e Duke Johnson é uma joia rara da animação e merece todos os elogios. Uma baita produção!
sábado, 21 de maio de 2016
James White
"James White" (2015) dirigido pelo estreante Josh Mond nos conduz a um estudo de personagem, repleto de nuances, emoções conturbadas e conflitos pessoais. São questionáveis as atitudes do protagonista, mas em nenhum momento há um tom de crítica, e sim revela que deixar-se levar pelos privilégios pode acarretar consequências prejudiciais.
É um drama denso que te deixa pensando muito durante e depois do término, e por isso causa desconforto e tristeza. James White é um homem que luta contra seus comportamentos imprudentes e destrutivos enquanto lida também com a perda do pai e a relação com a mãe que sofre de câncer. O conhecemos em uma boate, ele está claramente inquieto, seus olhos refletem uma angústia ansiosa, então ao chegar em sua casa sabemos que ele perdeu seu pai, e mais adiante que sua mãe sofre de câncer e piora cada vez mais. James é um jovem arrogante, mimado, que vive à custa da mãe doente, não trabalha, não tem ambições, vive a seu bel-prazer, bebendo, se drogando, viajando. Com a piora da mãe, James precisa cuidar dela, e a partir daí inicia-se uma tour de force emocional, mas mesmo tendo duras responsabilidades ele não perde sua maneira de ver as coisas.
Cynthia Nixon como Gail, a mãe de James, se destaca intensamente, antes uma mulher controladora e manipuladora, até por ter criado James sozinha, se vê perdendo a si mesma, difícil acompanhar seu definhamento. O filme passa por estados emocionais conturbados, James é um menino ainda, ele se prende a uma garota adolescente, a brigas, a um consumo excessivo de bebida, drogas, e na única alternativa de conseguir um emprego acaba estragando tudo, se autossabota. Christopher Abbott encarna um personagem que ora irrita, ora encanta. Defini-lo é impossível, pois ele não se conhece e o que passa ao espectador é um alguém sem autoconfiança. O relacionamento de co-dependência entre ele e a mãe certamente interferiu na construção de sua personalidade, quando tudo desaba James está sozinho e precisa encarar-se de frente. O diálogo que acontece no banheiro quase pro fim do filme é uma cena memorável, é a vida que ele nunca irá viver. A sua respiração, a mãe em seus ombros... é o ponto forte do longa.
Tem algo em James que deseja melhorar, mas ele continua a se apoiar em situações para que isso não aconteça, ele está sempre ansioso, angustiado, infeliz. A câmera capta perfeitamente os detalhes, expressões e olhares. As cenas são construídas cuidadosamente e imergimos numa melancolia profunda.
"James White" retrata um cara que está à deriva, que não sabe o que fazer para mudar, até que a vida o obriga a pensar, a olhar para si próprio e então quem sabe, a encontrar um rumo.
É um drama denso que te deixa pensando muito durante e depois do término, e por isso causa desconforto e tristeza. James White é um homem que luta contra seus comportamentos imprudentes e destrutivos enquanto lida também com a perda do pai e a relação com a mãe que sofre de câncer. O conhecemos em uma boate, ele está claramente inquieto, seus olhos refletem uma angústia ansiosa, então ao chegar em sua casa sabemos que ele perdeu seu pai, e mais adiante que sua mãe sofre de câncer e piora cada vez mais. James é um jovem arrogante, mimado, que vive à custa da mãe doente, não trabalha, não tem ambições, vive a seu bel-prazer, bebendo, se drogando, viajando. Com a piora da mãe, James precisa cuidar dela, e a partir daí inicia-se uma tour de force emocional, mas mesmo tendo duras responsabilidades ele não perde sua maneira de ver as coisas.
Cynthia Nixon como Gail, a mãe de James, se destaca intensamente, antes uma mulher controladora e manipuladora, até por ter criado James sozinha, se vê perdendo a si mesma, difícil acompanhar seu definhamento. O filme passa por estados emocionais conturbados, James é um menino ainda, ele se prende a uma garota adolescente, a brigas, a um consumo excessivo de bebida, drogas, e na única alternativa de conseguir um emprego acaba estragando tudo, se autossabota. Christopher Abbott encarna um personagem que ora irrita, ora encanta. Defini-lo é impossível, pois ele não se conhece e o que passa ao espectador é um alguém sem autoconfiança. O relacionamento de co-dependência entre ele e a mãe certamente interferiu na construção de sua personalidade, quando tudo desaba James está sozinho e precisa encarar-se de frente. O diálogo que acontece no banheiro quase pro fim do filme é uma cena memorável, é a vida que ele nunca irá viver. A sua respiração, a mãe em seus ombros... é o ponto forte do longa.
