sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Mel / Um Doce Olhar (Bal)

"Mel" ou "Um Doce Olhar" é um filme turco que requer paciência, pois é totalmente contemplativo. É para se ver naqueles dias em que se acorda inspirado e não tem nada na mente incomodando, você apenas se acomoda e tem uma sensação diferente ao assisti-lo.
Um estilo de vida que não estamos acostumados a ver, um menino com dificuldades de aprendizado, as alternativas econômicas daquela região, o islamismo que é a religião daquele povo, torna o filme muito reflexivo e muito bonito, e raro com certeza.
Yusuf (Bora Altas) o personagem central, tem uma personalidade interessante, percebe as mudanças rápido, porém em sua simplicidade não consegue se expressar, a precariedade da educação escolar que recebe e a sua dificuldade em ler faz dele um menino retraído, o único conhecimento que tem é a vida a sua volta e os acontecimentos que o rodeiam.
A fotografia do filme é impressionante, de muita sensibilidade e técnica. A natureza exuberante com árvores que rasgam o céu, tudo é muito lindo, mas o silêncio nos inquieta e nos oferece períodos de reflexões, chegando a ser poético.
Tem que ter uma capacidade extra para poder compreender a dimensão da história que é simples, mas incômoda.
 Seu pai Yakup, um apicultor que cada vez vai mais longe para conseguir o mel, que é o sustento da família, acaba desaparecendo. Seu relacionamento com Yusuf é bem interessante, como na cena em que ele quer contar o sonho que teve, e seu pai o repreende dizendo que os nossos sonhos não podem ser revelados em voz alta, e pede que ele conte sussurrando em seu ouvido. É uma das cenas inesquecíveis.
Semih Kaplanoglu ganhou o Urso de Ouro em Berlim 2010, e disse que esse é um filme de linguagem espiritual, e acho que não caberia palavra melhor para qualificá-lo. Bal (Mel) é o último de uma trilogia autobiográfica, o primeiro Yumurta (Ovo) e o segundo Süt (Leite).

Para pessoas não habituadas ao ritmo lento de filmes assim, não é recomendado, pois ele vai dar apenas sono e maus comentários, ele é para pessoas capazes de ver através do tempo que ele nos toma, para se deliciar nas cenas em que Yusuf nos mostra com seus próprios olhos a vida nada fácil que leva.
Para finalizar lembro a cena em que Yusuf se abriga junto a um tronco de uma imensa árvore, é uma cena poderosa, que faz com que esse filme não seja esquecido.

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