terça-feira, 22 de novembro de 2016
A Hora e a Vez de Augusto Matraga
"Sapo não pula por boniteza,
Mas porém por precisão." (provérbio capiau)
"A Hora e a Vez de Augusto Matraga" (2011) dirigido por Vinícius Coimbra (A Floresta Que se Move - 2015) é baseado no conto homônimo do livro "Sagarana", do escritor Guimarães Rosa, o filme narra a história de Augusto Matraga (João Miguel), fazendeiro mineiro valente e mulherengo, à beira da falência, que ao buscar vingança por sua mulher tê-lo trocado por Ovídio Moura (Werner Schunemann), quase morre após cair em uma emboscada armada pelos capangas do Major Consilva (Chico Anysio). "Renascido", depois de ter sido cuidado por um casal, Matraga dedica o resto da sua vida à sua fé e ao trabalho, esperando "sua hora e sua vez" chegar, até fazer amizade com o rei do sertão, Joãozinho Bem-Bem (José Wilker), e seu bando de jagunços.
A história já foi adaptada em 1965, dirigida por Roberto Santos, tanto essa primeira versão como a segunda são obras maravilhosas que evidenciam o povo sertanejo, a vivência rural, as lutas entre fazendeiros, a violência e o misticismo. Conhecido como Nhô Augusto e também como Augusto Matraga, João Miguel encarna perfeitamente um sujeito rude que é capaz de qualquer coisa, executa maldades por pura crueldade e não se importa com a sua fazenda que está arruinada e tão pouco com a mulher e a filha, haja vista a decadência do marido, dona Dionóra (Vanessa Gerbelli) decide ir embora com Ovídio Moura levando a filha Mimita, enquanto isso seus capangas colocam-se a serviço de seu inimigo Major Consilva Quim Recadeiro (Chico Anysio), restando o frouxo, mas fiel Quim (Irandhir Santos). Nhô Augusto sabendo disso resolve se vingar matando todos, no caminho é pego em uma emboscada pelos capangas do Major que o esfolam, mas no momento em que iam matá-lo se joga de um penhasco. Dado por morto, Quim inconsolável vai até a fazenda do Major buscar vingança, mas o coitado termina sendo morto. Contudo, Nhô Augusto é encontrado por um casal de negros velhos, a mãe Quitéria e o pai Serapião, que cuidam com paciência deste homem que aos poucos se recupera, mas agora ele é outro homem, aparentemente. Religioso, se submete ao trabalho duro, a penitências e a rezas, espera ser perdoado pelas suas crueldades e deseja ir para o céu encontrar com Deus. Nhô Augusto tem notícias de sua família, mas prefere ficar aonde está. Um dia, Nhô Augusto oferece estadia a Joãozinho Bem-Bem, jagunço de larga fama, acompanhado de seus capangas, faz tudo o que pode para agradá-los e vendo a destreza de Matraga, Joãozinho o convida para acompanhá-lo, mas ele recusa e prefere continuar só.
Recuperado, Augusto põe-se a viajar sem destino num jumento, ele sente que chegou a sua vez quando reencontra Joãozinho Bem-Bem e seu bando prestes a executar uma vingança contra um assassino que fugira. Neste momento ele opõe-se e começa a matar os capangas de Joãozinho, e no fim entra em um peculiar duelo.
"Sorte nunca é de um só, é de dois, é de todos…Sorte nasce cada manhã, e já está velha ao meio-dia…"
"A Hora e a Vez de Augusto Matraga" é um filme feito com minuciosidade, apuro e vigor, a estética é linda e captura nosso olhar a cada frame, a trilha sonora remete ao faroeste e complementa perfeitamente o clima da história. As magníficas interpretações de João Miguel e Irandhir Santos, este que o pouco que aparece se sobressaí, especialmente é de reverenciar, João se entrega e suas expressões nos conduzem a dualidade de sua alma, a transformação da qual passa é brusca, de um homem mal para religioso e passivo, ele é ambíguo, complexo. Brilha também José Wilker e Chico Anysio, ambos falecidos, foi o último trabalho deles no cinema. O filme ganhou diversos prêmios, mas teve alguns problemas burocráticos na distribuição e com alguns anos de atraso a produção chegou ao circuito comercial, mas sem grande visibilidade, infelizmente.
Fiel à prosa de Guimarães Rosa, é um deleite a sonoridade dos jogos com as palavras, o lúdico e mítico, os maneirismos expostos encantam e reverenciam a obra.
"A Hora e a Vez de Augusto Matraga" é irretocável, um belíssimo exemplar nacional que merecia ser exaltado pelo capricho que foi concebido.
"E tudo foi bem assim, porque tinha de ser, já que assim foi."
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Ainda não assisti este longa e nem mesmo a versão dos anos sessenta.
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