sexta-feira, 26 de abril de 2019

O Pombo (Güvercin)

"O Pombo" (2018) dirigido por Banu Sivaci é um filme turco que retrata a dificuldade de um adolescente em se adaptar à sociedade e ao meio familiar, sua solidão extrema é compensada pela companhia dos pombos, é no telhado de sua casa que sente a liberdade e o amor que tanto almeja.
Somente no telhado da casa de seus pais, acima dos becos de uma favela em Adana, com seus amados pombos, Yusuf (Kemal Burak Alper) pode encontrar a paz e a si mesmo. Encontrar um ponto de apoio no mundo exterior distópico é mais difícil.
Bastante peculiar o pano de fundo da trama, a columbofilia, a adoração e o cuidado que Yusuf têm com os pombos é algo que fascina o espectador, ele conversa e se sente preenchido na presença deles, na hora de alimentá-los, na hora do voo em que fazem um balé lindo no céu, e em específico passa suas horas com um pombo diferente que tem uma gaiola própria, ele o chama de Maverdi, seu zelo e afeto é retribuído e é incrível poder observar animais que são considerados sujos dessa forma e também serve para que conheçamos essa prática que exige do criador bastante conhecimento para as características desses pombos.
Yusuf é um jovem fechado que passa seus dias e noites ao lado de seus queridos pombos, mantém uma relação distanciada com a mãe e complicada com o irmão mais velho que quer colocá-lo para trabalhar em uma oficina que possui atividades um tanto duvidosas. Não tem jeito de escapar e Yusuf começa a trabalhar e todos os dias tenta chegar o mais cedo possível para cuidar de seus pombos, até que um dia um pombo-correio pousa em seu terraço e ele lê o bilhete e o esconde, depois tenta vendê-lo, mas esse episódio trará consequências terríveis e dará uma reviravolta em sua vida. Ele se desdobra entre o trabalho árduo na oficina e chegar antes de anoitecer para que seus pombos possam comer e voar, mas cada vez mais fica difícil conciliar, visto que seu irmão odeia os pombos e quer que ele se desfaça. Yusuf é trancado em si mesmo e pouco fala, mas seus olhos exprimem tanto sentimento, há tanto amor em si, e quando cuida de seus pombos, especialmente de Maverdi podemos contemplar todo esse amor. É delicado e triste observar o desenrolar da trama, a sua solidão e inadaptação, a dificuldade que passa e a afeição que guarda em seu interior que é depositada quando se dedica aos pombos, ali no terraço se sente livre ao contemplá-los voando e se esquece de toda a sua penúria e carência, ele encontra o apoio que precisa e o amor totalmente inexistente ao seu redor, a compreensão e a liberdade ele sente com os pombos.

É simples e sensível, não tem como não se comover, pois todos temos essa necessidade de afeto e quando ela não vem das pessoas a nossa volta, da família, principalmente, nos apegamos a algum animal, seja qual for, é um ponto de apoio que certamente se tirado bruscamente como no caso do protagonista deixa marcas que nunca serão apagadas, Yusuf é um jovem de sentimentos pulsantes e ao final toda a sua resistência nos preenche e nos alivia também, dá força para que nunca desistamos de nós mesmos. 

"O Pombo" é daquelas histórias sutis que fascinam pelo personagem, ótimo trabalho do ator Kemal Burak Alper, seus olhares penetram e compreendemos suas dores e dificuldades, possui lindas cenas que traduzem seus sentimentos e no fim lágrimas e sorrisos se misturam. 

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Nós (Us)