Tem algo em James que deseja melhorar, mas ele continua a se apoiar em situações para que isso não aconteça, ele está sempre ansioso, angustiado, infeliz. A câmera capta perfeitamente os detalhes, expressões e olhares. As cenas são construídas cuidadosamente e imergimos numa melancolia profunda.
"James White" retrata um cara que está à deriva, que não sabe o que fazer para mudar, até que a vida o obriga a pensar, a olhar para si próprio e então quem sabe, a encontrar um rumo.
quinta-feira, 19 de maio de 2016
Zurique (Zurich)
"Zurique" (2015) dirigido por Sacha Polak (Hemel - 2012) é um drama pesado que se desenrola aos poucos ao mostrar as dores da protagonista, vivida pela cantora holandesa Wende Snijders. A atuação sem dúvidas é o ponto forte do filme, é realmente dolorido acompanhar a sua triste trajetória. Nina perde seu grande amor Boris, um caminhoneiro, mas após a morte acaba descobrindo que ele mantinha uma vida dupla, tendo filhos e esposa. Tentando lidar com seus sentimentos, ela comete um ato questionável e foge. O filme é um road movie e sua narrativa não linear vai descortinando aos poucos o porquê de suas atitudes.
A falta de linearidade ajuda na sensação de estar à deriva, assim como a personagem ficamos perdidos tentando entender os motivos, é aflitivo. Nina sofre pela perda do amor, pelo fato de não poder participar do enterro, por não ter direitos, ainda mais por ter uma filha pequena, ela foi a outra, mas não sabia. Dentro deste amargo contexto ela se infiltra na cena caminhoneira, dirige pelas estradas, pega caronas e toma atitudes estranhas, canta em bares e se envolve num romance, claramente atos autodestrutivos.
Dividido em dois capítulos, começando pelo final da história, "Zurique" garante o fator surpresa e um clima angustiante. Por vezes somos tomados por poesias visuais, principalmente quando introduzidos às lembranças dela junto de seu amor, a cena inicial envolvendo um acidente e uma chita é belíssimo, um simbolismo surreal. A interpretação de Wende Snijders é sublime, ela alterna entre a crueza, a antipatia e uma profundidade emocional, sua confusão é dilacerante e a atriz o faz elegantemente sem pender para o melodrama.
"Zurique" retrata o como é difícil ter que lidar com situações inesperadas, com surpresas dolorosas. Nina ficou desnorteada, desamparada, necessitando de contato humano como tentativa de se confortar, o presente que acompanhamos inicialmente é uma maneira de se livrar de todo o passado, mas se ela não for capaz de encará-lo jamais conseguirá. É um filme contemplativo em que descobrimos aos poucos os porquês, e por isso incomoda, mas é algo que enaltece o longa.
O romance que Nina inicia com um caminhoneiro reflete o como se sente
desamparada, ela se apega, mas não compartilha nada de si com o homem, ela
parece querer sugar tudo dele para tentar começar uma nova vida, e isso acaba
piorando ainda mais sua confusão.
"Zurique" é uma história densa e que ao final deixa uma
sensação desoladora, mas é bonito, requintado e maravilhosamente bem atuado por
Wende Snijders, que além de ser uma excelente cantora se mostra uma atriz
surpreendente.
Para quem quiser conhecer mais de Wende Snijders como cantora: "Tower Song", trilha do filme "Zurique", "Formidable", versão da música de Stromae, "La Vie en Rose", versão da música de Édith Piaf.
terça-feira, 17 de maio de 2016
Metamorfoses (Métamorphoses)
"Minha mente está inclinada a contar histórias sobre seres que se transformam...." (Ovídio)
"Metamorfoses" (2014) dirigido por Christophe Honoré (A Bela Junie - 2008) é uma adaptação do texto clássico, do poeta latino Ovídio, numa abordagem moderna e original. O poema narrativo abrange mais de 250 mitos, em 15 livros, conta a história do mundo combinando ficção e realidade, através das relações entre deuses e homens, e das suas transfigurações em animais, árvores, rios e pedras, representando o início dos tempos. Surpreendente e encantadora, essa obra atualiza a mitologia greco-romana em situações contemporâneas, várias metáforas fazem parte da construção da trama dividida em três capítulos e que tem como personagem central a mortal Europa (Amira Akili).
