sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Fome (Hunger)

"Fome" (2008) é um filme completo saído das entranhas, não há outro adjetivo para classificá-lo senão visceral. A história explora a famosa greve de fome irlandesa de 1981. Prisioneiros do IRA, mantidos na prisão conhecida como Long Kesh, iniciaram seus protestos sujos no intuito de adquirirem status de presos políticos. Estes protestos se baseavam em não usar roupas, não se lavar e nem cortar cabelos e barbas, também consistia em esfregar as fezes nas paredes das celas. No ano de 1981 boa parte dos líderes encarcerados reivindicavam melhores condições para os presos oriundos do IRA, que eram vistos como terroristas impiedosos e assim tratados em condições sub-humanas. O filme mostra um lado mais humano da história e deixa a política um pouco de lado, focando nos pontos de vista e atitudes dos guardas, dos presos e dos familiares. Bobby Sands, um voluntário de bom grado e membro do parlamento britânico, liderou uma greve de fome, sendo sua morte um ponto icônico que influenciou um maciço recrutamento para a organização, e um aumento significativo de suas atividades.
No início acompanhamos um guarda e sua rotina mecânica, humanizar um homem daquela espécie é um tanto quanto difícil, logo um novo preso chega e se depara com um cubículo coberto de merda, comida podre, e é jogado apenas com uma toalha. Lá vê o amigo de cela, cujo rosto é quase impossível de definir, por conta do cabelo e a barba comprida. Repulsa e claustrofobia é o sentimento causado ao observar as cenas dentro daquele lugar imundo e desumano. Após a apresentação dos limites humanos no cárcere, temos a discussão em torno da moralidade do ato heroico e o repúdio ao suicídio. Em uma cena de 22 minutos, sem cortes, o personagem Bobby Sands tem uma conversa franca com um padre católico irlandês, expondo e debatendo o valor do que estava sendo realizado ali. Ao mesmo tempo, o religioso cumpre sua função de tentar valorizar a vida humana acima de tudo, o fazendo pensar em seu filho e na importância do futuro. As palavras vão andando entre a política, a religião e a condição ética humana. Bobby queria ser um herói, um mártir, e não apenas isso, ele acreditava em sua mensagem, pois era fruto desse meio e não tinha ideia de como não ser assim. E aí vem o final, a definhação de Bobby, uma entrega de Michael Fassbender importante e merecedora de respeito. Seu corpo é exibido em pele e osso, feridas, sangue, vômitos, convulsões. São imagens cruas e silenciosas. Em busca de uma liberdade, talvez utópica, inocente, mas que era preciso ser feita, uma necessidade que estava dentro dele e que vemos sendo transpassada através de seu corpo.

A ideia que os líderes do IRA queriam trazer para a população era elucidar uma espécie de comoção nacional ou mesmo mundial que voltasse os olhos para os fatos daquela Irlanda segregada. 
Um homem com uma ideologia inabalável que se entrega de maneira absurda por uma causa que acredita, é admirável sua perseverança. As cenas finais se aproximam de um lirismo, quando Bobby debilitado se funde em uma imagem com pássaros voando. É violento, triste, utópico, chocante, porém deslumbrante, um grande roteiro em cima de um tema polêmico, e claro, a entrega dos atores chega a ser desesperadora.

Dirigido por Steve McQueen, a história foi baseada em fatos reais e a voz que se ouve várias vezes no filme é de Margaret Tatcher.

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