"Nós" (2019) dirigido por Jordan Peele (Corra - 2017) é um filme imersivo que além de trazer o thriller psicológico e o suspense atrelado ao terror tem uma densa camada de questões sociais, diferente do anterior "Corra" (2017) que faz crítica direta e mordaz ao racismo, em "Nós" há um aperfeiçoamento e uma elegância ao contar a história e vai por uma linha mais abrangente repleta de simbolismos e metáforas que garante uma experiência profunda.
Adelaide (Lupita Nyong'o) e Gabe (Winston Duke) decidem levar a família para passar um fim de semana na praia e descansar em uma casa de veraneio. Eles viajam com os filhos e começam a aproveitar o ensolarado local, mas a chegada de um grupo misterioso muda tudo e a família se torna refém de seus próprios duplos.
O mistério é incutido logo no início com a mensagem sobre túneis subterrâneos abandonados nos EUA e aí então vamos para o ano de 1986 e acompanhamos um momento da infância de Adelaide passeando com os pais num parque de diversões em Santa Cruz, ela acaba se afastando e entrando em uma espécie de casa de espelhos e ao explorar o local a tensão cresce e o encontro traumático com sua sósia acontece. O tempo passa e já adulta e com família formada decidem passar as férias na antiga casa de veraneio, Adelaide fica receosa, não gosta desse lugar, mas mesmo assim segue com o marido e seus filhos Zora (Shahadi Wright Joseph) e Jason (Evan Alex). As coisas começam a ficar desconfortáveis para Adelaide quando vão à praia e encontram o casal de amigos Kitty (Elisabeth Moss) e Josh (Tim Heidecker) e suas filhas gêmeas Becca (Cali Sheldon) e Lindsay (Noelle Sheldon), enquanto estão ali conversando Jason vai ao banheiro e Adelaide fica paranoica com seu sumiço e prefere voltar para casa. A noite Adelaide conta ao marido sobre seu trauma e o medo que sente de reencontrar com sua cópia, nisso seu filho entra no quarto e diz que há uma família do lado de fora, eles estão parados de mãos dadas vestidos de vermelho, há um confronto de Gabe contra eles, que diga-se de passagem com um humor fora de contexto e que quebra um pouco a tensão da cena, logo são perseguidos dentro da casa e feitos de reféns, eles portam tesouras e Red, cópia de Adelaide, é a única que possui a capacidade de falar, os outros apenas grunhem, ela conta a história de uma princesa e a sua sombra e algema Adelaide, Abraham, cópia de Gabe, o arrasta para outra sala, Umbrae, cópia de Zora, a persegue pelas ruas correndo e Jason se vê obrigado a brincar com seu sósia Pluto, que possui fascinação pelo fogo. Segue-se um jogo aterrorizante que para conseguir sobreviver é preciso cometer atitudes brutais. 
O filme possui um enredo bem elaborado e cheio de símbolos interessantes que ao longo vamos encaixando, mas não se trata de entendê-lo na totalidade e sim perceber a abrangência que ele propõe, além de sua bela e poderosa trilha sonora que tem total influência sobre as cenas, e claro, as interpretações, especialmente de Lupita e seu lado sombra, sua composição e a voz empregada é hipnotizante.

Inicialmente parece que só existe cópias desta família, porém descobrimos depois que se trata de um mundo duplicado onde cada pessoa dos EUA possui a sua, são chamados de Atrelados e habitam os túneis abandonados, é um experimento social que apesar de serem iguais não possuem os privilégios das versões que habitam à superfície, são obrigados a viverem comendo coelhos, presos e sem opções de escolha, são condenados a fazer aquilo o que lhes é imposto, uma metáfora brilhante e pulsante sobre a situação social dos EUA, a opressão, a violência, a invisibilidade, as injustiças, o medo do diferente e a atribuição que o monstro sempre é o outro. Gera calafrios e aterroriza pelo aspecto visual, mas esses pensamentos tem total função de nos deixar incomodados e refletir, é uma obra passível de interpretações e garante uma experimentação única a cada espectador. 

"Nós" é eficaz nas metáforas e reflexões sociais e intriga bastante, o suspense e o terror são bem utilizados dentro dessas questões e, talvez, o único ponto negativo seja o humor que acaba quebrando a tensão em variadas partes, mas ao todo é uma obra pertinente e que se sobressaí pela originalidade e o sentimento que causa após seu término. Certamente um filme que pede revisões.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

The Dirt - Confissões do Mötley Crüe (The Dirt)

"The Dirt - Confissões do Mötley Crue" (2019) dirigido por Jeff Tremaine, criador do famoso "Jackass", traz uma cinebiografia descolada que retrata o surgimento da banda com todos seus altos e baixos e suas doideiras ao longo dos anos, além de seu fim e ressurgimento e então seu último show misturando cenas da banda verdadeira. Cumpre com o papel de expor as características de cada integrante, sejam elas legais ou escrotas e imergimos diretamente no universo dos anos 80 com a ascensão do glam rock e cujos estereótipos do lema sexo drogas e rock'n roll são levados ao extremo. 
Considerada uma das mais importantes bandas da história do glam metal, Mötley Crüe foi responsável por dar rosto a uma vertente do rock que, até então, não era muito bem vista pelo público em geral. Vivendo no ápice do estrelato nas décadas de 80 e 90, seus membros vivenciaram todo o glamour de ser um rockstar - até nos momentos mais improváveis.
Entre as cinebiografias de bandas que têm surgido esta sem dúvidas ganha todos os pontos por ser fiel, claro que alguns fatos foram modificados, mas ao todo é um baita filme tanto para os fãs como para aqueles que nem a conheciam, pois possui ótimos elementos, como a caracterização, enredo e o tom completamente divertido. Esse longa marca de vez a era das biografias de bandas, e tomara que as que virão sejam tão boas quanto, a escolha do diretor foi um acerto e a não romantização fez toda a diferença. 
Acompanhamos o surgimento da banda com o baixista Nikki Sixx, que sim mudou mesmo seu nome e que devido a relação conturbada com a mãe saiu de casa e foi para Los Angeles por conta própria, e aí fundou o Mötley Crüe ao conhecer o baterista Tommy Lee, o guitarrista Mick Mars que encontraram num anúncio de jornal e por intermédio de Tommy Lee decidiram colocar como vocalista Vince Neil, que tinha um grande apelo com as mulheres. Motivados a fazer algo diferente dentro do cenário da época começaram a aderir influências do glam metal, roupas extravagantes, maquiagem e madeixas volumosas, o que deixavam a mulherada louca, e cuja fama que chegava rápida os deixavam cada vez mais estúpidos e sem limites. O filme não poupa os momentos bizarros e pesados de cada um, há o episódio do acidente envolvendo Vince Neil que acabou matando o baterista da banda Hanoi Rocks, o vício em heroína de Nikki Sixx, os problemas de saúde e a dificuldade de Mick Mars em vários momentos e como sendo o mais velho se portava sempre de maneira mais reservada e misteriosa, e Tommy Lee, o bitolado que andava sempre com suas baquetas e também descontrolado em suas atitudes, algumas passagens de sua vida não estão, como o casamento com Pamela Anderson, mas devido a tantas confusões era esperado que não faria parte. No todo coloca em evidência as personalidades de cada sem florear e todo o cenário da época que borbulhava