Tudo começa quando Europa decide ignorar a aula para seguir um caminhão desgovernado, ela se depara com um jovem sedutor e magnético chamado Júpiter (Sébastien Hirel), ele a sequestra e estranhamente a menina fica fascinada pelas histórias contadas sobre pessoas que se transformaram em animais depois de conhecê-lo, nada a assusta, ela ouve e vivencia tudo com muita naturalidade.
O clima do filme é envolto por uma sensualidade latente, não há pudores, os jovens desfilam em total nudez, os desejos são ilimitados, a natureza compõe todo o cenário dando um aspecto maior de liberdade. Europa se encontra com três deuses, Júpiter que a introduz nesse contexto fantástico, Baco, o deus dos excessos, especialmente de natureza sexual, e Orfeu, o deus que arrasta as pessoas consigo, Europa deixa Baco e também começa a segui-lo.
Nesse trajeto entre deuses ela ouve muitas histórias, principalmente de transformações, segue testemunhando as grandes provações pelas quais passam os mortais quando caem em desgraça perante os excêntricos deuses. Em segundo plano outros mitos são abordados, como Argos, Pã, Tirésias, Narciso, Atalanta, etc.
"Metamorfoses" é um longa ambicioso, transpor um poema épico para uma leitura modernizada sem tirar toda a aura lírica exige grande coragem, é de uma beleza visual excepcional e a narrativa envolve com todo o tom sensual e satírico.
Há um certo estranhamento em como o roteiro é conduzido, porém é extremamente curioso e acende a nossa imaginação, o ato de revisitar os mitos faz com que enxerguemos além, os simbolismos estão expostos, como a distância entre o homem e a natureza, a ilusão de que ele a domina e não o contrário, o prólogo exemplifica. Todas as fronteiras são apagadas, e por conta da leveza inserida tudo flui prazerosamente.
Um dos mitos abordados é o de Narciso, o belo rapaz que teria uma vida longa se nunca visse a própria face, segundo disse o profeta cego Tirésias, todos se apaixonam por ele, mas ninguém o interessa. A maneira moderna que o filme explora esse mito é super interessante e é um dos melhores momentos.
"Metamorfoses" é uma poesia visual, e certamente agradará àqueles que curtem mitologia e se interessam por filmes diferenciados.
quarta-feira, 11 de maio de 2016
O Filho de Saul (Saul Fia)
"Você vai abandonar os vivos por causa dos mortos?"
"O Filho de Saul" (2015) dirigido pelo húngaro László Nemes é angustiante e claustrofóbico ao retratar o já tão explorado tema holocausto nazista. Pois bem, não é um filme que provoca empatia, o protagonista sempre filmado muito de perto se apega a algo dentro daquele inferno, e acaba não pensando em seus semelhantes que podem perder a vida justamente por causa de seus atos egoístas.
A história segue Saul (Géza Röhrig), um húngaro membro do Sonderkommando, o grupo de prisioneiros judeus isolados do acampamento e forçados a ajudar os nazistas na máquina de extermínio em grande escala. Enquanto trabalhava em um dos crematórios, Saul descobre o cadáver de um menino que toma por seu filho. Ao mesmo tempo o Sonderkommando planeja uma rebelião, Saul decide realizar uma tarefa impossível: salvar o corpo da criança das chamas, encontrar um rabino para recitar o Kadish do enlutado e oferecer ao menino um enterro apropriado.
O que o filme propõe ao espectador é analisar a situação de Saul, sua obsessão em querer encontrar um rabino naquelas circunstâncias para enterrar um menino que tomou como seu filho é completamente irracional, ele se arrisca, coloca a vida dos outros em perigo, as vezes que ele sai andando em meio ao horror são inúmeras, a tensão cresce pelo que pode acontecer, mas ele não desiste desta busca, pois seria algo que daria algum alívio a sua dor e um meio de relembrar quem é.
