segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Entre os Muros da Prisão (Les Hauts Murs)

"Entre os Muros da Prisão" (2008) é um filme completamente emocionante, em que cada cena foi feita para nos gerar sensações diversas. O clima e a fotografia dão um ar de melancolia. Já no início somos advertidos de que a história é baseada em fatos reais. O que só faz aumentar a tristeza do que acontece entre os muros daquela prisão. É um filme minucioso em que detalhes fazem toda a diferença. Os olhos do protagonista nos faz perceber muitas das coisas que não são ditas em palavras.
A situação é a seguinte: França, anos 30, um menino sujo e maltrapilho corre até a praia. Olha sorrindo para o mar durante breves segundos, até perceber que está sendo perseguido por guardas a cavalo. Leva um golpe de fuzil no rosto e a cena escurece. Durante a 2ª Guerra Mundial, os órfãos dos combatentes franceses eram enviados a Centros de Educação Vigiada. Aos 14 anos, Yves Tréguier já passara por vários, sendo transferido sempre que tentava fugir. Seu sonho era chegar ao porto e embarcar num navio para Nova Iorque. Guardava com carinho um atlas, onde percorria imaginariamente a viagem. A trajetória do protagonista Tréguier, por sua vez, vai repetir o mesmo percurso de tantos outros personagens de dramas prisionais: a chegada de um novo detento, a violência sofrida pelo novato por parte de um grupo de internos, a tentativa de sodomização, os vínculos de amizade, e a opressão promovida pelos funcionários do centro.
A prisão do título é tipo uma escola de correção da época, em que jovens considerados rebeldes pelos pais ou tutores eram enviados para lá. Emile Berling interpreta Tréguier maravilhosamente, assim como todos os outros meninos, cada um com sua peculiaridade, talvez o personagem que mais chame a atenção, além de Tréguier, seja Fil de Fer, o personagem mais absurdamente triste. É um garoto inteligente, sensível e que teve boa educação, conhece música e num pedaço de papelão desenhou um piano, e enquanto dedilha o pedaço de papel assovia belas melodias eruditas. Ele é dono de uma das cenas mais tocantes. Sua mãe é uma mulher rica, diferente dos outros garotos ele foi parar lá porque o padrasto não o suportava em casa. A aparição de sua mãe na trama é de arrepiar, impossível não se emocionar diante os diálogos.

Muitos garotos adquiriram uma personalidade criminosa devido a rigidez e repressão, outros ficaram profundamente deprimidos. O que fazia eles esquecerem um pouco a realidade era o trabalho e a cumplicidade que se criava entre eles, como no caso de Tréguier e Blondeau. Os centros de educação vigiada foram fechados apenas em 1979.
"Entre os Muros da Prisão" nos faz lembrar da inadequação dos reformatórios brasileiros, com pessoas incapacitadas para lidarem com adolescentes rebeldes e problemáticos em que a vida não deu um minuto de trégua. Uma coisa é certa: autoritarismo e violência não corrige, é preciso rever certos conceitos. Repreender é um ato falho, quanto mais você proíbe mais revolta é criada. E os meninos do filme mostraram exatamente isso, o desfecho é uma pequena amostra do que esse sistema pode acarretar. Há também a informação ao final do longa de que Yves Tréguier se tornou escritor com o pseudônimo de Auguste Le Breton.

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