A caracterização dos atores está muito boa, não reconheci o ator Iwan Rheon por trás de Mick Mars, o insano Ramsay Bolton de "Game of Thromes", os demais também estão ótimos, Douglas Booth como o baixista Nikki Sixx, Daniel Webber como o vocalista Vince Neil e o rapper Machine Gun Kelly como o baterista Tommy Lee, além da incrível participação de Tony Cavalero interpretando o Ozzy numa das passagens mais doidas de sua vida, que inclui cheirar formigas e lamber o próprio xixi do chão. 
O filme surpreende por explorar o contexto da época e todos os seus estereótipos sem querer romantizar ou esconder fatos, é um verdadeiro exemplar do lema: sexo, drogas e rock'n roll. 

"The Dirt - Confissões do Mötley Crüe" retrata a ascensão da banda e todos os excessos e absurdos de suas atitudes, e também a eletricidade e o caos que permeava a atmosfera da época. Uma biografia que faz jus ao título de rockstars e que vem na contramão das que pretendem enganar ou esconder do público as partes infames desses artistas que marcaram época.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Skin

"Skin" (2018) dirigido por Guy Nattiv (O Dilúvio - 2011), vencedor de melhor curta-metragem do Oscar 2019 conta uma forte e impactante história colocando em evidência a intolerância e a violência. Roteiro firme e mensagem clara, mostra a perpetuação da violência, do racismo, da ignorância e do porte de armas, e as consequências sempre trágicas que advém de tudo isso. 
Em um pequeno supermercado em uma cidade operária, um homem negro sorri para um menino branco de 10 anos. Esse gesto inocente provoca uma guerra implacável entre duas gangues.
Jeffrey (Jonathan Tucker) está cortando o cabelo de seu filho Troy (Jackson Robert Scott) e Christa (Danielle Macdonald) planejando uma pequena viagem, uma família até então amorosa e comum, até que vemos eles encontrarem alguns amigos que claramente possuem características de extremistas, logo começam a tirar armas do carro e atirarem em alvos e até o pequeno atira com um rifle causando orgulho ao pai. Na volta para casa eles param em um supermercado e enquanto os pais estão no caixa Troy sorri para Jaydee (Ashley Thomas), um homem negro que segura um boneco, quando Jeffrey vê começa a xingá-lo e atacá-lo, Jaydee não fica quieto e ao sair do supermercado é golpeado por Jeffrey e sua gangue, a esposa e o filho de Jaydee apavorados gritam de dentro do carro. Eufóricos voltam para casa e continuam suas vidas, pai e filho se divertem numa brincadeira, mas a vingança estava para chegar e Jeffrey é pego numa armadilha e levado por uma gangue, que incluía o filho do cara que ele espancou, ficamos esperando tensos para o que irá acontecer e depois de alguns dias apagado enquanto alguém manuseava uma agulha de tatuagem vemos o resultado e as consequências chocantes.
Para Troy aquele mundo repleto de violência e intolerância era o que ele conhecia e é isso que o filme quer expor, que se você vive em meio ao ódio o caminho é apenas esse e o ciclo continua.

O filme toca em questões pulsantes que norteiam o mundo todo, o racismo e a intolerância perpetuada nos lares, assim como a ideia de que ter armas é uma boa opção, Jeffrey ensinou seu filho a atirar, a nutrir ódio pelos outros, a ter ideais extremistas e para ele esse mundo era o único, então não havia como sair algo bom disso, o filme traz uma mensagem potente e imediata sobre a estimulação da violência. 

