segunda-feira, 24 de junho de 2013
Depois de Lúcia (Después de Lucía)
"Depois de Lúcia" (2012) dirigido por Michel Franco gira em torno da personagem Alejandra, uma menina que sofre bullying, mas o filme é bem mais do que esse tema já tão gasto. Ele é pura angústia. Quando a esposa de Roberto (Gonzalo Vega Jr.) morre, a relação dele com sua filha Alejandra (Tessa Ia), de 15 anos, fica abalada. Para escapar da tristeza que toma conta da rotina dos dois, pai e filha deixam a cidade de Vallarda e rumam para a Cidade do México em busca de uma vida nova. Alejandra ingressa em um novo colégio, e sentirá toda a dificuldade de começar novamente quando passa a sofrer abusos físicos e emocionais. Envergonhada, a menina não conta nada para o pai, e à medida que a violência toma conta da vida dos dois, eles se afastam cada vez mais.
O início segue lento e o passado de pai e filha não é tão explorado, mas ao sabermos da perda da mãe de Alejandra tudo vai se encaixando, tanto o pai como a filha não demonstram dor, ele a reprime, e ela a disfarça. Alejandra vai se soltando conforme vai se relacionando com os colegas da escola, até que um dia em uma festa regada a álcool, bêbada transa com um dos amigos, e este filma tudo. O vídeo vai parar na internet e então ela começa a sofrer com as chacotas dos amigos, envergonhada segue sem contar nada ao pai e aguenta firme a violência diária.
Não podemos julgar Alejandra por não reagir, ela está em fase de luto e carrega uma dor imensurável que é só dela. Sua dor se junta com outras dores e diversos sentimentos, como culpa e vergonha, e sua submissão perante aqueles jovens mimados é totalmente compreensível. Alejandra é torturada pelos amigos, são cenas que revoltam, que nos fazem pensar que tipo de educação esses jovens estão tendo. É pura maldade em humilhar o outro, e as "brincadeiras" se tornam cada vez mais violentas e abusivas.
A viagem da escola é o ponto crucial do filme, os garotos abusam dela, mijam em sua cara, a prendem no banheiro enquanto se divertem, e ainda as meninas cortam o cabelo dela. Em dado momento ela vai para o mar e desparece, os jovens ficam lá chamando-a, mas ninguém diz nada aos professores, esperam amanhecer para sentirem a falta dela. Na verdade, ela aparece quando todos saem da praia e foge para sua cidade natal sem avisar ninguém, nem ao pai, que acaba descobrindo sobre o vídeo e o bullying que ela estava sofrendo.
O bullying é mais corriqueiro do que imaginamos e essa violência é vista como uma brincadeira, mas é fato que afeta demasiadamente quem é o alvo; os jovens agem sempre em grupos e escolhem a quem querem humilhar, seja o mais quieto, o diferente, o que não se enturma, é um bando de adolescentes agindo de forma irracional.
"Depois de Lúcia" é um filme doloroso, pesado e que culmina num fim surpreendente. A ausência de trilha sonora só faz aumentar a angústia, inclusive a impactante última cena, que termina apenas com o som do motor do barco em que o pai de Alejandra dirige.
É uma obra necessária que retrata as crueldades do bullying e as maneiras que cada um lida com o luto.
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