quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
Califórnia
"Califórnia" (2015) dirigido por Marina Person é um filme delicado que retrata a difícil, porém maravilhosa fase da adolescência. Sob a perspectiva feminina observamos todas as descobertas vivenciadas pela protagonista, seja o doce e o amargo da paixão, os frescos sonhos, as dúvidas, as amizades, e a formação de identidade.
O ano é 1984. Estela (Clara Gallo) vive a conturbada passagem pela adolescência. O sexo, os amores, as amizades; tudo parece muito complicado. Seu tio Carlos (Caio Blat) é seu maior herói, e a viagem à Califórnia para visitá-lo, seu grande sonho. Mas tudo desaba quando ele volta magro, fraco e doente. Entre crises e descobertas, Estela irá encarar uma realidade que mudará, definitivamente, sua forma de ver o mundo.
Estela ou Teca acaba de entrar para o universo das descobertas adolescentes, suas referências musicais vêm do rock, graças a seu tio Carlos que mora na ensolarada Califórnia e lhe apresenta sempre as novidades musicais, eles trocam cartas e gravam fitas cassetes trocando ideias, existe um carinho imenso entre Estela e o tio. Seu maior sonho é ir visitá-lo e para isso abriu mão de sua festa de 15 anos para ter essa viagem. Teca conta os dias para essa aventura, fala para suas amigas sobre e enquanto isso vive suas descobertas, se apaixona pelo menino popular da escola, se desilude e encontra em JM (Caio Horowicz), considerado estranho por todos uma relação repleta de afinidades. Um dia, Estela é pega de surpresa com a volta do tio que está debilitado, ela acaba frustrada, mas compreende e fica ao lado dele.
O roteiro tem leveza e a aura magnética dos anos 80 é perfeita, realmente ativa a nostalgia e imergimos nesta história tão doce e ao mesmo tempo densa, depois que o tio de Teca retorna doente, as nuances da personagem se tornam mais pesadas, ela vai crescendo interiormente, esse período foi marcado pela chegada da Aids e pelo preconceito, já que não se sabia muito sobre a doença e também ao relacioná-la com a homossexualidade. Dentro desta questão o personagem JM nunca deixa claro a sua sexualidade, tem um diálogo muito bom entre os dois que ele diz que isso não importa, rotular para quê afinal.
"Califórnia" é uma jornada de autoconhecimento muito bonita e que causa empatia, a paixão pela música, o rock especificamente, não é somente um hobby, mas uma grande aliada à sua formação, e Marina Person nos presenteia com uma trilha sonora espetacular, David Bowie, New Order, Joy Division, The Smiths e com imensa importância na trama The Cure, a canção "Killing an Arab", especialmente, que marca a amizade/romance de Estela e JM - que se caracteriza como seu ídolo Robert Smith, aliás, o livro de Camus, "O Estrangeiro", da qual a música foi inspirada é dado por JM a Estela. As bandas nacionais também compõem esse belo cenário, Blitz, Kid Abelha, Titãs, Os Paralamas do Sucesso, e Metrô com a inesquecível música "Beat Acelerado".
Além da trilha sonora que é um deleite, a ambientação de época é um lindo trabalho, simples e eficaz nos transporta aos anos 80. É um drama sensível que faz um retrato das vivências de uma adolescente com todos seus percalços e descobertas. Cativa pela sinceridade e sutilezas, as atuações são ótimas, Clara Gallo e Caio Horowicz em sintonia total. É um filme que surpreende pela leveza, a aura nostálgica e a importância aos conflitos adolescentes, como o personagem de Caio Blat diz à sobrinha em determinado momento: "Nossos problemas parecem maiores, pois são nossos".
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
SE FOR COMENTAR, LEIA ANTES!
NÃO ACEITO APENAS DIVULGAÇÃO.