Há um longa de mesmo nome lançado no mesmo ano também pelo diretor Guy Nattiv que é baseado na vida de Bryon "Pitbull" Widner (Jamie Bell), e conta a história do membro de uma gangue neonazista que enfrenta perigosas consequências quando resolve sair.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Girl

"Girl" (2018) dirigido por Lukas Dhont é um filme que foge das convencionalidades envolvendo a temática transgênero, e por mais críticas e polêmicas em torno da representatividade em não ter escolhido uma atriz trans é uma história válida que retrata com honestidade os obstáculos externos e a complexidade dos obstáculos internos. Inspirado por um artigo contando a história da bailarina Nora Monsecour, o cineasta teve a intenção de enfatizar não os vilões, como o preconceito e a não-aceitação da família e de pessoas a sua volta, mas a gama de sentimentos que compõem a personagem, como o ódio do próprio corpo e a guerra que trava dentro de si própria, mas em nenhum momento se vitimizando ou encarando a sociedade negativamente, o que lhe dói é o que sente em relação a si mesma. É doloroso, real, mas exibe uma beleza em cada detalhe, o desabrochar da protagonista é lento e cheio de sofrimento reprimido e, por isso, o seu desfecho é tão libertador e esperançoso.
Lara (Victor Polster) é uma jovem menina de quinze anos, seu maior sonho é tornar-se uma bailarina profissional e, com a ajuda do pai, ela busca uma nova escola de dança para desenvolver sua técnica. No entanto, a menina encontra dificuldades para adaptar-se aos movimentos executados nas aulas por conta de sua estrutura óssea e muscular, já que Lara nasceu no corpo de um menino.
Acompanhamos seu dia a dia, o relacionamento com o pai e o irmão mais novo, sua entrada na nova escola de balé e sua ansiedade em transformar seu corpo, na superfície tudo parece calmo, mas seu interior está em conflito, o pai a apoia e sempre está à disposição para conversar, Lara até fica irritada por vezes pela preocupação excessiva e nunca diz com clareza sobre suas angústias, é fechada e tímida e se mantém firme diante das pessoas ao redor, tanto na escola e nas aulas de dança, alguns constrangimentos se dão, mas o que a incomoda de fato é se olhar no espelho e ver seu corpo masculino, apesar de estar em transição não consegue ver mudanças, o que a faz sorrir é saber que em algum tempo realizará a cirurgia de redesignação sexual, mas ela não se alimenta direito e se exige demais na dança e por conta disso sua saúde é afetada e a cirurgia cada vez mais adiada, é uma série de dúvidas que a permeiam e vemos pelas suas iniciações em descobrir sua sexualidade, são momentos dolorosos quando se reprime, ela guarda os incômodos do cotidiano e acaba se maltratando fisicamente.

É preciso salientar que antes da escolha de Victor Polster para interpretar Lara foi realizado audições sem qualquer apego a gêneros e não encontraram ninguém que pudesse dançar e atuar tão bem, então foi durante a escolha do elenco de dançarinos que Victor se sobressaiu e acabou se encaixando perfeitamente ao papel, esse é seu primeiro trabalho e a carga dramática que exibe é potente e recheada de camadas, conseguiu passar com realismo todas as dificuldades que uma adolescente trans passa para se aceitar.
Através de uma perspectiva naturalista observamos todos os obstáculos não só da personagem Lara, mas das vidas transgênero, principalmente o conflito com o corpo com as exigências e a ansiedade da transformação, pois o filme se apega a esse exercício de empatia, do olhar mais íntimo e delicado, ele se importa com o assunto de fato e o faz de forma bonita e real.

"Girl" traz com sensibilidade e vigor o drama da autoaceitação, retrata com amabilidade a tensão nos olhos de Lara, suas angústias, sua raiva, seus receios, seus conflitos e o distanciamento que toma para evitar constrangimentos, além dos danos físicos que se submete, como esconder o pênis com fita adesiva que acaba causando infecções e toda a cobrança que tem em volta de seu corpo e desempenho como bailarina, as cenas em que realiza a coreografia reprimindo a dor aflige e só faz realçar o como lida consigo mesma. Um exemplar honesto, empático e fora dos padrões dentro temática, e cuja composição de Victor Polster é realmente admirável.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Os Garotos Selvagens (Les Garçons Sauvages)

