sexta-feira, 7 de setembro de 2012
O Cavalo de Turin (A Torinói Ló)
Béla Tarr é um cineasta húngaro cultuado por realizar verdadeiras obras-primas. Em "O Cavalo de Turin" não é diferente. Prepare-se, pois o filme é longo e todo em preto e branco, nos dando a sensação de agonia. No início o narrador nos apresenta a seguinte história: Em Turin, no dia 3 de janeiro de 1889, Friedrich Nietzsche saiu pela porta do número 6 da Vila Carlo Alberto para caminhar ou para buscar suas correspondências nos Correios. "Não muito longe, aliás, bastante longe dele, um cocheiro estava tendo problemas com o seu teimoso cavalo". Apesar de todos os esforços do cocheiro, o animal se recusava a mover-se. O dono do cavalo perdeu a paciência e começou a chicoteá-lo. Nietzsche teria surgido no meio da "multidão" e interrompe a sessão de tortura ao colocar os braços ao redor do pescoço do cavalo, para a ira do cocheiro. Levado por um vizinho para casa, ele teria ficado dois dias silencioso no sofá, até que teria dito: "Mãe, eu sou um idiota". Segundo o narrador, Nietzsche teria vivido mais 10 anos, calmo e louco, aos cuidados da mãe e das irmãs. Mas sobre o cavalo, não se soube mais nada.
A partir daí entra a ficção, vemos uma sequência angustiante do cavalo ultrapassando paredes de vento e ar sujo e seis dias torturantes e escassos da vida de pai e filha num lugar inóspito, onde o vento uiva de forma grosseira, como o prenúncio de algo ruim.
São cenas infindáveis, todas as manhãs a filha se levanta, se veste, vai ao poço buscar água, ajuda seu pai a se vestir, cozinha duas batatas e comem um sentado de frente pro outro. Depois eles alimentam o cavalo, limpam o estábulo e voltam para casa. Isso é repetido durante os dias que se seguem, porém a cada dia a câmera focaliza de maneira diferente, nos mostrando ângulos novos e cada vez mais interessantes. A escassez seja material ou vital como vemos no cavalo durante o filme é uma metáfora do fim da existência, da consciência ou da humanidade. Há um monólogo entre o pai e um homem que vai buscar bebida, ele menciona a condição humana e a destruição a partir do momento em que não se crê em nada. E o pai apenas diz: "Bobagem", a todo o discurso feito pelo homem.
A repetição se faz necessária neste filme para que entendamos o abismo que logo chegará. O fim está próximo, pai e filha tem batatas, água, roupas, mas até quando? O fim é inevitável e a escuridão logo virá.
O silêncio é cada vez mais incômodo, a solidão, o vazio é o que vai predominando. Nietzsche sempre expôs o cru da alma humana, verdades que são incontestáveis, uma de suas revoltas era o ato do humano dominar aquele que julga inferior. Mas ali homem e animal em estados parecidos é algo muito além de palavras. É o silêncio da verdade, do fim. De algo muito maior, por exemplo, a força que a natureza exerce sobre nós, somos seres fracos, medíocres e vivemos de uma maneira errônea, nos julgando superiores e capazes de tudo. Mas quando descobrimos que nada é de verdade, e que a vida não é feita de ilusões que criamos conforme passam os dias, paramos e vislumbramos apenas o abismo fundo e escuro, porém nítido, assim como no episódio em que Nietzsche abraçou o cavalo.
Essa obra de Béla Tarr é uma experiência sensorial enriquecedora, é um exercício de paciência para quem não está acostumado a esse tipo de cinema, mas ao terminá-lo é extremamente recompensador. Este é o mais alto degrau do dito cinema arte. Filme para poucos, para entendedores da essência humana juntamente com o amor à sétima arte.
O fim está lá, dito pelo homem que foi buscar a bebida, o vento incessante, o cavalo que se nega a andar e a comer, a passagem dos ciganos, mas só se dão conta mesmo quando a água falta e já não tem como comer suas batatas, quando resolvem fazer algo é tarde demais, o que resta é apenas o silêncio mortal. São planos impressionantes, os detalhes, as imagens dizem muito, o vento é uma personagem nessa história, tudo muito minucioso e bem feito.
"O Cavalo de Turin" é denso, intenso, emblemático e repleto de analogias, das quais nos fazem pensar tanto que muitas análises fogem da história.
Essa obra de Béla Tarr é uma experiência sensorial enriquecedora, é um exercício de paciência para quem não está acostumado a esse tipo de cinema, mas ao terminá-lo é extremamente recompensador. Este é o mais alto degrau do dito cinema arte. Filme para poucos, para entendedores da essência humana juntamente com o amor à sétima arte.
O fim está lá, dito pelo homem que foi buscar a bebida, o vento incessante, o cavalo que se nega a andar e a comer, a passagem dos ciganos, mas só se dão conta mesmo quando a água falta e já não tem como comer suas batatas, quando resolvem fazer algo é tarde demais, o que resta é apenas o silêncio mortal. São planos impressionantes, os detalhes, as imagens dizem muito, o vento é uma personagem nessa história, tudo muito minucioso e bem feito.
"O Cavalo de Turin" é denso, intenso, emblemático e repleto de analogias, das quais nos fazem pensar tanto que muitas análises fogem da história.
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