"O Filho de Saul" se sobressai pela técnica, filmado em janela clássica (4:3), a câmera na mão com diversos planos-sequências e cortes sutis, além do close constante no protagonista, tudo isso contribui para nos sufocar e provocar enjoos. O áudio acaba tendo a grande função de nos introduzir ao horror, sabemos o que se passa naquele lugar, mas não vemos claramente. Acompanhamos apenas Saul, que realiza suas funções, que consiste em ajudar a tirar as roupas, esperar a matança, recolher os corpos e limpar, são ações automáticas, até que ele se depara com o garoto e inicia sua busca por um rabino, deixando seus afazeres de lado e não ajudando com o plano de rebelião de seus colegas. Saul sabe de seu destino, dia menos dia será ele a ser morto, portanto, sua loucura é consciente, uma maneira de se sentir vivo.
Géza Röhrig fez um excelente trabalho, um homem silencioso que aparentemente não é capaz de muito, mas que surpreende e faz com que arregalemos os olhos diante de sua ousadia, ele entra em lugares não permitidos, se infiltra em meio aos outros para procurar o tal do rabino, entra no consultório médico atrás da criança e é pego, e sempre com o mesmo semblante. Chega um momento que não aguentamos mais, temos raiva, mas conforme o desenrolar o sentido de humanidade aparece.
Outro ponto marcante do filme é a confusão, a maior parte do tempo não se sabe muito bem o que acontece, quem manda no quê e em quem, são diálogos soltos, falta compreensão entre eles mesmos, o que ajuda na irritação, mas que traduz perfeitamente o caos.
"O Filho de Saul" é um é filme frio, duro e que causa bastante desconforto, mas interessante pela abordagem e pela maneira que chega a cada um de nós.
terça-feira, 10 de maio de 2016
A Lição (Urok)
"A Lição" (2014) dirigido pela dupla Kristina Grozeva e Petar Valchanov é um filme para se pensar sobre questões morais e éticas em situações-limite, é quando o certo se torna o errado e o errado se torna o certo.
Nade (Margita Gosheva) é professora de inglês, é muito correta e rígida em sala de aula, quando um aluno rouba dinheiro de uma colega, ela tenta de todas as maneiras descobrir quem fez isso para lhe ensinar o que é o certo e o errado, na sua vida pessoal sofre com problemas financeiros e o desespero só aumenta com o passar dos dias. Seu marido não lhe ajuda em nada, é um alcoólatra que gastou o dinheiro que pagaria a dívida com o banco para arrumar um velho trailer que passa as noites dormindo. Nade tem o prazo de três dias para quitar, ou sua casa irá ser leiloada. Sem muitas alternativas, ela resolve arranjar o dinheiro com um agiota, o que desencadeia uma série de situações preocupantes.
Nade briga com o tempo e passa a maior parte dele correndo literalmente para ajeitar as coisas, ela não recebe seu salário, pois o empregador da empresa de tradução sumiu, os oficiais de justiça a pressionam e são pouco transparentes com o que ela precisa fazer de fato para não perder a casa, ainda lida com um marido imprestável, uma filha com saúde frágil e um pai negligente, que não perde a oportunidade de humilhá-la. Em dado momento, Nade o procura para pedir ajuda, ele é rico e poderia consertar as coisas, mas para ela é difícil, pois quando sua mãe morreu pouco se importou se recusando até de colocar uma lápide no túmulo, e logo foi morar com uma mulher mais nova de caráter duvidoso, ela se prontifica a ser mais cordial com a namorada dele, porém a humilhação vem em triplo. Nade mantém sua postura, não exatamente de orgulho, mas de manter a sua dignidade, por exemplo, quando o agiota lhe propõe a prostituição, ela prefere um outro caminho, analisa as suas opções, seus valores e se decide. Esta escolha bate de frente com o que vem acontecendo na sala de aula, e então seu julgamento é completamente transformado em compaixão.
O drama vivenciado por cada pessoa tem um contexto muito amplo e julgar se baseando apenas em suas próprias crenças moralistas é ignorância, não se sabe do dia de amanhã e do que precisaremos fazer para conseguir sobreviver, o certo e errado depende muito da realidade que se vive. Ao final, a lição é aprendida pela própria professora que no início julgou a atitude do aluno do qual queria expor para todos e dizer: isso é errado! A compaixão pelo próximo, essa é a grande e difícil lição.
Em um sistema tão duro, burocrático e corrupto será possível viver sem quebrar o que temos de bom dentro de nós? Os conceitos que temos sobre nós mesmos e dos outros vão mudando a partir do momento em que não há saídas, Nade tenta, e tenta muito conseguir dinheiro de um modo que não a prejudique internamente, mas não dá. É esdrúxulo o que o banco faz, as taxas não especificadas e ela tendo até que contar moedas que pega em uma fonte, pois na tentativa de descobrir o aluno roubando se distraiu e foi roubada mesmo, ficando sem nem uma mísera moeda.