"Os Garotos Selvagens" (2017) dirigido pelo estreante em longas-metragens Bertrand Mandico (Ultra Pulpe - 2018) é um filme surpreendente, original e inebriante, uma viagem surreal que vai do sinistro à fascinação e que incorpora elementos experimentais, uma produção desprendida que traz à tona temáticas interessantes em torno da sexualidade com boas dosagens de símbolos eróticos em tom de fábula. 
Início do século XX, cinco adolescentes de boas famílias que amam a liberdade cometem um crime brutal. Eles são dominados por um capitão de um veleiro, que os leva para um cruzeiro repressivo. Os jovens fazem um motim e acabam em uma ilha selvagem que combina diversão e vegetação exuberante. A transformação pode começar... 
Com uma estética aprimorada e livre remetendo por vezes os filmes dos anos 50 e por vezes dos anos 70/80, utiliza-se recursos narrativos imaginativos e hipnotizantes capazes de gerar tanto a sensação de estranheza como a de encantamento, há um teor sexual forte, pois trata-se do despertar sexual de cinco garotos, dentro desse universo onírico existem temas que envolvem gênero, sexualidade e violência, no início acompanhamos um jovem perdido e alucinado e ouvimos vozes o chamando, logo é pego por marinheiros que o atacam sexualmente e aí percebemos que o garoto possui um único seio, a história volta no tempo e conhecemos o grupo de cinco meninos, todos bem ricos e que vivem a espalhar maldades, apaixonados pela professora de literatura combinam um ensaio teatral e no meio a atacam e a amarram nua num cavalo, todos se masturbam à sua frente fazendo com que o cavalo dispare e caia provocando a morte da professora. Esse episódio grotesco vai para o tribunal numa cena estonteante em que os garotos selvagens tentam ludibriar para se saírem ilesos, todos são mentirosos, cínicos e essencialmente malvados, porém não conseguem se livrar da punição e para isso é contratado um capitão (Sam Louwyck) que os levará para uma ilha e cujas experiências vivenciadas no trajeto e nessa ilha estranha os transformarão e aprenderão enfim a ter respeito, empatia e, principalmente, a sentir na própria pele o abuso.
Os cinco meninos Tanguy (Anaël Snoek), Sloan (Mathilde Warnier), Romuald (Pauline Lorillard), Hubert (Diane Rouxel) e Jean-Louis (Vimala Pons) são interpretados na verdade por atrizes e a composição de cada é maravilhosa e tanto a feição como a postura enganam quase totalmente, especialmente Vimala que faz o terrível Jean-Louis e Anaël como Tanguy, a transformação que a ilha produz vai mudando as expressões e os trejeitos, a ilha é repleta de mistérios e coisas prazerosas e fascinam os meninos que se soltam e experimentam, há os frutos cabeludos, o leite que escorre por plantas fálicas e outras que propiciam o ato sexual, e aos poucos vão os modificando e o primeiro indício é o seio nascendo, logo o pênis cai e se abre o horizonte, o entendimento sobre o novo corpo juntamente com os receios, as ameaças e os desejos, o roteiro joga com questões de gênero o tempo todo e desconstrói absolutamente tudo. 

Um grupo de meninos burgueses com os hormônios à flor da pele que praticam barbaridades e que se acham estar acima pelos privilégios vão conhecer na própria pele o que é o medo do abuso e da violência, nesse entremeio experimentam sensações diversas que ultrapassam barreiras. Mais adiante encontramos Séverine (Elina Löwensohn), que descobriu a ilha e que colocou em prática seus estudos acerca das plantas hormonais, conta o como convenceu o capitão a aperfeiçoar um método de domar garotos selvagens, pois ela acreditava que um mundo feminizado acabaria com a violência e os conflitos.
O filme é uma experiência maravilhosa que não se apega a convencionalidades e experimenta com imensa criatividade e imaginação um universo que joga com questões de gênero e sexualidade, é uma mistura hipnotizante de estilos que aguçam nossos sentidos e surpreende pelo desenrolar que vai quebrando todas as definições.

"Os Garotos Selvagens" é misterioso, psicodélico e erótico, um exemplar que aborda de forma liberta a questão da masculinidade atrelada à violência e o entendimento e a comunhão dos corpos através de uma experiência de metamorfose proporcionando assim uma visão ampla dos receios e desejos femininos. Original e imersivo certamente uma obra contestadora e que reúne símbolos pertinentes. Filmaço!

terça-feira, 9 de abril de 2019

Cafarnaum (Capharnaüm)

