segunda-feira, 21 de maio de 2012
Oscar e a Senhora Rosa (Oscar et la Dame Rose)
"Oscar e a Senhora Rosa" (2009) mostra-nos a amizade total de uma criança com leucemia e uma mulher da qual vira voluntária por acaso na área da pediatria do hospital, e que todos os dias o visita. Entre os dois estabelece-se um jogo: "Cada dia equivale a dez anos". Deste modo o menino passa a ter a sensação de que avança no tempo e de que aproveita a vida nas suas diferentes idades. Ele morre com mais de cem anos, ou seja, daí a alguns dias, com uma vida plena de emoções e alegrias. Nessa longa vida que o menino passa a ter, ele reinventa o mundo sob a incrível cor da fantasia, desafiando a morte com olhar divertido sobre o universo dos adultos e das outras crianças doentes que o rodeiam no hospital. Desta vida maravilhosa ficou o testemunho através de cartas que o menino escrevia todos os dias a Deus. O seu personagem não irá deixar ninguém indiferente.
O filme é uma adaptação do livro de Éric-Emmanuel Schmitt, "Oscar e a Senhora Rosa" faz parte da "Trilogia do Invisível", que diz sobre os fundamentos de três grandes religiões. "Milarepa" é dedicado ao Budismo. "Seu Ibrahim e as Flores do Corão", ao Islamismo, e "Oscar e a Senhora Rosa", ao Cristianismo.
Com muita sensibilidade esta obra nos mostra a pequena grande vida de Oscar, que em apenas doze dias de vida, no tempo que lhe resta, conhece uma mulher que mudará sua forma de pensar e lhe proporcionará uma paz interior, que lhe fará viver intensamente, mesmo numa cama de hospital. Ele vivencia tudo o que é capaz, experimenta sentimentos jamais sentidos e desperta, principalmente a vida na mulher, que também tem seus problemas, e assim, acaba amolecendo seu coração.
A figura da mulher é retratada de forma caricata, ela é uma pessoa repleta de problemas e descompromissada com a vida, egoísta e seu único pensamento é em torno de ganhar dinheiro com as pizzas que vende, não demonstra carinho por ninguém, mas o acaso fez seu trabalho e ela acabou encontrando aquele rapazinho que não falava com ninguém, nervoso por causa dos pais serem covardes e não conseguirem enfrentar a doença dele. Oscar por conta própria descobre que irá morrer em breve e fica com muita raiva de seus pais terem escondido isso dele. Os diálogos são poderosos, nos ensinam, nos chacoalham por dentro. Em certo momento a Senhora Rosa diz: "Você não deve guardar rancor de seus pais, eles são frágeis e te amam, têm medo de perdê-lo, por isso não sabem como lidar, e acima de tudo, você não quer morrer com raiva deles, todos nós morreremos, e seus pais também". Essa conversa mudou a conduta dele para com os pais. Um outro diálogo que fica gravado é esse: "Porque Deus permite que pessoas como eu, fiquemos doentes? Talvez ele seja mau". A Senhora Rosa responde: "Oscar, ficar doente, morrer, não é um castigo que Deus lhe impõe, e sim um fato da vida."
É impressionante como palavras têm o poder de mudar sentimentos; é uma bela história contada de maneira sublime, Oscar nos ensina com seu olhar, com seu sorriso, e suas palavras ficarão marcadas e guardadas dentro do coração para sempre. As cartas que Oscar escreve a Deus, suponho serem os melhores trechos do filme, mas não pense que este longa é uma lição de moral para que pensemos que há problemas maiores, como a doença do menino, mas sim, um lembrete para que saiamos de nossa zona de conforto, e para que olhemos a nossa vida como algo maravilhoso. Na maioria do tempo apenas existimos, não percebemos o quão a vida pode ser boa, a natureza, os nossos dias, as pessoas que estão sempre ao nosso lado, dando apoio, apesar de tudo. As pessoas se importam com coisas supérfluas durante a vida e não se lembram de que um dia irão morrer.
Esse filme é daquele tipo que quando acabamos de vê-lo, agradecemos por termos conhecido personagens, que mesmo sendo um tanto quanto caricatos, chegam próximos da realidade.
O mais importante na vida é a própria vida. Olhar cada dia o mundo como se fosse a primeira vez, esse é o segredo. O tempo é precioso e temos que lidar com ele de maneira sábia. Essa história nos permite um encontro com Deus, mas não o Deus das religiões e sim, aquele que acreditamos lá no fundo do nosso ser, aquele à quem perguntamos as coisas nas horas difíceis e incertas. Deus está nas pequenas coisas, ele pode estar em um momento de reflexão, numa conversa com alguém, e naqueles momentos em que descobrimos que a vida pode ser muito mais do que nos é mostrada diariamente.
"Tentei explicar aos meus pais que a vida é um presente estranho. No início, superestimamos esse presente: imaginamos ter ganhado a vida eterna. Depois subestimamos, achamos uma porcaria, curta demais, até seríamos capazes de jogá-la fora. Enfim nos damos conta de que não era um presente, mas sim um empréstimo. Então procuramos merecê-lo."
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