quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Nossa Irmã Mais Nova (Umimachi Diary)

"Nossa Irmã Mais Nova" (2015) dirigido por Hirokazu Koreeda (Boneca Inflável - 2009, Pais e Filhos - 2013) é um filme delicado que coloca em ênfase o cotidiano e a valorização da vida através de acontecimentos tristes. A família é tema recorrente na filmografia do diretor, inspirado em um mangá de Akimi Yoshida, conta sobre três irmãs - Sachi (Haruka Ayase), Yoshino (Masami Nagasawa) e Chika (Kaho) - que vivem juntas em uma casa grande na cidade de Kamakura. Quando seu pai - ausente da casa da família nos últimos 15 anos - morre, elas viajam para o interior para seu funeral, e conhecem Suzu (Suzu Hirose), sua tímida meia-irmã adolescente. Após criar laços rapidamente com a órfã, elas convidam-na para viver em Kamakura. Suzu ansiosamente concorda e uma nova vida de alegres descobertas começa para as quatro irmãs.
É de um episódio melancólico que nasce uma bela amizade, Suzu é uma adolescente madura e que tem carinho pelo pai que acabara de falecer, já as outras o tem como uma figura distante, apenas a mais velha tem recordações do pai. A mãe das meninas há tempos foi embora e os dois lados guardam mágoas e também orgulho para se visitarem. Sachi, Yoshino e Chika são super diferentes entre si, mas se amam e se protegem, moram juntas e se viram como podem na grande velha casa que a família deixou. Com a morte do pai, surge uma aproximação significativa com Suzu, ao convidá-la para morar com elas em Kamakura, Suzu aceita. Daí pra frente os silêncios predominam grande parte da trama, principalmente a respeito dos sentimentos, os diálogos giram em torno do dia a dia, às vezes uma conversa sobre o passado vem à tona e observamos como cada uma lida com os acontecimentos.
Sachi é a mais velha e responsável, tem um comportamento sério, ela é enfermeira e mantém um caso com um médico casado, Yoshino é engraçada e despojada, mas a sua inconstância em empregos e com namorados revela uma faceta triste, ela está sempre tomando cerveja ou umeshu. Chika é excêntrica, risonha, mas silenciosa. A relação entre elas é agradável, apesar das brigas corriqueiras nunca deixam que nada as afete. Suzu chega na casa com curiosidade e esse ambiente novo lhe proporciona um outro olhar, já que suas irmãs têm uma visão diferente do pai. Ela vai à escola, participa dos treinos de futebol e experimenta novas sensações. As conversas são interessantes por mostrar vários ângulos da história, com Sachi é como se fosse uma mãe falando, com Yoshino são conselhos de amiga e com Chika é uma troca, Suzu conta as suas lembranças e a outra imagina que poderia ter sido com ela.

Um ponto da trama a se destacar é a visita da mãe, ela quer conhecer Suzu e ver como tudo está, dar seus palpites, entre tantas desavenças o que predomina no fim é a angústia da distância que há entre elas, Sachi tenta reverter um pouco, uma tentativa para que dali pra frente seja diferente. O diálogo que acontece no cemitério resume a relação entre elas, ao visitar o túmulo da avó de Sachi, a mãe diz: "Por todo esse tempo que não a visitei, minhas desculpas. E por não ser uma boa filha". Sachi a olha espantada, pois reflete perfeitamente na relação delas.
É com encanto que tudo se desenvolve e com espontaneidade e sinceridade que as coisas se transformam, não há grandes eventos ou reviravoltas, é o cotidiano simples que Hirokazu Koreeda tanto preza que se desnovela, é a delícia de viver os momentos mais comuns, e também passar pelas tristezas e sofrimentos com coragem e amabilidade.

"Nossa Irmã Mais Nova" mesmo tendo algo de melancólico, principalmente ao que concerne a dificuldade dos laços familiares, é quase sempre alegre. As emoções são muitas, são contidas, reprimidas, não existe muito contato físico e demonstrações de afeto, a cultura japonesa tem essa característica, mas os olhares e as palavras ditas são suficientes para entender. Para completar a trilha sonora composta por Yoko Kanno complementa com a aura serena e tocante. O longa é deveras uma poesia visual que inebria a cada cena.

Um comentário:

  1. Você indicou este filme quando eu escrevi sobre o ótimo "Pais e Filhos".

    Ainda não tive chance de assistir, mas está na lista.

    Abraço

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