"Cafarnaum" (2018) dirigido por Nadine Labaki (Caramelo - 2007, E Agora, Aonde Vamos? - 2011) é um drama pesado e ao mesmo tempo sensível que retrata a miséria e o caos moral e social, além disso um filme que se posiciona e denuncia questões primordiais, por exemplo, o casamento de meninas menores de idade e a consciência sobre colocar mais vidas neste mundo falido. A dor que envolve a história é enorme, certamente os olhos do protagonista ficarão cravados na memória do espectador, também causa espanto pelas atrocidades pelas quais passa para a sobrevivência e o seu incrível senso de responsabilidade moral e clareza diante deste núcleo caótico em que vive.
Aos doze anos, Zain (Zain Al Rafeea) carrega uma série de responsabilidades: é ele quem cuida de seus irmãos no cortiço em que vive junto com os pais e que leva o alimento trabalhando em uma mercearia. Quando sua irmã de onze anos é forçada a se casar com um homem mais velho, o menino fica extremamente revoltado e decide deixar a família. Ele passa a viver nas ruas junto aos refugiados e outras crianças que, diferentemente dele, não chegaram lá por conta própria.
Zain vive num ambiente bagunçado em todos os sentidos, os pais não têm noção de nada, o faz trabalhar na mercearia em troca de um pouco de comida para dar aos irmãos que vivem amontoados num pequeno espaço, quando os pais decidem casar a irmã de onze anos com o dono da mercearia por causa de dinheiro, Zain fica revoltado e enfrenta-os, ela é seu vínculo mais forte e até a ajudou a esconder a menstruação da mãe a fim de que essa situação não ocorresse. Ele não consegue deter o casamento e irritado foge, simplesmente pega um ônibus e vai parar no lado em que moram refugiados, ali ele percebe um outro universo, tão pobre e tão difícil quanto o seu, porém recebe acolhimento e carinho de Rahil (Yordanos Shiferaw), que vive de maneira ilegal e tenta criar seu filho pequeno sem maiores problemas, Zain cuida da criança enquanto Rahil vai trabalhar e passa vários dias assim, até que Rahil é presa e as duas crianças ficam à mercê da sorte, sem ter o que comer Zain articula meios para poder conseguir dinheiro e comprar o mínimo possível, as cenas em que sai puxando o bebê atrás de si pelas ruas é de cortar o coração, eles enfrentam a fome e a dor de estar numa situação que não há saída, não existe escolha, é dali para pior, o que destrói qualquer pensamento de que todos têm possibilidades de escolha na vida. O filme promove o olhar para com o outro, para além do próprio mundo, da realidade miserável e lamentável em que crianças precisam lidar com o sofrimento do abandono, da irresponsabilidade dos adultos e dos podres que rodeiam esse mundo, como o personagem de Aspro (Alaa Chouchnieh). 

Cafarnaum é traduzido como caos e também é o nome de uma cidade bíblica que ficou conhecida por uma série de milagres atribuídos a Jesus, a fé parece não ser de grande valia, apesar de alguns personagens tê-la, o que não é o caso de Zain, simplesmente pelo fato de que a estrutura social os relegam tanto que são invisíveis até para o divino. A saga de Zain e Jonas é calamitosa e nosso coração aperta e gela para os desfechos que poderiam ocorrer, quando se acha que não tem mais para onde cair, abandonado ele decide recorrer a Aspro e com uma enorme dor faz o que ele propôs várias vezes a Rahil, e aí então fica tentado pela travessia à Suécia e volta para casa na esperança de encontrar seus documentos, mas ali tem novas decepções, nenhum deles possui documentos, e o que mais corrói seu coração é saber o que ocorrera com a irmã o impulsionando a cometer um ato cheio de revolta e raiva. Zain vai preso e encontra Rahil em outra cela, que desesperada clama por seu pequeno Jonas.
Em determinado ponto Zain consegue por meio de um telefonema para um programa uma forma de poder acusar os próprios pais e o juiz o ouve. Dilacerante seu depoimento e seu olhar sobre o todo, a consciência que tem do meio e de suas impossibilidades toca e nos faz refletir no rumo que a humanidade está tomando, da questão da imensa pobreza, das crianças relegadas pelos próprios pais que continuam a procriar criando assim um círculo de sofrimento, da situação dos refugiados e da falta de opção e perspectiva vivendo à sombra e sendo menos que lixo. No tribunal Zain quer processar seus pais por tê-lo trazido ao mundo e em seguida diz: "Eu quero pedir que meus pais parem de ter filhos."

Nadine Labaki nos deu uma obra realista e arrebatadora, extraiu de Zain Al Rafeea uma potência no olhar que dificilmente será apagada de nossa memória, o personagem homônimo é um garoto sírio, mas a realidade é que Zain viveu vários anos como refugiado sírio no Líbano e enfrentou a dura pobreza e todas as consequências que a condição acarreta, a tristeza no seu olhar é verdadeira, assim como na boa parte do elenco, o que gera uma autenticidade que desperta a nossa consciência.
"Cafarnaum" é primoroso, necessário, uma extrema dose de realidade e um cinema que faz a diferença! 

