quarta-feira, 3 de junho de 2015
O Fio de Ariane (Au Fil d'Ariane)
"O Fio de Ariane" (2014) dirigido por Robert Guédiguian (As Neves do Kilimanjaro - 2011) se assemelha a uma fábula, é delicioso acompanhar a protagonista rumo a seus desejos. Ariane (Ariane Ascaride) está mais solitária do que nunca em sua bela casa. É seu aniversário e as velas estão acesas. Mas os convidados ligaram e pediram desculpas... Ninguém pôde vir à festa. Assim, Ariane decide entrar em seu lindo carro e simplesmente fugir.
A partir do momento em que Ariane põe o pé na estrada as situações se desenrolam de maneira ilógicas, porém sem afetar o contexto. A caminho de Marselha, parada em uma ponte esperando a travessia d'um barco, encontra um rapaz que lhe dá carona até o pequeno restaurante chamado Café l'Olympique, onde conhece diversas pessoas, todas amáveis e de certo modo solitárias. Peculiares personagens aparecem ao longo da história, como o vendedor de souvenirs que trabalhou durante muito tempo como segurança do museu de história natural e chora todas as noites por estar longe de seus filhos. Seu arco dramático é um dos mais interessantes, pois ele deseja libertar os animais empalhados. Também há o solitário Denis (Gérard Meylan), dono do café, e Jacques (Jacques Boudet) que ama poesia e adora observar os clientes para ter inspiração. E sem esquecer da tartaruga que acaba se tornando a conselheira de Ariane.
O título remete ao mito grego "labirinto do minotauro", onde a filha de Minos, Ariadne caiu de amores por Teseu, descendente de Egeu, rei ateniense, e de Etra; o herói logo demonstrou nobreza e firmeza de ânimo. Ela demonstra seu interesse pelo rapaz quando ele se entrega por vontade própria ao Minotauro, ser meio homem, meio touro, que ocupava o labirinto edificado por Dédalos. Ele toma essa decisão ao saber que sua terra natal deveria entregar como tributo a Creta uma cota anual de sete moças e sete homens, os quais seriam oferecidos ao monstro, que era carnívoro. A estrutura labiríntica fora criada no Palácio de Cnossos, com vários caminhos enredados, de tal forma que ninguém seria capaz de deixar seu interior depois que houvesse nele entrado. Mas Ariadne, completamente apaixonada, oferece ao seu amado, que também parece amá-la, uma espada para ajudá-lo a lutar contra o monstro, e o famoso fio de Ariadne, que o guiaria de volta ao exterior. Um ponto a se acrescentar é que Marselha, a cidade escolhida como cenário é a mais antiga da França, fundada pelos gregos, onde essa aura de mito é ainda mais enaltecida.
Os personagens vão se relacionando e vemos um bom tanto de generosidade, uma amizade que se baseia na simplicidade. Ariane deseja ajudar as pessoas e principalmente se relacionar de verdade sem grandes empecilhos. São cenas super agradáveis e várias ficam na memória, em especial a que acontece entre ela e um motorista de táxi. O filme disserta sobre o deixar-se levar pelos sonhos, mas sem perder o elo com a realidade.
Destaque para a trilha sonora e a bela performance de Ariane Ascaride ao interpretar a canção "Comme On Fait Son Lit".
Com uma boa dose de fantasia e uma pitada de comédia, "O Fio de Ariane" se torna interessante, doce e quase ingênuo. Uma bela metáfora sobre o redescobrir-se.
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