quarta-feira, 11 de maio de 2016

O Filho de Saul (Saul Fia)

"Você vai abandonar os vivos por causa dos mortos?"

"O Filho de Saul" (2015) dirigido pelo húngaro László Nemes é angustiante e claustrofóbico ao retratar o já tão explorado tema holocausto nazista. Pois bem, não é um filme que provoca empatia, o protagonista sempre filmado muito de perto se apega a algo dentro daquele inferno, e acaba não pensando em seus semelhantes que podem perder a vida justamente por causa de seus atos egoístas. 
A história segue Saul (Géza Röhrig), um húngaro membro do Sonderkommando, o grupo de prisioneiros judeus isolados do acampamento e forçados a ajudar os nazistas na máquina de extermínio em grande escala. Enquanto trabalhava em um dos crematórios, Saul descobre o cadáver de um menino que toma por seu filho. Ao mesmo tempo o Sonderkommando planeja uma rebelião, Saul decide realizar uma tarefa impossível: salvar o corpo da criança das chamas, encontrar um rabino para recitar o Kadish do enlutado e oferecer ao menino um enterro apropriado.
O que o filme propõe ao espectador é analisar a situação de Saul, sua obsessão em querer encontrar um rabino naquelas circunstâncias para enterrar um menino que tomou como seu filho é completamente irracional, ele se arrisca, coloca a vida dos outros em perigo, as vezes que ele sai andando em meio ao horror são inúmeras, a tensão cresce pelo que pode acontecer, mas ele não desiste desta busca, pois seria algo que daria algum alívio a sua dor e um meio de relembrar quem é.
"O Filho de Saul" se sobressai pela técnica, filmado em janela clássica (4:3), a câmera na mão com diversos planos-sequências e cortes sutis, além do close constante no protagonista, tudo isso contribui para nos sufocar e provocar enjoos. O áudio acaba tendo a grande função de nos introduzir ao horror, sabemos o que se passa naquele lugar, mas não vemos claramente. Acompanhamos apenas Saul, que realiza suas funções, que consiste em ajudar a tirar as roupas, esperar a matança, recolher os corpos e limpar, são ações automáticas, até que ele se depara com o garoto e inicia sua busca por um rabino, deixando seus afazeres de lado e não ajudando com o plano de rebelião de seus colegas. Saul sabe de seu destino, dia menos dia será ele a ser morto, portanto, sua loucura é consciente, uma maneira de se sentir vivo.
Géza Röhrig fez um excelente trabalho, um homem silencioso que aparentemente não é capaz de muito, mas que surpreende e faz com que arregalemos os olhos diante de sua ousadia, ele entra em lugares não permitidos, se infiltra em meio aos outros para procurar o tal do rabino, entra no consultório médico atrás da criança e é pego, e sempre com o mesmo semblante. Chega um momento que não aguentamos mais, temos raiva, mas conforme o desenrolar o sentido de humanidade aparece.

Outro ponto marcante do filme é a confusão, a maior parte do tempo não se sabe muito bem o que acontece, quem manda no quê e em quem, são diálogos soltos, falta compreensão entre eles mesmos, o que ajuda na irritação, mas que traduz perfeitamente o caos. 
"O Filho de Saul" é um é filme frio, duro e que causa bastante desconforto, mas interessante pela abordagem e pela maneira que chega a cada um de nós.

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