terça-feira, 7 de fevereiro de 2023
Close
"Close" (2022) dirigido por Lukas Dhont (Girl - 2018) é um filme muito sensível, um golpe que nos pega desprevenidos, um retrato das complexidades do amadurecimento, das descobertas da adolescência, o machismo entranhado nas relações, o preconceito e, sobretudo, o luto.
Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav de Waele) são amigos inseparáveis, vivem livres correndo pelas plantações da região, um amor protegido das garras infecciosas da sociedade, a inocência e o despertar soa sutil, bonito e o ambiente familiar ajuda nessa despreocupação com pensamentos conservadores. É algo natural acontecendo. Mas tudo muda quando começam a frequentar uma nova escola e à medida que questionamentos maliciosos e preconceituosos surgem, como a rotulação desse amor, os dois vão se distanciando, principalmente Léo que tem a necessidade de se inserir num grupo, Remi é mais introspectivo e se fecha quando essa distância de seu parceiro de vida se dá. Os quadros do filme que antes aproximavam e focavam neles juntos, agora se tornam escassos e melancólicos, os olhares contam muito sobre as emoções que os transcorrem, aliás essa proximidade nos afeta, somos parte dessa potente história de amizade/amor que se transforma em peso, desilusão, e então o golpe trágico; haja coragem e delicadeza para suportar.
O diretor compôs com muita acuidade e transborda pela tela as emoções, os traumas vividos na adolescência carrega-se para o resto da vida, amadurecer já é complicado e somando tragédias que levam a sentimentos como culpa não tem como mensurar a dor, além das particularidades que cada um tem para encarar tudo isso. Léo vai digerindo aos poucos os acontecimentos, o que vemos são fragmentos, ele se fecha, sente culpa, raiva, tristeza, vazio, seus olhares vão nos conduzindo.
"Close" tem cenas belíssimas e tristes, enchem os olhos e sentimos nosso coração se despedaçar, a narrativa contorna com amor a intimidade desses meninos; toda a estupidez de rotular e querer simplificar a relação de duas crianças que não freiam impulsos afetivos por normas e preconceitos vêm sempre com o olhar de fora e Léo sente o peso dessa imposição, afinal os "colegas" querem saber qual é a deles. Isso acarreta num mal-estar e a ruptura brusca machuca Rémi que já traz traços de uma melancolia. Um ponto a se destacar do filme é a seriedade com que se trata as emoções, o que na realidade parece que os adultos não fazem muita questão de enxergar, como a tristeza na infância/adolescência, traços de personalidade que se acentuam, desejos, etc.
Lindo, intenso, dolorido, sutil, sua linha narrativa engrandece e aponta para reflexões necessárias acerca do amadurecimento, o machismo encravado nas relações, o peso de carregar emoções que a sociedade incute através do medo. Léo vai se embrutecendo, enquanto Rémi se alia aos excluídos, o afastamento nevrálgico leva subitamente Léo a encontrar sentimentos pesados como culpa, vergonha, raiva e saudade. Um drama potente que é elevado pela complexidade das atuações, fascina pela inocência, mas logo tudo se quebra pela perda desta. Observamos com dor o desespero contido nos olhos de Léo. Grandioso!
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