terça-feira, 11 de outubro de 2016
O Vulcão Ixcanul (Ixcanul)
"O Vulcão Ixcanul" (2015) é mais uma pérola do cinema latino-americano, o longa de estreia do diretor guatemalteco Jayro Bustamante, além de ser belo esteticamente carrega diversas críticas sociais, como a americanização dos indígenas, a exploração no trabalho, o tráfico de bebês e a pobreza nas zonas rurais. A filmagem em luz natural e a fotografia em tons escuros promove um estilo de filme seco e denso, utilizando atores não profissionais prima pela autenticidade, respeitando a cultura, as crenças, costumes e a língua local, o Kaqchikel. A naturalidade exposta é o grande feito do filme, retrata a pobreza e a ignorância sem provocar piedade.
Maria (Maria Marcedes), uma jovem de 17 anos, vive nas encostas de um vulcão ativo na Guatemala e tem um casamento arranjado esperando por ela. Embora sonhe em conhecer a cidade, seu status de mulher indígena não permite que ela vá a esse 'mundo moderno'. Mais tarde, Maria engravida e uma complicação faz com que a garota seja salva justamente por esse mundo moderno. Mas a que preço?
Maria como qualquer outro jovem sente curiosidade em descobrir o mundo além daquele que a rodeia, ela é uma moça que está na fase das descobertas, mas por viver num ambiente cheio de tradições e superstições fica presa a esta condição. A bela cena inicial mostra ela sendo preparada para o casamento que, na verdade, só interessa para a família, pois Maria é apaixonada por um garoto da aldeia que sonha em ir para os Estados Unidos, o casamento arranjado seria uma forma da família se estabelecer, já que o emprego na plantação de café é temporário, o dono é viúvo e tem alguns filhos e espera ansiosamente para ela se tornar sua mulher. Acontece que Maria se entrega para o garoto e engravida, após alguns meses a mãe (Maria Telón) descobre e a situação no local se complica. Maria sonhava em fugir com Pepe, mas ele foi e a deixou para trás. A mãe assume o problema e entre alguns rituais decide que o bebê deve nascer, mesmo arriscando perder a moradia e o emprego. Claro, o futuro marido não gosta nada disso e expulsa-os.
O vulcão tem grande influência na vida dessas pessoas, tudo depende dele, inclusive ele é como um Deus para esse povo, sempre que há uma dúvida é para lá que vão e depositam uma oferenda. Em meio a esse ambiente hostil vivem na mais completa pobreza e ignorância, quando cobras ameaçam a plantação, Maria decide fazer um ritual, pois está grávida e isso a torna especial, mas ela acaba sendo picada e nesse momento a única solução é levá-la ao hospital. Quando chegam na cidade são ludibriados, não conseguem se comunicar em espanhol e o intérprete, o dono do cafezal, fica incumbido de traduzir, mas seus interesses pessoais tomam a dianteira e daí Maria termina assinando um papel que dizem ser uma coisa, quando na verdade é outra. O desenrolar disso é assustador.
Ao focar neste pequeno povoado indígena isolado percebemos o quão importante é respeitar crenças e tradições milenares, mas ao invés disso eles são explorados e enganados. A globalização que tentam impor os ilude de que outro lugar os ofereça uma vida onde se tem tudo facilmente.
"O Vulcão Ixcanul" é um belíssimo e estonteante filme que traz a possibilidade de conhecermos um povo que cultiva rituais ancestrais, e como a juventude se porta diante da inadequação que surge pelas possibilidades de descobertas mundo afora. A crítica em relação a posição da mulher nesta sociedade é outra coisa que chama a atenção, tanto Maria e a mãe são personagens fortes que a seus modos sobrevivem a este meio machista que as vê somente como procriadoras e donas de casa. Mas através de algumas ironias percebe-se que elas é que comandam. Não é à toa que suas figuras se sobressaem.
A ignorância que advém dos personagens é demonstrada não os colocando como uns pobres coitados, ao contrário, eles são donos de si e calejados pelos infortúnios, o que impressiona é o como as pessoas se aproveitam dessa ignorância para oprimir, manipular e segregar. O choque entre tradição e modernidade é enorme.
O filme exibe cenas grandiosas, uma das mais bonitas é o banho de Maria junto da mãe, os personagens encantam, mas apesar disso a história é contada com alguma distância, as tomadas que exploram a beleza natural do local são deslumbrantes. "O Vulcão Ixcanul" é um filme curioso cheio de particularidades, cujo diretor faz questão de expor as raízes do país.
O filme exibe cenas grandiosas, uma das mais bonitas é o banho de Maria junto da mãe, os personagens encantam, mas apesar disso a história é contada com alguma distância, as tomadas que exploram a beleza natural do local são deslumbrantes. "O Vulcão Ixcanul" é um filme curioso cheio de particularidades, cujo diretor faz questão de expor as raízes do país.
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Mais um filme que não conhecia.
ResponderExcluirUma obra bem diferente.
Abraço
Esta crítica é perfeita. Assisti hoje (5/2/2017) pela NET. O filme é belíssimo! Não sabia da existência nem do autor! Estou ENCANTADA! Mayra
ResponderExcluirObrigada Mayra! fico feliz por ter compartilhado aqui seu encantamento, esse filme realmente tem uma beleza rara. Que mais pessoas tenham acesso e assistam. Abraços!!
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