sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A Outra Terra (Another Earth)

"A Outra Terra" (2011) embora seja um filme de ficção-científica, apresenta apenas alguns conceitos sobre o tema, na verdade, funciona mais como um drama filosófico, tudo não passa de uma bela metáfora.
A jovem Rhoda, recém-saída da escola, acaba de ser aprovada para o programa de astrofísica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. John é um compositor cuja carreira está em plena ascensão. Na mesma noite em que o mundo testemunha a descoberta de um segundo planeta Terra no universo, os destinos dos dois se cruzam em um trágico acidente, onde Rhoda mata a mulher e o filho de John. Anos depois, sem que ele saiba quem é Rhoda, eles voltam a se encontrar e dão início a um romance. Mas a relação será assombrada pelos fantasmas do acidente.
No começo somos apresentados ao acidente que conduz a trama, ele é causado porque a protagonista fica vários minutos observando a suposta réplica da Terra (no momento ainda um minúsculo pontinho no céu), sem perceber que estava perdendo a direção. Algumas cenas mostram Rhoda presa, sempre distante e melancólica. Após ser liberta, ela vai em busca de um emprego, e logo a vemos trabalhando como servente nos corredores de um colégio. A limpeza, a faxina é a atividade que ocupa as mãos de Rhoda como metáfora, só que não adianta querer limpar, tirar uma mancha difícil, ou fazer desaparecer a pichação, pois tudo precisará ser refeito, sempre. Afinal, os erros do passado não se apagam com um simples pedido de desculpas, algo que Rhoda não consegue fazer quando fica frente a frente com o homem que sofreu a tragédia.
A maior força do filme se encontra nos momentos dramáticos, quando os personagens principais estão juntos. Sentimos as suas dores e passamos a torcer para que de alguma forma eles encontrem paz. Rhoda (Brit Marling) transpira arrependimento e sua apatia diante a vida só tende a crescer, enquanto John (William Mapother) ao descobrir que perdeu a mulher e o filho, se entrega ao completo sofrimento, evidenciado pela sua casa grosseiramente desarrumada.
A presença da outra Terra apresenta alguns conceitos interessantes, os roteiristas fogem ao máximo de explicações racionais para o fenômeno, ignorando qualquer reação física que deveria acontecer entre corpos tão grandes e tão próximos, deixando bem claro o propósito mais espiritual e reflexivo do acontecimento.

"Nas nossas vidas, temos nos maravilhado. Os biólogos têm investigado coisas cada vez menores. E os astrônomos, coisas cada vez mais distantes. Nas sombras do céu noturno, voltando no tempo e no espaço. Mas talvez, o mais misterioso de tudo não é o menor nem o grande. Somos nós, bem aqui. Poderíamos nos reconhecer? E se reconhecêssemos, conheceríamos a nós mesmos? O que diríamos? O que aprenderíamos com nós? O que realmente gostaríamos de ver se pudéssemos ficar diante de nós e olhar para nós mesmos?"

Desta forma, o filme abre espaço para questionamentos e dúvidas muito interessantes à respeito da existência e do funcionamento da "Terra 2", que aos poucos vamos preenchendo com nossas próprias teorias e esperanças. Alguns questionamentos são levantados, por exemplo, e se você tivesse a oportunidade de falar com outro você, o que diria a si mesmo? Como se livrar da culpa de ter destruído a vida de uma pessoa?.
O clima do filme é todo em cima de uma forma de esperança, de descoberta e de recomeço. Rhoda tem a oportunidade de ir para "Terra 2", mas será que ela de fato precisa ir para recomeçar a viver? A outra Terra não passa de um espelho da Terra original. Talvez os seus arrependimentos, toda a sua vida poderia ser resolvida ali naquele planeta, mas aí surge uma teoria, e a decisão que ela toma faz John ter esperanças de encontrar a sua família novamente, só que o final aberto não nos traz conclusões, e sim uma reflexão de que temos que enfrentar a nós mesmos antes de qualquer coisa.

O diretor Mike Cahill explora a depressão de ambos os personagens através de analogias com a outra Terra, e ainda faz questão de uma narração em off que se relaciona perfeitamente com os sentimentos da protagonista.
"A Outra Terra" é um filme belo e interessante, cuja proposta é curiosa garantindo boas reflexões.

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