*Após a filmagem, Zain e a família receberam asilo na Noruega.

sábado, 6 de abril de 2019

O Clube dos Canibais (The Cannibal Club)

"O Clube dos Canibais" (2018) dirigido por Guto Parente (Inferninho - 2018) é um ótimo exemplo de como o cinema nacional está produzindo obras cada vez mais pertinentes e ousadas, Guto Parente tem se destacando pelos festivais mundo afora e se sobressaindo como um dos diretores mais interessantes atualmente. O filme é uma sátira aterrorizante que mostra o absurdo, o cinismo e a hipocrisia da elite ao se alimentar literalmente dos mais pobres, recheado de cenas violentas e diálogos perversos coloca em evidência as fissuras da estrutura social do país.
Otavio (Tavinho Teixeira) e Gilda (Ana Luiza Rios) são da elite brasileira e membros do The Cannibal Club. Os dois têm como hábito, comer seus funcionários. Quando Gilda acidentalmente descobre um segredo de Borges (Pedro Domingues), um poderoso congressista e líder do clube, ela acaba colocando sua vida e a de seu marido em perigo.
A história escancara a diferença entre classes e a segregação racial, a elite que chega ao poder graças aos mais pobres para depois os usarem como querem e se alimentarem posteriormente, o horror não está necessariamente nas cenas que jorram sangue, mas na metáfora explícita que a acompanha, na realidade do cenário absurdo em que estamos vivendo e cuja onda só aumenta. Acompanhamos mais de perto o casal Otavio e Gilda que se diverte fazendo sexo com os empregados enquanto o marido se masturba para em seguida matá-los e enfim devorá-los, Otavio faz parte do Clube dos Canibais, grupo secreto onde diversos políticos se reúnem para ditar regras e se satisfazerem não só com o canibalismo, mas também na observação do ato sexual, o grupo não deixa que as mulheres entrem e por isso Gilda articula meios para tal com o marido na própria casa. Segue assim até que numa festa Gilda flagra Borges numa situação constrangedora e no dia seguinte vai até ele pedir desculpas e dizer que não se importa, mas o poderoso deixa claro que não sabe do que ela está falando e daí para frente a tensão do que pode acontecer só aumenta, Otavio já estava apreensivo pelo "sumiço" de um integrante do grupo e quando Gilda diz o que viu e o papo que teve com Borges então tem a certeza que suas vidas correm perigo.
O ritmo da história é boa e captura nossa atenção por conta de seus personagens execráveis que personificam perfeitamente a elite que usa e abusa dos mais pobres, que em sua grande maioria são negros, pois diante de um país racista e classista não possuem força para se sobressair, o tom sarcástico ajuda na composição e a violência utilizada não só está nas imagens, mas também em suas falas preconceituosas e cheias de si, discursos de ódio que envolvem patriotismo e discriminação.

Destaque para a trilha sonora opressiva composta por Fernando Catatau e os efeitos especiais concebidos por Rodrigo Aragão, outro expoente do cinema de gênero nacional. O filme é muito bem elaborado e garante um suspense pulsante e cenas violentas, angustiante acompanhar personagens cínicos que, na verdade, têm medo. Medo de perderem suas posições privilegiadas, medo que a classe mais baixa obtenha voz, força e ação para que nunca mais deixem serem abusados e devorados. Quando surge Jonas (Zé Maria), que é contratado pelo casal por causa de seu visual e claramente para servir de alimento depois, várias situações tensas o envolvem e que mais adiante o tornam numa espécie de vingador. 

"Brindemos a lealdade que nos une. Nós, homens distintos e devotos aos mais nobres e elevados valores universais, enquanto nos mantivermos leais uns aos outros e aos nossos ideais seremos eternamente merecedores da posição privilegiada que ocupamos neste mundo. Posição esta meus queridos que nos demanda cada vez mais atenção e responsabilidade, pois os nossos inimigos, aqueles que lutam pela degradação dos valores da família, da fé, do trabalho, aqueles que querem transformar o nosso país num país de miseráveis, de delinquentes, de pederastas e de toda a escória social que deveria se encontrar esmagados sob nossos pés, àqueles meus caros, são capazes de todo o tipo de vileza para nos derrubar, mas nós não vamos cair, nunca, jamais, porque somos muitos e somos fortes, enquanto nos mantivermos unidos, leais, fiéis aos nossos ideais nada e nem ninguém irá jamais nos destruir e destruir a nossa pátria. Viva o Brasil! E viva o povo brasileiro".

"O Clube dos Canibais" é um filme potente e mordaz, são cenas que causam asco, como a festa em que ricaços dizem odiar morar num país de terceiro mundo e riem dizendo querer a extinção dos flanelinhas, ou a pior de todas, na reunião, cujo líder Borges se eleva e discursa sobre os valores de família, fé e contra àqueles que querem degradá-los, mais atual que o cenário absurdo em que vivemos impossível, a crítica social e política é visceral e, sem dúvidas, se configura entre os exemplares mais interessantes e ousados do cinema nacional de gênero.  

