quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Brothers (Brødre)
Susanne Bier é expert em elaborar filmes densos sobre relações familiares, mas sem jamais apelar para sentimentalismos, suas histórias captam a essência da realidade, onde poderia acontecer com qualquer um. São situações em que é necessário lidar com circunstâncias da vida. "Brodre" acerta em cheio ao retratar o drama pelo aspecto psicológico, o como a violência da guerra age sobre a pessoa que a vivenciou, e para aqueles que estão ao lado convivendo.
Michael (Ulrich Thomsen) é um militar dinamarquês exemplar, casado com Sarah (Connie Nielsen) e pai de duas filhas. Ele é enviado com sua tropa para uma missão da ONU no Afeganistão. Seu irmão Jannik ( Nicolaj Lie Kaas), ao contrário, é a ovelha negra da família, recém-saído da prisão e com um histórico de irresponsabilidades. Logo ao chegar na zona de conflito o helicóptero de Michael é abatido e ele é dado como morto. Jannik, surpreendentemente, passa então a confortar a família do irmão, o que faz com que sua relação com Sarah ganhe um novo sentido. Mas Michael não morreu e quando ele retorna as coisas estão diferentes.
O desenvolvimento dos personagens é rápido, mostra como os irmãos são diferentes entre si e o relacionamento deles com a família, logo Michael se despede e vai para a guerra, imediatamente o helicóptero em que está despenca e é dado como morto. A partir de então Jannik assume uma postura mais madura e conforta a família do irmão, essa relação vai se estreitando, o que inicialmente nos faz sentir raiva, pois a situação é óbvia, o irmão se aproveitando para chegar mais perto da mulher abalada, que por sinal é muito linda. Mas conforme o desenrolar observamos a diferença entre um filme comum que descambaria para esse lado, e pelo primor da direção de Susanne Bier que coloca os sentimentos que permeiam as relações em foco, onde nem tudo é simples.
Ulrich Thomsen já é bem conhecido do público, fez muitos filmes americanos, mas destaco sua atuação em "The Silence" - 2010, do qual faz um pedófilo, é simplesmente incrível. Em "Brodre" interpreta Michael, um pai de família carinhoso, cheio de qualidades, o irmão mais velho protetor, mas a guerra lhe fez retirar de si sentimentos horríveis, e as ações geradas vão o perseguir a ponto de mudá-lo completamente. Quando retorna já não é mais o mesmo Michael, está fechado, irritadiço e ainda por cima percebe uma grande mudança em sua casa. Suas filhas parecem não ficar tão felizes por seu retorno, o que o faz gritar e amedrontá-las. As cenas chegam de forma austera, e do nada Michael pergunta a Jannik se está transando com Sarah, daí em diante tudo se transforma em desconfiança e violência.
A câmera evidencia a todo momento os olhares, e quando a emoção é posta pra fora é dilacerante, muito real. O violino pontua o drama e este vem estérico, de uma vez, como um grito. O interessante que o filme não expõe se Sarah realmente tem um caso com Jannik, são sentimentos implícitos, como quando Jannik sobe a escada enquanto Sarah toma banho, e a seguir desce correndo. Há sentimentos complexos envolvidos, e é evidente que Jannik respeita Michael.
Há um remake americano chamado "Entre Irmãos" do diretor Jim Sheridan, não sei se conseguiu captar todas as nuances de "Brodre", mas não há dúvidas de que tenha largas diferenças.
É um drama intenso, envolvente, cru e realista, o maior mérito do filme está no foco da mudança drástica que acontece em Michael, e o como isso afetou sua família. Quando ele volta espera encontrar um refúgio para poder amenizar suas dores causadas pela guerra, e pelas ações que foi obrigado a cometer, mas sua família acreditou que estava morto, seguiu em frente, e por isso as circunstâncias se dão de forma tão difíceis.
Repleto de sutilezas o clima é tenso. O longa da ótima Susanne Bier é de uma grandeza emocional sem tamanho.
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