O filme prima pela tensão, a personagem e seu dilema vai criando um desconforto enorme, principalmente pelo cansaço psicológico e também físico, aliás grande atuação de Margita Gosheva. O desespero em seus olhos, a vontade de sair da situação em que está, impossível não se conectar com o seu drama.
"A Lição" é um excelente filme que mostra a rotina estressante e as manobras financeiras cotidianas, a história é envolta por uma crítica social e coloca em evidência a natureza humana em situações desesperadoras, onde todas as convicções sobre certo e errado se desfazem, e tudo o que se julgou um dia cai sobre si mesmo.
segunda-feira, 2 de maio de 2016
Desajustados (Fúsi)
"Desajustados" (2015) dirigido pelo islandês Dagur Kári (O Bom Coração - 2009) é um belo filme que inspira e faz com que tenhamos coragem de enfrentar a vida de frente, independente dos obstáculos internos e externos.
Fúsi (Gunnar Jónsson) é um homem que já passou dos quarenta anos de idade, mas ainda não teve coragem de entrar na vida adulta. Ele vive uma pacata rotina morando com sua mãe até que um encontro com uma mulher vivaz e uma menina de 8 anos afeta seu equilíbrio, obrigando o homem a fazer mudanças.
Quando penso em Fúsi lembro de que quando recebemos algum tipo de gentileza, infelizmente, assustamos. Fúsi causa esse impacto, principalmente por ser grandalhão afasta as pessoas, porém seu coração é tão cheio de afeto que nos desmonta e logo queremos ultrapassar a tela e abraçá-lo.
Fúsi não se encaixa nos padrões determinados pela sociedade, ele é recluso, um menino num corpo de homem, a mãe o mima, ainda brinca e nem pensa em formar família. Passa seus dias tranquilamente, a não ser pelo constante bullying que sofre no trabalho, o departamento de cargas e bagagens do aeroporto de sua cidade, mas ele não enfrenta ninguém. Um dia, de presente o padrasto lhe dá a matrícula em uma escola de dança country, ele pensa duas vezes em entrar na aula, e por acaso conhece Sjöfn (Ilmur Kristjánsdóttir), uma mulher também desajustada que o fará perceber a vida de outra maneira. Fúsi está acomodado e não tem forças para lutar contra aquilo que o aflige, até que precisa ajudar Sjöfn, que tem uma forte depressão. Ela é sozinha e trabalha recolhendo o lixo da cidade depois de ter perdido o emprego em uma floricultura. Ele se interessa por ela, os dois passam alguns instantes juntos, mas em determinado momento Sjöfn se desestabiliza e fica envergonhada por ter que se submeter ao emprego de lixeira, só que é óbvio que Fúsi pouco se importa com isso. Sjöfn demonstra interesse pelo grandalhão, mas vive tantos dilemas em seu interior que fica incapaz de manter uma relação. A transformação do protagonista vai acontecendo sutilmente, ao ajudar sua amiga percebe a força que existe dentro de si.
As particularidades do personagem são cativantes e nos aproxima dele, como a sua mania de ligar para a rádio todas as noites e pedir um heavy metal, comer a mesma comida no mesmo restaurante de sempre, o seu zelo pelo jogo de guerra em miniatura, a sua amizade com a menina que o procura para brincar, mas, que infelizmente, o pai entende de um outro jeito e o proíbe de vê-la. E aí volta aquele pensamento de que as pessoas sempre pensam o pior dos outros, de que não existe mais sentimentos bons, de que tudo tem uma má intenção. Fúsi é gentil e puro em suas atitudes, e isso não combina com o mundo de hoje, as pessoas assustam, o olham de forma estranha.
Gunnar Jónsson como Fúsi está maravilhoso, consegue envolver e fazer com que tenhamos carinho e vontade de ter alguém como ele por perto. A maneira como cuida de Sjöfn é extremamente linda e despretensiosa.
"Desajustados" é um longa delicado que nos tira sorrisos e lágrimas de felicidade, apesar de toda a aura melancólica ao retratar a solidão, mas também mostra o poder de recomeçar a vida, a força que habita em nós e que deve ser usada para transformar nosso cotidiano e as pessoas ao redor. Todos temos desajustes sociais e vulnerabilidades, Fúsi encarou os dele e então se sentiu pronto para abraçar o mundo.
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