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Assunto de Família/Shoplifters (Manbiki Kazoku)

"Assunto de Família" (2018) dirigido por Hirokazu Koreeda (Depois da Tempestade - 2016) é uma obra bela e singela que nos faz refletir sobre laços e o que de fato forma uma família, retrata a pobreza no Japão e o como as pessoas mesmo sem perspectivas se unem e transcendem esse cenário miserável e caótico. Um drama por vezes pesado e por vezes doce, um acalento e um despertar de consciência. 
Depois de uma de suas sessões de furtos, Osamu (Lily Franky) e seu filho se deparam com uma garotinha. A princípio eles relutam em abrigar a menina, mas a esposa de Osamu concorda em cuidar dela depois de saber das dificuldades que enfrenta. Embora a família seja pobre e mal ganhem dinheiro dos pequenos crimes que cometem, eles parecem viver felizes juntos até que um incidente revela segredos escondidos, testando os laços que os unem.
Há boas pitadas de humor em meio ao peso da história, os personagens nos ganham com a simpatia e a generosidade, eles vivem à margem numa minúscula casa, cometem furtos e golpes para sobreviverem e passam a maior parte do tempo comendo, num dia voltando para casa Osamu e Shota (Jyo Kairi) encontram uma menina, Yuri (Miyu Sasaki), e decidem levá-la para casa, pois está aparentemente abandonada e seu corpo repleto de hematomas, Nobuyo (Sakura Andou), esposa de Osamu, não demora para se apegar a menina e mesmo com a situação precária a abrigam, os dias passam e sabem que precisarão fazer algo para não serem descobertos após verem a notícia do desaparecimento da criança, eles lhe dão outro nome, jogam sua roupa fora e cortam seu cabelo, ela começa a acompanhar Shota em seus furtos e a família se remodela novamente. Nobuyo nutre sentimentos maternos, enquanto a matriarca da casa Hatsue (Kirin Kiki) é a figura da avó, esta vive de uma pensão, fruto de um golpe, e segundo as autoridades não poderia viver com mais pessoas na casa. Além dela vivem ali, Osamu, Nobuyo, Shota, Aki (Mayu Matsuoka), que trabalha como stripper e cujo passado também é desconhecido e mais tarde vemos que faz parte de um golpe da qual a "avó" cometeu, e para completar a pequena Yuri/Rin. São personagens que estão à margem de uma sociedade altamente exigente e por isso são vistos como lixo, eles possuem atitudes moralmente questionáveis, mas o filme jamais os julga, acompanhamos o cotidiano e assim como a garotinha ficamos encantados com a ternura entre eles, seja nas refeições, nas preocupações e em seus passeios, essa abertura de emoções acaba nos colocando para refletir nas relações formadas a partir da rejeição do meio e da necessidade de afeto, a união acaba por ser mais forte demonstrando que laços são formados por amor e não por terem o mesmo sangue. A concepção de família é reinventada, a partir das afinidades entre fracassos e perdas se agarram uns aos outros tornando-se cúmplices e moldando seus próprios mundos. 

Em dado momento Shota começa a tomar consciência de seus furtos, quando o dono de um mercadinho lhe diz para não obrigar a garotinha a fazer o mesmo e ainda lhe dá um doce, esse gesto faz com que ele perceba outros lados e comece a indagar Osamu, principalmente quando este vai roubar uma bolsa dentro de um carro, Shota parece triste e não querer mais furtar e quando vê Rin tentar fazer o mesmo no mercado acaba por um incidente revelando os segredos da família. 
Esse grupo de pessoas apesar de cometerem atos ilegais em nenhum momento o filme pende para isso é certo ou errado, apenas demonstra lados, quando decidem ficar com a garota sabem que isso é sequestro, mas ao mesmo tempo a tiraram da violência e do desamparo, o mesmo aconteceu com Shota e Aki anteriormente, o afeto é algo muito presente e mesmo soando estranho algumas conversas tudo flui naturalmente, o contexto desse lar é rico em emoções e o que importa ao final é essa base que falta em muitos lares de famílias convencionais. Como exemplifica o belo diálogo entre Nobuyo e Hatsue, que normalmente não podemos escolher nossos próprios pais e, talvez, seja por isso, que os laços (o vínculo) sejam mais fortes quando os escolhemos.

"Assunto de Família" é uma história bonita que transmite sentimentos valiosos e pertinentes sobre a concepção de uma família, também retrata com desembaraço a marginalização em um país que tem fincada em sua cultura a exigência em ser perfeito, cada vez mais acompanhar esse sistema se torna desesperador e o número da pobreza se eleva, são inúmeras causas da miséria e os que estão nessa situação permanecem escondidos e considerados escória, as seis pessoas dessa história sem qualquer laço sanguíneo se unem pela falta de sorte, por traumas, perdas e perspectivas anuladas a fim de sobreviverem com dignidade entre eles mesmos e o primordial, resgatar e espalhar amor.